Eurorrecessão - CELSO MING
Política

Eurorrecessão - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 16/11
Enquanto praças públicas de algumas das principais capitais europeias - especialmente Madri, Atenas, Lisboa, Roma, Paris, Bruxelas e Amsterdã - eram sacudidas por enormes manifestações de protesto contra o excesso de austeridade e o desemprego, os novos números macroeconômicos confirmavam o que já era esperado: o afundamento de toda a área do euro na recessão econômica.

Ontem, a Eurostat, organismo encarregado das estatísticas econômicas da área do euro, revelou que o bloco repetiu o recuo do Produto Interno Bruto (PIB) pelo terceiro trimestre seguido (veja o gráfico). É o que os especialistas em Macroeconomia identificam como estado de recessão, ou seja, situação de retração da atividade econômica, da produção e da renda. Pior que tudo, não há nenhum sinal claro de saída da crise - o que, provavelmente, é ainda mais desanimador. Os analistas são unânimes em dizer que essa crise dura pelo menos mais dois ou três anos.

Mesmo com ampla ajuda do Estado do bem-estar social, que proporciona seguro-desemprego, atendimento de saúde e educação básica, por toda parte na Europa irrompem protestos contra a imposição de um regime de sacrifícios insuportáveis.

Há 236 anos foi editada pela primeira vez a obra fundamental de Adam Smith, A Riqueza das Nações. Com ela, foi colocado em marcha um processo de obtenção de conhecimentos sistemáticos de Economia Política. De lá para cá, tanto economistas como políticos passaram a ter à sua disposição enorme acervo de experiências e de práticas que ajudam a enfrentar um panorama como o de hoje. Mas os governos da Europa não têm obtido um ajuste rápido para a atual situação.

Já são mais de quatro anos de crise, com muitos projetos e discursos destinados a chamar à atenção e a dar prioridade ao avanço econômico, e, no entanto, tudo o que se tem conseguido é apertar e reapertar os cintos e distribuir a conta para a população. Vêm-se pagando os estragos com perda de renda e desemprego.

O presidente da França, François Hollande, por exemplo, baseou sua campanha eleitoral deste ano no crescimento econômico e, no entanto, tem colhido avanços ligeiramente acima de zero. O do terceiro trimestre foi de somente 0,2%.

A atual crise é cruel principalmente para o trabalhador e para o consumidor de classe média. A partilha de uma moeda comum, o euro, impede o ajuste baseado na desvalorização das moedas nacionais - algo que amorteceria a dor do processo de derrubada de salários e aposentadorias. O ajuste agora tem de vir sem anestesia.

Poderia ter sido e ser diferente? Sempre poderia. Mas uma solução menos dolorosa teria que ser alcançada mediante a costura de um amplo acordo político que permitisse a unificação dos orçamentos (união fiscal) e transferências de recursos entre membros do bloco. Ou seja, a recuperação da área do euro teria sido mais fácil se o bloco inteiro convergisse para uma unidade política, o que pressupõe delegação (e perda) de soberania. Seria um passo que restabeleceria a confiança e mobilizaria os capitais necessários para financiar boa parte dos atuais rombos orçamentários. Na falta desse superacordo, sobra o sacrifício - e o esperneio que se vê nas capitais da Europa.



Sent from my iPhone



loading...

- Celso Ming Sem Proposta
As manifestações e os protestos que se espalham pela Europa "contra os sacrifícios excessivos" expõem a enorme fragilidade das esquerdas.Esta é a maior crise do sistema capitalista desde os anos 30 e, no entanto, socialistas e social-democratas seguem...

- Esqueçam O Que Eu Disse - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 11/09Até a semana passada, o último presidente da França eleito com um discurso socialista a mudar rapidamente seus pontos de vista fora François Mitterrand. Eleito em 1981, ele levou um ano e meio para adotar uma política econômica...

- O Fator Hollande - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 08/05/12É natural que os mercados não tenham se exasperado ontem com a vitória do socialista François Hollande (foto) nas eleições presidenciais da França.O último que assumiu a presidência da França com discurso de esquerda...

- Cadê As Esquerdas? -celso Ming
O Estado de S Paulo O diário madrilenho El País trouxe há 15 dias um artigo (Mercado y socialdemocracia) do professor de História Econômica Francisco Bustelo que depara com um fato desolador para as esquerdas europeias. Nem antes nem depois desta...

- Mais Que Desemprego Celso Ming
 O ESTADO DE S. PAULO  O desemprego é cruel porque solapa um dos mais importantes valores do homem: a dignidade.  Dezenas de utopias e de arquiteturas sociais foram construídas ao longo dos séculos com o objetivo de imunizar a sociedade dessa...



Política








.