Escolhas difíceis - MÍRIAM LEITÃO
Política

Escolhas difíceis - MÍRIAM LEITÃO



O GLOBO - 02/10



O desemprego na Europa permaneceu elevado em agosto. Não piorou, não melhorou em relação a julho, mas aumentou bastante na comparação com o mesmo mês de 2011, principalmente entre jovens. Apesar disso, o presidente François Hollande fez o oposto do que prometeu na campanha e anunciou corte de gastos, aumento de impostos e um plano de austeridade.

Hollande criticou durante a campanha a austeridade como estratégia para enfrentar a crise. Disse que tinha outro caminho para que a França retomasse o crescimento, o que tornaria mais fácil reequilibrar as contas. Isso é bom, teoricamente. Mas, infelizmente, não há mágica no mundo da economia. Países que fecham as contas no vermelho não podem simplesmente ampliar gastos sem combinar com os credores. O governo americano, mesmo com alta dívida e elevado déficit, consegue atrair investidores para os títulos que emite, mas, em geral, a lei da economia é dolorosa. Se um país endividado aumenta o gasto, o credor eleva os juros cobrados para a compra dos seus papéis, e isso eleva o gasto, o déficit e a dívida.

A escalada da dívida pública francesa é muito anterior à crise de 2008. Desde 2003 o país descumpre as metas do tratado de Maastricht, que estabelece nível máximo de endividamento dos países da zona do euro em 60%. De 1980 a 2007, o governo francês aumentou a dívida em mais de 40 pontos: saiu de 20% do PIB para 64%. Com a crise e o resgate ao sistema financeiro, ela saltou para 86% no ano passado, e o FMI estima que chegará 90% em 2014.

O déficit público chegou a 7,5% em 2009 e foi de 7% em 2010. O esforço de Hollande é para fechar as contas no vermelho em 5% este ano e reduzir o déficit para 3% no ano que vem. Isso deixaria a França dentro da meta limite europeia, mas o problema é como fazer isso com o país crescendo apenas 0,5% este ano. Em janeiro, a S&P rebaixou a classificação de risco da França e o país perdeu a nota máxima. Isso fortaleceu ainda mais a posição da Alemanha no bloco.

Hollande assumiu o governo francês em maio, já com uma taxa de desemprego de dois dígitos, em 10,3%. Ela subiu para 10,6% em julho e se manteve em agosto. No mesmo mês de 2011 estava em 9,6%. O desemprego de jovens está em 25%. Um entre cada quatro jovens franceses está desempregado.

Ao discursar na ONU, a presidente Dilma Rousseff criticou os países que querem usar apenas o instrumento da austeridade para sair da crise e sugeriu que o Brasil era exemplo de como fazer um mix de políticas mais adequado. O Brasil vem fazendo há 20 anos o esforço de melhoria das contas públicas. Entre 1992 e 1995 renegociou a dívida externa. Desde 2000 tem mantido superávit primário para reduzir o endividamento e o déficit. Não há comparação possível com países da Europa que tiveram uma piora dos dados fiscais. Mesmo assim, a política econômica brasileira não tem conseguido elevar o crescimento e manter baixa a inflação.

Não há quem possa dar lições à Europa. Ela vive um momento de escolhas dolorosas, como a de Hollande. Ele ao assumir entendeu que o caminho da austeridade não era escolha masoquista. Países que gastam demais têm que controlar despesas.

Crescer é o objetivo mais desejável, até para diminuir o pior problema criado pela crise. O desemprego médio nos 17 países que usam o euro subiu de 10,2% para 11,4% em agosto, na comparação com o mesmo mês do ano passado. O de jovens, com menos de 25 anos, subiu de 20,7% para 22,8%. Só em agosto 34 mil pessoas perderam o emprego. Isso se soma aos 18,2 milhões de desempregados, uma população, como comparou o "Financial Times", equivalente ao total de habitantes da Dinamarca, Suécia e Irlanda somados.



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