Política
É o novo mix Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 30/08/2011
O discurso é novo entre os economistas de esquerda e o passo dado está na direção correta.
Cabem apenas três críticas. A primeira: se esta é a política adequada, o governo do PT deveria ter enveredado por esse caminho bem antes. Segunda crítica: se é para tirar proveito do espaço aberto pela crise externa, então caberia carregar na dose, até porque este reforço fiscal pode ser insuficiente. Terceira: não garantir o mesmo compromisso para 2012 sugere que o governo voltará à gastança para financiar o jogo eleitoral de suas bases políticas.
Há sete dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisava no Congresso que a decisão do governo Dilma é mudar o mix da política econômica. Em vez de insistir em expansão das despesas públicas e em contração da política monetária (política de juros), agora a determinação é fazer o contrário. Ou seja, a resposta para o agravamento da crise externa é adotar uma política anticíclica oposta à adotada em 2008 e 2009.
O ministro Mantega apresentou justificativas sensatas, o que lembrou os tempos em que a Fazenda era comandada por Antonio Palocci: (1) é preciso impedir a expansão das despesas correntes do governo e elevar o superávit primário (sobras de arrecadação para pagamento da dívida), de maneira a dar espaço para o corte dos juros pelo Banco Central; (2) a redução das despesas com juros abrirá caminho para o aumento do investimento público; e (3) a ordem é enfrentar a crise não com crescimento das despesas públicas, mas com estímulos monetários (baixa dos juros).
O reforço ao superávit primário deste ano é de R$ 10 bilhões, algo entre 0,25% e 0,30% do PIB. Traz o defeito de ser garantido apenas pelo aumento da arrecadação e não (também) pela compressão das despesas correntes do setor público.
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) já garantiu juros básicos próximos de zero por cento ao ano por mais dois anos (até, pelo menos, meados de 2013) por enxergar crise braba nesse período. O governo Dilma não precisaria de mais horizontes para esticar o alcance da decisão ontem anunciada. Se essa é a melhor atitude a tomar para enfrentar a crise externa, então deveria estendê-la para 2012 e 2013. Mas aí apareceu o vício antigo: 2012 é ano eleitoral e tal...
Em todo o caso, a principal novidade está em que o governo do PT parece ter entendido que os tais juros escorchantes vigentes no Brasil têm a ver com gastança federal. Se forem sinceros, os economistas de esquerda no governo Dilma terão admitido que equilíbrio fiscal é bem mais do que conversa fiada de neoliberal.
E parecem ter renunciado à pregação do falso keynesianismo em voga - o uso do argumento de que é preciso aumentar os gastos públicos para garantir o investimento e o crescimento econômico. Mantega está dizendo o contrário: menos dívidas públicas e menor pagamento com juros darão mais condições de investimento para o governo.
Em todo o caso, quem sabe este seja somente o começo. O governo Dilma, aparentemente, entendeu o tamanho da enrascada dos países ricos que, em nome da segurança social, deixaram rolar as despesas públicas e, hoje, estão atolados em dívidas e em juros a pagar.
Parece ter, enfim, percebido que o fator que garante crescimento sustentado, mesmo em tempos de crise, é o equilíbrio das finanças públicas - o contrário do que foi feito nos três últimos anos.
CONFIRA
Deixa pra lá
A administração anterior do Banco Central, sob a presidência de Henrique Meirelles, evitava críticas à gastança federal para não melindrar a área da Fazenda. Agora fica reconhecido pelo ministro da pasta que a leniência fiscal bloqueia a queda dos juros básicos (Selic) conduzidos pelo Banco Central.
É muito mais
O governo da presidente Cristina Kirchner aprovou um reajuste de 25% no salário mínimo da Argentina. É o reconhecimento implícito de que o índice oficial da inflação é manipulado. Nenhum governo concordaria em dar aumento real (descontada a inflação) de 14,5% no mínimo e nas aposentadorias se a inflação fosse de somente 10,5%, como apontam os números oficiais.
Multa neles
Há alguns meses, consultorias independentes como a Abeceb, do ex-secretário da Indústria Dante Sica, foram multadas por projetar uma inflação muito acima da admitida pelo governo de Cristina Kirchner.
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