A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) antecipou de 18 de novembro para a próxima sexta-feira a reunião dita de emergência marcada para discutir as reações possíveis à queda livre dos preços da commodity. O tipo de petróleo mais valioso, o West Texas Intermediate, negociado para novembro, caiu quinta-feira a menos de US$ 70 o barril, quase 7% num só dia e mais de 50% em relação ao pico de US$ 147 o barril, atingido em 11 de julho.
A queda dos preços do petróleo é conseqüência da crise financeira internacional e de seus efeitos negativos sobre a demanda, mas também do aumento, divulgado quinta-feira, dos estoques de óleo bruto e de derivados nos Estados Unidos, os maiores consumidores.
O ministro do Petróleo da Nigéria, Odein Ajumogobia, declarou à agência Dow Jones após a decisão do cartel que "as nações da Opep dependem das receitas com petróleo e, diante da queda dos preços até agora, estamos muito preocupados". Alguns países produtores, de fato, se tornaram extremamente vulneráveis às oscilações dos preços do óleo, cuja receita determina o equilíbrio, ou não, de suas contas nacionais. Uma análise da Thomson Reuters e PFC Energy, divulgada esta semana, mostrou que as estabilidades financeiras do Irã e da Arábia Saudita não são afetadas enquanto o preço do barril não cair abaixo de US$ 55; a da Nigéria, abaixo de US$ 68; e a da Venezuela, abaixo de US$ 95.
Os países que detêm maiores reservas cambiais serão, inicialmente, os menos atingidos, mas, se os preços não se recuperarem no médio prazo, mesmo eles terão de diminuir drasticamente suas importações e seu nível de consumo, para evitar a deterioração de seus balanços de pagamentos. Países que dependem da receita do petróleo para custear programas de alívio de graves problemas sociais, como a Venezuela e a Rússia, também serão muito afetados.
A Venezuela, onde o petróleo representa 75% das exportações, é particularmente vulnerável. A estatal PDVSA, que tem financiado as extravagâncias políticas do governo de Hugo Chávez, este ano já tomou US$ 3,5 bilhões de duas tradings japonesas, mais US$ 4 bilhões do governo chinês, rolou um empréstimo de US$ 1,1 bilhão obtido com investidores franceses e negocia um novo crédito, entre US$ 1 bilhão e US$ 4 bilhões, com a suíça Glencore, especializada em commodities. A maior parte dessas operações será quitada com petróleo, constituindo-se, em verdade, em antecipação onerosa de receita. O governo autoritário corre o risco de sofrer forte abalo, pois as reservas cambiais são de apenas US$ 38 bilhões, segundo fontes oficiais.
Com reservas 15 vezes maiores, de US$ 556 bilhões, segundo dados do dia 17, a Rússia terá folga para se ajustar à queda, mas sua dependência do petróleo também é enorme. Das exportações totais de US$ 237 bilhões, no primeiro semestre, dois terços, US$ 159 bilhões, vieram das vendas de óleo bruto, gás natural e derivados de petróleo. O superávit comercial de US$ 200 bilhões dos últimos 12 meses e o superávit de US$ 100 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos dependeram quase totalmente do petróleo.
A situação é grave o bastante para que o presidente da Agência Internacional de Energia (IEA), Nobuo Tanaka, procure desestimular ações precipitadas dos produtores, cuja principal arma é a redução da oferta para segurar os preços. Na quinta-feira, Tanaka sugeriu que a baixa atual é temporária e que os preços do petróleo voltarão a subir a médio e a longo prazos, pois os produtores estão investindo pouco. "A era dos preços baixos de energia acabou", relembrou o dirigente da IEA, entidade financiada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Os diagnósticos da Opep e da IEA coincidem num ponto: a demanda tende a cair no curto prazo. E a queda será tão mais intensa quanto maior for a recessão nos países industrializados.
A queda dos preços do petróleo tem pouco impacto imediato sobre o Brasil, que ganha como importador da commodity e perde com eventual redução dos dividendos da Petrobrás pagos à União. Mas, se o preço do barril se mantiver na casa dos US$ 60, ou cair mais ainda, os planos de exploração da camada pré-sal terão de ser revistos.
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