Política
é a vez dos povos Europeus perceberem que estão a ser lançados no 3º mundo para salvar os bolsos da elite global
Esta introdução de John Pilger à Nova Ordem Mundial tem quase 8 anos:
“Quando o vice-presidente Dick Cheney afirmou que a “guerra ao terrorismo” poderia durar cincoenta anos ou mais, as suas palavras evocaram a grande obra profética de George Orwell “1984”. Ao que parece, teremos de viver na
ameaça e ilusão da guerra permanente, de forma a justificar o aumento de controlo sobre a sociedade e a repressão por parte do Estado; e isto enquanto o Grande Poder persegue o seu objectivo da supremacia global.
Washington é transformada em “cidade principal da
Airstrip One”, e a culpa de todos os problemas é lançada sobre o “inimigo”, o malvado Golstein, como lhe chamava Orwell. Esse inimigo tanto poderia ser Osama Bin Laden, como os seus sucessores, agrupados no “
Eixo do Mal”.
Em “
1984” três slogans dominam a sociedade; guerra é paz, liberdade é escravidão e ignorância é força. O slogan de hoje, “
guerra ao terrorismo”, inclui igualmente uma inversão de significado. A guerra é terrorismo. A arma mais potente nesta guerra é a pseudo-informação, que difere, relativamente às discrições de Orwell, unicamente na forma, atirando para o esquecimento verdades inaceitáveis e o senso comum histórico. A dissidência é permissível dentro de limites “consensuais”, reforçando a ilusão de que a informação e o discurso são “livres”. Os ataques de 11 de Setembro de 2001 não “mudaram tudo”, mas aceleraram a continuidade dos acontecimentos, proporcionando um extraordinário pretexto para destruir a democracia social. O trabalho de enfraquecimento da “
Bill of Rights” nos Estados Unidos, em conjunto com o desmantelamento dos julgamentos com júri e de uma enorme diversidade de liberdades correlacionadas, fazem parte da
redução de democracia ao ritual eleitoral: isto é, à competição entre partidos, impossíveis de distinguir, pela administração de um
Estado de ideologia única.
Queimando as Constituições nacionaisCruciais para o crescimento deste “
Estado empresarial” são os conglomerados de comunicação social, detentores de um poder sem precedentes, incluindo a Imprensa e a Televisão, publicação de livros, produção cinematográfica e bases de dados. Eles fornecem um mundo virtual de “eterno presente”, como o definiu a revista Time: política via média, guerra via média, justiça via média e mesmo luto via média. A “economia global” constitui o seu mais importante empreendimento de comunicação social. “
Economia global”
é um termo orwelliano. À superfície, designa transações financeiras instantâneas, telemóveis, McDonalds, Starbucks, férias marcadas via internet. Sob este brilho, porém, representa a globalização da pobreza, um mundo em que a maior parte dos seres humanos nunca realiza uma chamada telefónica e vive com menos de dois dólares por dia, um mundo em que 6.000 crianças morrem todos os dias de diarreia, devido ao facto de a grande maioria delas não dispor de acesso a água potável.
Neste mundo, que não é observado pela maioria de nós, habitantes do Norte global, um sofisticado sistema de rapina forçou mais de noventa países, desde os anos 80, a
programas de “
ajustamento estrutural”, alargando, como nunca até hoje, o fosso entre ricos e pobres. Este sistema é designado por “construção de nações” (
nation building) e “bom governo”, pelo “quarteto” que domina a Organização Mundial de Comércio (Estados Unidos, Canadá,Europa e Japão) e pelo
triunvirato de Washington (Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Departamento do Tesouro dos EUA), que controlam até mesmo aspectos de pormenor das politicas governamentais dos países em vias de desenvolvimento. O seu poder provém em grande medida de uma dívida impossível de saldar, que força
os países mais pobres a pagar todos os dias 100 milhões de dólares aos seus credores ocidentais. O resultado é um mundo em que uma elite de pessoas controla 80 por cento das riquezas da Humanidade.
A promover tudo isto estão as
empresas de comunicação social multinacionais, tanto americanas como europeias, proprietárias ou gestoras das principais fontes informativas a nível mundial. Estas transformaram uma grande parte da “
sociedade da informação” numa era dos Média na qual uma extraordinária tecnologia permite a
repetição incessante de informação politicamente “
segura” que é aceitável para os “construtores de nações”. No mundo ocidental, somos treinados para encarar as restantes sociedades em termos da sua utilidade ou ameaça para “nós” e para considerar as diferenças “culturais” como mais importantes do que as forças politicas e económicas pelas quais nos avaliamos. Aqueles que dispõem de recursos sem precedentes para compreender isto, incluindo muitos que ensinam e fazem investigação em universidades de nomeada,
suprimem os seus conhecimentos em público; talvez nunca até hoje tenha existido
um tão grande silêncio”
John Pilger, “
O Mundo nas Mãos,
O Que os Média não Dizem sobre os Novos Donos do Mundo”,
2004, edit.Bizâncio.
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