04/09/09 |
Nahum Sirotsky, de Tel Aviv
Há 150 anos, em Titusville, Pensilvânia, Estados Unidos, naqueles tempos sustentada por atividades madeireiras, Edwin Drake resolveu meter um cano na terra para tentar encontrar algum produto que substituísse o escasso óleo de baleia como combustível para lampiões. Nunca se explicou a inspiração que teve além do desespero da falta de iluminação. E a uma profundidade de cerca de 30 metros atingiu um líquido escuro, batizado de petróleo, e mudou o mundo para se mpre.
O Chron.com, website do Houston Chronicle, website de diário de Houston, Texas, não esqueceu a data. E não esqueço a lição fundamental para qualquer jornalista que se preze de que nada se cria, nada se perde, tudo se copia (antigamentamente, todo o repórter sabia o que era "suite", tradução: continuação). Achei oportuno lembrá-lo.
O primeiro poço produzia 25 barris por dia. Hoje o petróleo é fonte de 30% da energia que move o mundo. O produto mais estratégico. Mas Drake morreu 20 anos depois na mais completa miséria.
Como sempre é recordado, o petróleo fez a riqueza de países de lideranças e sistemas democráticos e a desgraça de autocracias. Basta comparar Estados Unidos e Arábia Saudita. Quem não for preguiçoso tem todos os dados clicando no google. Pouco depois de descoberto o petróleo as democracias aliadas ganhavam a Primeira Guerra Mundial devido seus recursos petrolíferos.
O chamado ouro negro motivou incontáveis guerras e jogadas diplomáticas. Nunca faltaram corruptos ou corruptores. Confusões. Terminada a Primeira Guerra a Grã-Bretanha forçaria a Turquia, formada por sobras do gigantesco Império Turco-Otomano aliado da derrotada Alemanha, a ceder-lhe de Mosul, até hoje rica em óleo, que viria a ser um dos três territórios que compõem o Iraque, no lugar da Babilônia. A divisão do Oriente Médio sobre o qual dominavam os otomanos refletiu interesses britânicos em petróleo e no caminho para seu amplo império. O Japão iniciou sua expansão que resultaria na guerra do Pacífico com os americanos. Adolf Hitler, conquistador da Europa invadiu a Rússia para garantir petróleo.
Do petróleo nasceu a petroquímica, o combustível, o lubrificante, remédios e o plástico. É a fonte de grande parte do que chamamos de desenvolvimento. A fonte da mobilidade de nossa civilização: carros, navios, aviões. Dois terços são usados em meios de transporte. O consumo americano é em transportes. Só 2% é utilizado em produção de energia.
A pressão do consumo levou o preço do barril a US$ 150, que caiu com a recessão. A volta do crescimento econômico poderá produzir preços ainda mais elevados pela exploração do receio de que possa faltar. Outro fator inegável é o de que a baixa dos preços reduziu a atualização dos meios de produção. Consequência inevitável será a de aumentos de preços na retomada do crescimento que será inevitavelmente prejudicado.
A Agência Internacional de Energia inspecionou 800 campos de produção concluindo que a produção da maioria está em rápido declínio. Para que a demanda futura previsível possa ser atendida, o equivalente a quatro Arábias Sauditas precisará produzir até 2030, o que parece inviável. O pré-sal do Brasil ainda é uma grande probabilidade. O ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al Naimi, previu "uma catastrófica escassez". Apesar de previsões de ser essencial e urgente reduzir o consumo, o contrário acontece. Considerando-se apenas veículos automotores calcula-se que 50 milhões de carros a gasolina entram em mercado a cada ano. E a vida útil de cada um deles é de 15 anos.
Reduzir o consumo não se revela uma solução. A Organização de Países Produtores de Petróleo (OPEP) vem reduzindo sua oferta em função da procura. A oferta já é hoje bem menor do que no pas sado. Sendo um poderoso cartel, a OPEP pode comandar o mercado. Os especialistas dizem que o único meio de enfraquecer a OPEP é a produção de mais veículos com o uso de outros combustíveis. E já existem. Já foi dito que a tecnologia é a única arma de defesa dos consumidores. Da tecnologia depende inclusive a exploração do potencial de reservas submarinas além de combustíveis advindo de pesquisa.
É possível, mas urge tempo o que se expressará em preços. Gal Luft, editor do Journal of Energy Security, diretor do Institute for the Analysis of Energy Security e co-autor do livro Energy Security Challenges for the 21st Century foi a origem da maior parte das informações que repasso. Quem precisa e quer saber não terá dificuldades em fazer contato. Vale a pena.
Nahum Sirotsky é correspondente de Zero Hora no Oriente Médio e colunista do portal "Último Segundo".