em homenagem aos visionários que vêm lutando pelo crepúsculo dos deusesda alta finança
em 1850, Wagner publicou “O Judaísmo na Música” ("Das Judentum in der Musik") um ensaio onde atacou fortemente a influência judaica na cultura e na arte alemã. Na obra ele retrata os Judeus como "ex-canibais, treinados para ser agentes de negócios da sociedade". A frase não pode ser lida fora do contexto: na verdade era concretamente uma crítica a Giacomo Meyerbeer (aliás Yaakov Liebmann Beer filho do poderoso industrial Judah Herz Beer) e a Félix Mendelssohn (aliás Jakob Ludwig filho do proeminente banqueiro Abraham Mendelssohn-Bartholdy), ambos compositores judeus contemporâneos associados ao teatro operático comercial conotado com os interesses económicos dos judeus. A maior parte das óperas de Wagner, mais particularmente Parsifal, Lohengrin e de igual modo Tannhäuser , são parábolas para ilustrar alguns mistérios do Cristianismo desancando a óptica esotérica dessa corrente de adaptações históricas de lendas e mitos ancestrais com que se foi constituindo e institucionalizando o Poder à sombra do sagrado. As peças não têm qualquer relação com ideias anti-semitas. Marx chamava ao seu opositor Lassale, com humor, “o nosso judeuzinho descendente do cruzamento com negros” – era inerente à época ridicularizar aquela gente esquisita que se segregavam a eles próprios em guetos só saindo da clausura voluntária por via do negócio e da usura; Mas no século XX, pela sua própria natureza, os judeus guiados pelo Sionismo tornaram-se incapazes de se lembrar da essência das coisas que politicamente não lhes convém lembrar. A diabolização de Wagner pelo judaismo ortodoxo é tão ilegitima quanto a apropriação que pretendem fazer da sua obra todos os mais variados matizes de neo-nazismo. Vejamos.
“Richard Wagner representou para a cultura alemã do século XIX o mesmo que Giuseppe Verdi representou para a cultura italiana: uma espécie de ícone cultural, e aglutinador da identidade nacional quando o país ainda estava em formação” (da wikipedia) mas, embora o nazismo só tenha tomado forma 50 anos depois da morte do compositor, o que prevalece é a mitologia espalhada pelo actual tardo nacionalismo judio-israelita – ainda hoje a música de Wagner é proscrita em Israel, porque se diz na propaganda que “os oficiais nazis transformaram em hinos as suas obras”. Esta é realmente uma visão fantástica e um entendimento retrógado, mentiroso e tacanho da essência universal das obras de Arte.
A verdadeira história da Nova Arte
Wagner defendia que a arte devia ser a expressão mais pura da alegria geral da comunidade, devendo ser acessível a todos e não somente aos ricos. Deste modo, não dependeria dos interesses comerciais mas deveria ser obra da comunidade inteira como era no tempo das Tragédias da Grécia Antiga, visto que os espectáculos teatrais eram a expressão da consciência mais profunda. Era todo um povo quem se movia para participar dos espectáculos, enquanto que no presente da Europa somente os ricos usufruíam deles. Aquilo que para os gregos antigos era sagrado, religioso, passou a ser apenas divertimento entre os fidalgos europeus que frequentavam as peças e concertos apenas para fugirem momentaneamente do tédio existencial e badalar os seus luxos. Enquanto que para os gregos a educação artística visava o corpo e o espírito dos seus cidadãos, ela estava agora reduzida aos interesses da lógica comercial. Aos que lhe chamavam a atenção que na Grécia tão exaltada predominava a escravidão Wagner respondia que modernamente também aqui imperava uma servidão: a escravidão ao Dinheiro.
Arte e Revolução
Por altura da publicação do seu primeiro ensaio denominado “Die Kunst und die Revolution” (Arte e Revolução, traduzido pela Antígona), redigido em Junho de1848, estava-se em pleno período de conflagração revolucionária na Alemanha. Wagner afirmou aí que a forma operática do Teatro é algo bem mais profundo do que buscar o pretenso enobrecimento do gosto e das belas maneiras. As representações não deveriam ser apanágio de uma élite endinheirada e entediada mas sim expressão máxima da colectividade organizada. Em Fevereiro daquele mesmo ano, havia surgido o "Manifesto Comunista" escrito por dois revolucionários que também se iriam tornar famosos no mundo inteiro: Karl Marx e Friedrich Engels. Todavia, a obsessão de Wagner era marcadamente estética e não política e social como a dos seus então irmãos de causa.
O clima de conformismo e de mediocridade que caracterizou a época da Restauração na Europa (1815-1848), não condizia com as suas ambições. O jovem artista sentia-se tolhido pelo ambiente acanhado e provinciano da Alemanha daqueles tempos. Não demorou muito para que o mestre-capela do reino da Saxónia se sentisse atraído pela causa da revolução social. Para acelerar ainda mais a sua decisão de se inclinar pelo radicalismo, travou relações com o anarquista russo Michael Bakunin foragido da Rússia czarista acolhido em Dresden por simpatizantes da causa. Quando eclodiu a Revolução de 1848, Wagner ingressou na Vaterlandverein, uma agremiação patriótica que defendia a democracia e, em seguida, ingressou na Guarda Comunal Revolucionária uma milícia formada em Dresden pelos cidadãos sublevados contra o governo. Durou pouco o sonho dos revolucionários. Em Maio de 1849, o rei da Prússia Frederico Guilherme IV e as suas tropas invadiram a Saxónia para pôr fim ao levantamento. Wagner e a sua mulher Minna tiveram então que partir para o exílio.
Os seus outros dois textos teóricos – “A Obra de Arte do Futuro” (Antígona), e “Ópera e Drama” datam também desse tempo no qual o impulso revolucionário latejou fortemente dentro dele. Quando, anteriormente, Wagner concluira um projecto para o teatro nacional alemão em Dresden, percebera as limitações impostas pelo presente. Influenciado pelas suas leituras das tragédias gregas passou a sonhar com a possibilidade de poder vir a restaurar no futuro a poderosa dramaturgia de Ésquilo e de Sófocles que desaparecera da encenação ocidental. Nada em Dresden ou na Alemanha como um todo indicava que aquilo fosse possível. Mas mesmo assim, imaginou uma solução claramente utópica para que o teatro clássico, reconvertido em formas modernas, pudesse novamente renascer: era preciso forjar uma Nova Humanidade, uma nova relação entre o Homem e o Estado. Somente assim, com uma transformação política radical, poderia haver uma expectativa de surgir uma Civilização limpa, sã e enamorada da Arte – estes foram os princípios que presidiram à criação da Ópera de Bayreuth.
(ler mais: da biografia de Richard Wagner: "O Povo como Artista Supremo") .
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