BRASÍLIA - Até por falta de outra agenda enquanto o Banco Central
duela com o mercado, Dilma Rousseff segue com sua cruzada para
distinguir-se do governo Lula na política externa. É fácil e não dói.
Muito bem, agora temos uma presidente que se preocupa com os direitos
humanos, que não irá tolerar abusos mesmo em parceiros como o Irã.
Certo?
Calma lá. Falemos de Cuba, por quem o coração esquerdista do governo
bate tão forte. Na semana em que a ilha dos irmãos Castro encena mais
uma etapa da pantomima de "mudança", seria muito interessante saber o
que de fato Dilma tem a dizer sobre tudo isso.
Porque posições formais, como a expressada ontem nesta Folha pela
assessoria do Itamaraty, parecem chover no molhado. "Caminho a
percorrer" em direitos humanos é um eufemismo ofensivo aos mortos,
presos e calados pela ditadura comunista cubana -sejam quantos forem,
não há diferença entre uma e 100 mil vítimas quando o assunto é
violência política.
Cuba está no centro do espírito petista. Seus militantes enchem os
olhos de lágrimas ao exultar gente como Che Guevara, basta ir a um
evento do partido e ver as camisetas à venda. Quando presidente,
sempre que podia Lula dava mostras de seu amor pelo regime local. Até
congratulou-se com a gerontocracia insular enquanto morria um
dissidente, devidamente tripudiado como criminoso comum.
OK, vamos considerar que Dilma não é uma petista histórica, mas de
ocasião. Importa pouco: a presidente militou em um grupo que queria a
implantação de uma ditadura comunista não muito diferente da que está
definhando em Cuba agora. Os métodos de seus colegas, basicamente o
assassinato e a espoliação de opositores, não diferiam do "paredón" e
quetais.
Os anos passaram, e o mundo mudou. Cuba agora finge mudar, na ilusão
de virar um misto de China e cassino. Dilma terá mudado?