A entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED) continua surpreendendo. Em maio, desembarcaram no Brasil quase US$ 4 bilhões - um recorde para o mês. Apenas nos cinco primeiros meses do ano entraram US$ 27 bilhões, o equivalente a 2,7% do PIB, e, no período de 12 meses terminados em maio, foram US$ 64 bilhões (2,9% do PIB).
As projeções do Banco Central para todo o ano estão aquém da realidade. Não passam de US$ 55 bilhões e o próprio mercado financeiro - que não leva muito a sério as estimativas para este item - prevê apenas US$ 51,85 bilhões, conforme aponta a Pesquisa Focus, do Banco Central. Muito provavelmente, o número final deste ano deverá ficar entre US$ 65 bilhões e US$ 70 bilhões.
Alguns analistas, entre eles o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Olivier Blanchard, suspeitam de que parte desse investimento não passa de especulação disfarçada com juros. Como as aplicações de curto prazo passaram a ser taxadas com 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), muito capital estrangeiro pode mesmo ter preferido entrar como IED para tirar proveito dos juros mais altos no mercado interno.
Uma das consequências dessa farta entrada de capitais é a forte valorização do real (baixa da cotação do dólar no câmbio interno), que tira competitividade do setor produtivo brasileiro.
Blanchard chegou a propor submeter todo o IED à taxação pelo IOF. Trata-se de uma ideia leviana, porque o Brasil não pode se dar ao luxo de desestimular o investimento estrangeiro. Outros economistas, como o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, sugerem que o Banco Central permita a entrada com isenção do IOF somente dos capitais desejáveis. Essa posição pressupõe que o governo defina uma política de investimentos estrangeiros e seja capaz de determinar o que é bom e o que não é para o País.
Seria uma tarefa complicada e inútil. Nada menos de 60,3% dos US$ 26,5 bilhões que entraram no Brasil nos primeiros cinco meses deste ano foram canalizados para o setor de serviços. Aí entram atividades como telecomunicações, eletricidade, comércio, finanças, pesquisa, construção, transporte, educação e serviços de escritório. Apenas 27% se destinam à indústria e os outros 12,7%, para mineração e agricultura.
Não passaria de despropósito exigir que cada projeto de investimento fosse previamente examinado por um burocrata com função de conferir a identificação do investimento com o interesse nacional. E seria tarefa inútil porque, uma vez dentro do País, não há como monitorar a aplicação de um dinheiro que não pode ser carimbado. O investimento que supostamente tenha chegado para a ampliação de uma indústria poderia depois ser usado para a compra de terras.
No mais, o Brasil conta com uma baixa poupança interna, não superior a 17% do PIB. Precisa de muito capital para desenvolver as áreas do pré-sal; para as obras do PAC, da Copa do Mundo e da Olimpíada; para projetos de infraestrutura; para aumentar a produção de etanol; e para desenvolver a educação. O Brasil pode passar ao mundo o recado de que esnoba a entrada de capitais externos.
CONFIRA
Deu errado
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, admite que o aumento para 3% da taxação com o IOF dos pagamentos no exterior feitos com cartão de crédito estão dando errado. As despesas com viagens em maio cresceram 43,9% em relação ao mês em 2010, mas os pagamentos com cartão subiram só 33,9%. É o cartão sendo substituído pelo pagamento em dinheiro. Não era o que o governo pretendia quando elevou a taxação.