- 07/11/2008 |
Os ecos do discurso da vitória ainda podem ser ouvidos aqui e ali nos Estados Unidos. Mas para o novo presidente, Barack Obama, o relógio já começou a contar ao contrário. A cada dia, a expectativa daqueles que o elegeram aumenta na mesma proporção da responsabilidade diante de uma nação em crise. Quem vota deposita na urna uma carga de anseios nunca proporcional à capacidade de realização daquele em quem confiou seu destino. No caso de Obama, no entanto, esse peso é muito superior ao que outros presidentes receberam ao tomarem posse do Salão Oval. O senador democrata precisa, para começar, agir rapidamente, enquanto congrega todas as forças ao seu lado. Interna e externamente é preciso fazer o país inteiro se adaptar às novas circunstâncias. Saem a arrogância e o unilateralismo como pilares de decisão, substituídos compulsoriamente por uma ação rápida e pragmática. Há uma conferência internacional à vista para se discutir as saídas dessa crise. É a primeira chance. Obama deu sinais de que está muito ciente da gravidade do momento, e que esse ambiente de comoção festiva em torno de sua posse precisa ser efêmero para ser lembrado como um instante de felicidade nacional e não como um começo de embriaguez coletiva. Entre alguns gestos iniciais, por exemplo, estão o de anunciar rapidamente os nomes de sua equipe e o de estudar uma mudança nos cerimoniais de poder, abrindo mão de salamaleques como cumprimentos coletivos, em prol de um mergulho de cabeça no trabalho. Assim, a agenda presidencial, que sempre é comprometida com os cumprimentos ao longo dos primeiros 100 dias, terá tais eventos suprimidos. O próprio Obama deu o tom do que será sua gestão ao dizer que pretende ver essa avaliação apenas quando se completarem mil dias de governo. A necessidade de controlar as enormes expectativas criadas pelos eleitores foi o tema principal no day after da vitória tanto na maioria dos grandes jornais americanos quanto entre os maiores estrategistas de campanha. Sinal de que há pessoas com sensatez e perspicácia. É fundamental reduzir o nível de ansiedade, sobretudo em torno da possibilidade de reverter rapidamente as políticas de Bush, que, na visão do eleitor, levaram o país ao estado atual. No staff do novo presidente, esta é uma das – senão a mais – primordial tarefa nesse momento. Até janeiro, quando vier a posse, será preciso montar uma máquina que consiga transformar o desencanto, tanto quanto o excesso de esperança, em uma percepção tangível do que se pode e deve fazer no momento. Para reforçar que as promessas de campanha serão cumpridas, é bom procurar no discurso de Chicago as palavras que ecos de júbilo podem ter abafado: ao enumerar as razões pelas quais acreditava terem os americanos abraçado a sua candidatura, Obama deixou bastante claro que tais desejos – principalmente aqueles que tocam diretamente o cotidiano dos eleitores, como a expansão do atendimento de saúde e do seguro social, por exemplo – poderão levar um longo tempo para se concretizarem. Um caminho para manter a proa firme é sempre ter em mente que a diferença entre declarar o que se pretende fazer e botar a mão na massa pode significar tudo. Na imprensa americana, a lembrança da armadilha que capturou Bill Clinton em 1992 foi citada. Como não agiu naquilo que prometera, Clinton perdeu o Congresso dois anos depois. Obama parece consciente de tudo isso. Esperança sim, mas com os dois pés no chão |