Na montagem do governo Lula, coube a grupos de esquerda o controle do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Incra, para atender ao MST com generosos repasses de dinheiro público; e, ainda, um canal de influência na política externa, com a criação de uma espécie de Itamaraty do B, cujo controle está nas mãos do assessor especial da presidência Marco Aurélio Garcia, próximo de Hugo Chávez. Com isso, Lula pôde seguir uma política econômica minimamente sensata, sem maiores problemas a não ser algum fogo amigo de tempos em tempos.
A aproximação com o Irã atende ao antiamericanismo, traço marcante desse bloco existente no governo.
A passividade diante da morte de mais um dissidente cubano nos cárceres dos irmãos Castro, quando Lula e comitiva desembarcavam em Havana, ilustra este posicionamento da política externa do Itamaraty do B. Quer dizer, em tese, a defesa dos direitos humanos é importante, menos quando se trata dos compañeros ideológicos, como os Castro e Hugo Chávez.
É constrangedor ver Lula ao lado de Raúl Castro quando o presidente cubano afirmou que, "em meio século, não assassinamos ninguém. Aqui ninguém foi torturado.
Aqui não houve execução extrajudicial".
Com a aproximação das eleições, entende-se que Lula procure fazer acenos a este lado da geografia ideológica, a fim de manter a tropa unida em torno da candidatura Dilma Rousseff, também a ser apoiada pelo PMDB fisiológico e sublegendas.
Mas a possibilidade de o Brasil assinar um acordo nuclear com o Irã vai além de qualquer limite. A hipótese, negada pelo governo, se dá num momento crucial em que países de peso, como Estados Unidos, França, Inglaterra e até a Rússia, juntam forças para pressionar o regime ditatorial e teocrático de Ahmadinejad a abandonar o projeto de desenvolvimento de armas atômicas. E o Brasil, em nome de uma suposta afirmação na política internacional, se descredencia aos olhos do mundo ao se tornar um dos legitimadores do programa nuclear iraniano. Pois, mesmo se a hipótese do acordo não se confirmar, é veloz a aproximação entre Brasília e Teerã, coerente com a política externa ideológica do Itamaraty do B. O presidente Lula visitará o Irã em maio.
Dos 15 países que atualmente compõem o Conselho de Segurança da ONU, cinco são tidos como relutantes à adoção de novas sanções contra o Irã: China (membro permanente), Brasil, Turquia, Líbano e Bósnia (membros rotativos).
São necessários nove votos — e, claro, nenhum veto — para que uma resolução com novas sanções seja aprovada. Não por acaso, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, estará em Brasília na semana que vem e deverá pressionar o governo brasileiro a apoiar a comunidade internacional contra o Irã.
Não pode passar despercebido, também, que há no governo autoridades, como o atual ministro de Assuntos Estratégicos, o ex-embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que defendem abertamente o descumprimento do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), do qual o Brasil é signatário, e que estará em rediscussão em maio.
Aliar-se ao que existe de pior na comunidade internacional, em decorrência do antiamericanismo militante existente no governo e por tática eleitoreira, é grave desserviço ao Estado brasileiro, que é perene, ao contrário dos governos