Há pelo menos duas boas surpresas nos números que medem a inflação de novembro ontem divulgados.
A primeira delas, a mais óbvia, é o avanço do custo de vida mais baixo do que o esperado, de apenas 0,36% em relação a outubro. A segunda é a de que, pelo menos até agora, a alta do dólar não mostrou influência importante na formação dos preços. Isso tem lá sua explicação.
Os resultados mostram que o recuo da atividade econômica veio com força e está atuando poderosamente sobre os mecanismos de remarcação de preços. Produtores e comerciantes, que enfrentam estoques altos demais, já sentiram que o consumidor já não saca o talão de cheques com a desenvoltura com que sacava há meses. Por isso, foram levados a trabalhar com promoções de venda e fortes descontos.
Esse movimento é mais visível no setor de bens de consumo duráveis, especialmente nos de veículos e de aparelhos domésticos, que realizam os feirões de fim de semana e as promoções especiais de venda em plena temporada de final de ano, quando o consumidor ainda conta com o reforço proporcionado pelo 13º salário.
Uma hipótese a levar em conta é a de que não é só o que acontece de bom no setor de veículos que exerce influência sobre os mercados a ele ligados. O que acontece de ruim provoca impacto também sobre segmentos que não têm nada a ver com ele. É o que poderia ser chamado de efeito demonstração ao contrário. Quem, por exemplo, toma conhecimento de que, apesar da antecipação das férias coletivas, ainda há 300 mil veículos encalhados nos pátios das montadoras, pode ser levado a desistir de uma viagem ao exterior ou a adiar a compra de uma roupa, porque entendeu que a vida ficou mais difícil.
Também deve ser levado em conta que parte da oferta excedente no mercado interno é conseqüência da relativa queda das exportações, presentes e futuras. A simples redução das encomendas do exterior, onde a recessão está forte, já levou a indústria a concluir que o excedente antes exportado terá de ser desovado no mercado interno, o que também pressionará os estoques.
A redução do ritmo das remarcações pelo comércio varejista e a baixa transferência da alta do dólar para os preços finais esvaziam o mais forte argumento usado até aqui pelo Banco Central para justificar a puxada agressiva dos juros.
É o argumento de que é preciso atacar a inflação de demanda que se funda na existência de um "consumo excessivamente robusto" e que cresce acima da capacidade de reposição de estoques pelos fornecedores, aí consideradas a produção interna mais a entrada de produto importado. Essa foto já não se repete.
E, se é verdade, como tem dito o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que o consumo interno é hoje um fator positivo diante do forte risco de desaquecimento interno da produção e da renda, conclui-se que o momento não é de pisar no freio. Ao contrário, é de voltar a acelerar.
Isso não significa, ainda, que o Copom estará disposto a reduzir os juros na quarta-feira, data para a qual está marcada a reunião para rever a política monetária. Significa apenas que o Banco Central poderá começar a sinalizar nova rodada de expansão monetária (baixa dos juros).
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