Empreguismo estatal O Estado de S. Paulo EDITORIAL,
Política

Empreguismo estatal O Estado de S. Paulo EDITORIAL,


Contratar pessoal foi uma das atividades principais das empresas controladas pelo governo federal entre 2003, primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e 2007. Nesse período, o número de funcionários das companhias federais aumentou 15,2%, de 381.911 para 439.802. No setor financeiro, o aumento ficou um pouco abaixo da média, com expansão de 14,6%. No setor produtivo, o quadro aumentou 15,5% e o número de empregados chegou a 267.464 no ano passado, segundo publicação do Ministério do Planejamento.

A expansão do emprego no setor estatal tem sido justificada, em parte, como conseqüência da substituição de pessoal terceirizado e como reflexo do crescimento econômico. Essa explicação, oferecida por funcionários do governo, está longe de ser convincente, até porque o quadro de funcionários cresceu de forma generalizada, mesmo em empresas com prejuízo, como a Manaus Energia, a Eletronorte e as Centrais Elétricas da Amazônia. O caso da Manaus Energia é dos mais interessantes. O aumento de seu quadro de pessoal, de 140%, foi o maior das estatais federais, com o número de funcionários passando de 427 para 1.027. Mas seu resultado, em 2007, foi um prejuízo de R$ 602 milhões.

Há contrastes notáveis entre empresas do mesmo setor e também de setores diferentes. O número de empregados do Banco do Brasil passou de 80.169 em 2003 para 81.642 em 2007, com variação de apenas 1,8%. O de funcionários da Caixa Econômica Federal cresceu 30,6%, de 57.382 para 74.949. É um desafio encontrar uma justificativa para uma expansão tão acentuada. O caso do Banco do Nordeste do Brasil é ainda mais intrigante: o quadro de pessoal próprio cresceu de 3.666 funcionários em 2003 para 5.726 em 2007. O acréscimo foi de 56,2% e é muito difícil descobrir, nos dados econômicos da empresa, alguma boa explicação para esse aumento. Nesse período, o lucro por empregado caiu de R$ 39 mil para R$ 23 mil. Os depósitos por empregado, de R$ 720 mil para R$ 572 mil, de acordo com o mesmo relatório do Ministério.

As maiores contratações ocorreram no Grupo Petrobrás, com expansão de 42,7%. Entre 2003 e 2007 o número de empregados subiu de 45.476 para 64.885. A campeã do emprego, em termos absolutos, foi naturalmente a empresa mais importante do grupo, a própria Petrobrás. Seu efetivo passou de 36.363 pessoas para 50.207, com variação de 38,1%. Neste ano, até outubro, segundo a informação mais recente, foram contratados mais de 4 mil novos funcionários.

O caso da Petrobrás chamou a atenção dos analistas, nas últimas semanas, porque as demonstrações financeiras do terceiro trimestre indicaram um grande aumento dos custos operacionais. Apesar de ter divulgado um lucro recorde - R$ 10,9 bilhões no período de julho a setembro - a empresa teve um mau desempenho na Bolsa, logo depois da publicação do balanço e das contas de resultados. Não basta ter lucro para atrair investidores. É preciso, também, exibir uma administração prudente e voltada para a manutenção de altos níveis de eficiência. A Petrobrás tem sido não só uma grande empregadora - mais de 25 mil funcionários desde 2002 -, mas também uma empresa generosa, capaz de conceder um reajuste salarial médio de 9,9% em setembro, acompanhado de uma bonificação de 80% do valor dos salários.

O aumento salarial e o bônus foram provavelmente calculados com base no desempenho recente da companhia. Isso parece muito razoável, mas naquele momento já se falava de uma recessão mundial iminente e o mercado de produtos básicos, incluído o petróleo, já refletia o enfraquecimento da economia nos principais mercados.

Pouquíssimo tempo se passou até a Petrobrás tornar público seu problema de caixa. Não haveria como disfarçá-lo, depois de a empresa ter procurado financiamento no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal. Esse problema de liquidez pode ter sido temporário, mas foi um reflexo da mudança da situação e da vulnerabilidade da companhia a um quadro internacional menos favorável.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode ter queixa das estatais - principalmente da Petrobrás -, pelo menos quanto a um ponto: quase todas têm contribuído para expandir o emprego, embora de maneira nem sempre eficiente. Contribuintes e acionistas têm menos motivos de contentamento.



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