"No documento, sou tratado como um preceptor.
Ele resume meus artigos e recomenda seguir
meus passos na denúncia da cumplicidade
entre Daniel Dantas e os mensaleiros"
Protógenes Queiroz é a Glória Perez da espionagem nacional. É o "Slum-dog Millionaire" da PF – e bota "Millionaire" nisso. Ele sempre dá um jeito de citar Mahatma Gandhi. Ele sempre dá um jeito de usar um termo hinduísta. Se é assim, minha coluna, neste cantinho de página, é seu retiro indiano, é seu ashram. E eu tenho de ser considerado o seu Sathya Sai Baba. O seu guru.
Na última semana, o conteúdo do computador de Protógenes Queiroz foi encaminhado à CPI dos Grampos. Nele, há um documento intitulado "Análise de dados de fontes abertas". Tem 43 páginas, seis das quais dedicadas a mim. Quantas linhas sobre meus relacionamentos amorosos? Zero. Quantas linhas sobre meu talento para os negócios? Zero. No documento de Protógenes Queiroz, sou tratado cerimoniosamente: como um guia, como um mestre, como um preceptor. De fato, ele resume detalhadamente meus artigos, reunidos no livro Lula É Minha Anta, e recomenda seguir meus passos na denúncia da cumplicidade entre Daniel Dantas e os mensaleiros.
Alguns dias atrás, durante um jantar em sua homenagem, Protógenes Queiroz declarou o seguinte: "O Brasil progrediria 100 anos se fizesse o impeachment de Lula". Cem anos é demais. É superestimar o papel de Lula na história nacional. Quem sabe 100 dias. Ou 100 horas. Mas Protógenes Queiroz acolheu meus ensinamentos e repete obedientemente meu antigo mantra – impeachment, impeachment, impeachment –, que já caiu em desuso. Sobramos apenas nós dois nessa Mumbai institucional: Protógenes Queiroz e eu.
A CPI dos Grampos recebeu outro documento do computador de Protógenes Queiroz. É aquele que escarafuncha a intimidade de Dilma Rousseff. Está armazenado na pasta "Zeca Diabo", o nome dado por ele a José Dirceu. Trata-se de um relatório clandestino, que parece reproduzir um diálogo entre um informante do delegado e alguém com acesso ao ambiente da ministra. Dilma Rousseff é associada a dois nomes. O primeiro nunca dependeu dela para fazer carreira, por isso tenho de calar o bico. O segundo – Valter Cardeal – é mais constrangedor. Em 2003, ele foi nomeado por Dilma Rousseff para a diretoria da Eletrobrás. No mesmo período, tornou-se presidente do conselho da CGTEE e da Eletronorte. Em 2006, ganhou o cargo de presidente da Eletrobrás. Sempre na esteira de Dilma Rousseff. No ano seguinte, foi acusado de envolvimento com o esquema de propinas da Gautama, depois de ser grampeado pela PF. Sim: ele foi grampeado. Sim: pela PF.
Protógenes Queiroz tem de responder a duas perguntas na CPI dos Grampos. Primeira: quem é o autor do relatório sobre Dilma Rousseff? Segunda: o que ele pretendia fazer com isso? Namastê.