Com 3 000 satélites em órbita, até demorou
para acontecer: a espetacular trombada
entre dois deles, um russo e um americano
Paula Neiva
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A faixa que vai de 160 quilômetros até 36 000 quilômetros de altitude em volta da Terra assemelha-se a uma avenida congestionada onde orbitam 3 000 satélites ativos. Eles disputam espaço com 17 000 fragmentos de artefatos lançados da Terra e que se desmancharam – foguetes, satélites desativados e até ferramentas perdidas por astronautas. Com um tráfego celeste tão intenso, era questão de tempo para que acontecesse um acidente de grandes proporções, como o da semana passada. Na terça-feira, dois satélites em órbita desde os anos 1990 colidiram num ponto 790 quilômetros acima da Sibéria, produzindo duas nuvens de 600 detritos de tamanhos variados. Um dos satélites, o Iridium 33, era americano e pertencia a uma empresa de telefonia móvel. O outro, o Cosmos 2251, era russo, de uso militar e estava desativado.
A trombada dos satélites chama a atenção para os riscos que oferece a montanha de lixo espacial em órbita. Como os objetos viajam a grande velocidade, mesmo um pequeno fragmento de 10 centímetros poderia causar estragos consideráveis no telescópio Hubble ou na Estação Espacial Internacional – nesse caso, pondo em risco a vida dos astronautas que nela trabalham. Os astrofísicos reconhecem que não há solução à vista para o lixo espacial e que é difícil monitorar a trajetória dos satélites que não pertencem a um mesmo país. "Manter sob vigilância todos os satélites e detritos ao mesmo tempo é inviável, por isso o controle feito atualmente é precário", diz o astrofísico mineiro Thyrso Villela. O acidente da semana passada não saiu barato. Um satélite como o Iridium 33 custa 40 milhões de dólares.