Exportações emperradas - EDITORIAL O ESTADÃO
Política

Exportações emperradas - EDITORIAL O ESTADÃO



O Estado de S.Paulo - 03/07


A crise internacional é só uma das causas do pífio desempenho do Brasil no comércio internacional, neste ano, e provavelmente nem é a mais importante. Para explicar o fiasco é preciso levar em conta pelo menos dois outros fatores: as falhas da política econômica e os erros da estratégia comercial acumulados a partir de 2003. Nesse ano, o governo decidiu impedir o País de jogar na primeira divisão dos mercados globais, dando prioridade a alianças com parceiros do "Sul". Com isso, perderam-se oportunidades importantes nos mercados mais desenvolvidos, enquanto outros emergentes se esforçavam precisamente para conquistar espaços no mundo rico. Outro resultado foi a dependência cada vez maior da venda de produtos básicos para um daqueles parceiros "estratégicos", a China, enquanto o governo chinês trabalhava para converter seu país na maior potência exportadora do mundo.

Os efeitos desses erros são observados há vários anos e se acentuaram em 2012. Neste ano, o superávit comercial acumulado até julho, de US$ 9,9 bilhões, foi 39% menor que o de um ano antes, na comparação baseada no resultado médio dos dias úteis. Pelo mesmo critério, as exportações, de R$ 138,2 bilhões, foram 3% menores que as de janeiro a julho de 2011, enquanto as importações foram 1,7% maiores.

As cifras de julho foram provavelmente afetadas pela greve de funcionários da Receita Federal e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mas o descompasso entre receita e despesa já havia sido observado até junho. Além disso, quase certamente a greve distorceu mais o valor importado que o exportado.

Os dados são suficientes, no entanto, para permitir uma análise das tendências mesmo antes da revisão dos números, porque os padrões mais importantes foram mantidos. A estagnação das exportações e o crescimento das importações apenas confirmam o enfraquecimento do produtor brasileiro diante dos competidores de fora. Os produtores estrangeiros têm sido amplamente beneficiados pela política federal de estímulo ao consumo. As ações de estímulo à produção têm sido muito menos eficientes. Isso é confirmado pelos números do comércio exterior e pela crescente penetração de importados no mercado interno. A desvalorização do real pode ter barateado os produtos brasileiros no confronto com os de fora, mas foi insuficiente para diminuir de forma importante a desvantagem competitiva do fabricante nacional. Essa desvantagem poderá ser atenuada um pouco mais no próximo ano, se o governo ampliar a bateria de estímulos, mas a mudança ainda será muito limitada. Segundo 68% dos executivos consultados em pesquisa da Confederação Nacional da Indústria, nenhum impacto sobre seus planos de investimento resultou do Plano Brasil Maior. Como o governo continua incapaz de investir os valores programados, ganhos de produtividade resultantes da expansão e da modernização da infraestrutura geral e dos equipamentos serão ainda modestos nos próximos tempos.

Como consequência da crise, o valor exportado para a União Europeia, até julho, foi 7% menor que o de um ano antes. A exportação para a China rendeu 1,4% mais, uma variação modestíssima atribuível, principalmente, à perda de ritmo da economia chinesa e à desvalorização de algumas matérias-primas, especialmente do minério de ferro. A valorização da soja impediu um resultado pior. Mas as vendas para os Estados Unidos foram 7% maiores que as de um ano antes. Isso se deve, em boa parte, à importância do mercado americano para as vendas brasileiras de manufaturados. A China, ao contrário, mantém com o Brasil uma relação semicolonial. O saldo seria bem melhor, se o governo brasileiro tivesse dado mais atenção aos mercados americano e europeu, sem negligenciar, é claro, as demais regiões.

A preferência aos países do "Sul" também se reflete no comércio com os vizinhos. As vendas para o Mercosul foram 17% inferiores às de um ano antes, principalmente por causa da perda de 18,4% no valor vendido para a Argentina. Isso se explica pelo protecionismo argentino, aceito alegremente - e quase aplaudido - pelo governo brasileiro. Parceria estratégica é isso.



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