Thomas Bohlen/Reuters
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Dupla vitória Angela Merkel: livre da incômoda associação com os socialistas |
Eleita em 2005, a chanceler Angela Merkel chegou a ser saudada como a nova dama de ferro por suas propostas liberais para a economia da Alemanha. Presa a um incômodo governo de coalizão com seu principal adversário, o Partido Social-Democrata (SPD), Merkel nem de longe lembrou a inglesa Margaret Thatcher, a verdadeira dama de ferro. Agora, ela tem uma segunda chance. Nas eleições parlamentares da semana passada, Merkel ganhou um duplo voto de confiança dos alemães: foi reeleita e os sociais-democratas, que tiveram o pior desempenho nas urnas desde os anos 40, vão deixar o governo. "Sem os socialistas, o governo poderá acelerar a implementação de reformas liberais, como a flexibilização das leis trabalhistas", disse a VEJA o historiador Samuel Moyn, da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos.
O resultado eleitoral na Alemanha é reflexo de uma tendência em todo o continente: na hora da crise, os europeus preferem entregar aos políticos de direita a árdua tarefa de conduzir a recuperação econômica. Nos países em que está no poder, como na Espanha e na Inglaterra, a esquerda social-democrata encontra-se sob fogo cruzado. Em Portugal, o primeiro-ministro socialista José Sócrates conseguiu manter-se no cargo nas eleições da semana passada, mas perdeu a maioria absoluta que tinha no Parlamento. Agora, terá de barganhar o apoio de outros partidos, conforme a ocasião, para conseguir governar.
A direita vem colhendo os frutos de governos pragmáticos. O presidente francês Nicolas Sarkozy não mediu palavras para denunciar a falta de regulamentação do mercado financeiro e defender a adoção de medidas drásticas, como a nacionalização de bancos. Na Alemanha, onde o PIB encolheu 6% devido à crise, o governo criou um programa de estímulo fiscal sob medida e a economia já apresenta os primeiros sinais de recuperação – cresceu no segundo trimestre do ano. A esquerda tampouco apresentou propostas convincentes para manter o estado de bem-estar social sem tirar o dinamismo da economia. Na França, o debate dentro do Partido Socialista limita-se a disputas fratricidas – a ponto de Sarkozy agradecer ao PS em público pela "ajuda". Mesmo com a enxurrada de escândalos envolvendo a vida privada do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, o Partido Democrata italiano, de oposição, soma apenas 26% das intenções de voto. Os esquerdistas também são os que mais sofrem com a ascensão dos chamados partidos verdes. É sobretudo nas fileiras da esquerda que os ambientalistas recrutam seus partidários – fenômeno que, como os petistas bem sabem, já começou a aportar nas praias brasileiras.
João Cortesão/AFP |
Reeleição em Portugal |