O Estado de S. Paulo - 16/02/2012 |
Os fundos de pensão brasileiros têm papel crucial no fomento da competitividade internacional da economia brasileira. Devem desempenhar função de parceria e associação com empresas brasileiras, seja no plano interno, como no caso da privatização dos aeroportos, seja na aquisição de bens e empresas no exterior. Além de seus robustos recursos, os fundos aportam capacidade gerencial e amplo conhecimento de fontes de financiamento e canais de fusões e aquisições fundamentais para o salto ao exterior das empresas brasileiras que almejam classe internacional. Com uma crescente sinergia entre fundos e empresas brasileiras, poderemos perceber com mais nitidez as imensas oportunidades que os mercados europeus e norte-americano estão oferecendo para aquisições e associações. Há, todavia, as limitações do setor financeiro, sobretudo no âmbito bancário, que tem de operar sob as restrições dos Acordos de Basileia III, que restringiram enormemente o poder de financiamento dos grandes bancos. Isso é um fator complicador, sobretudo se aliado à redução de atividade dos fundos privados de investimentos que se retraíram com as vultosas retiradas de recursos por parte de seus tomadores. Países como a China e, agora, também a Coreia do Sul e outros asiáticos estão liberando seus fundos de pensão para participarem de aquisições no exterior e, assim, valer-se do momento atual de relativa fraqueza empresarial nos países em crise na Europa e nos Estados Unidos. De fato, o exemplo sul-coreano recente é de grande eloquência. O National Pension Service sul-coreano, quarto maior fundo do planeta, fará um investimento de US$ 7 bilhões para acelerar a compra de empresas estrangeiras por companhias sul-coreanas. Seu presidente chegou a afirmar que uma das missões precípuas do fundo sob sua responsabilidade é oferecer musculatura, em associação com outros fundos e empresas privadas do país, na busca de cumprir uma lista de compras de ativos empresariais no exterior. Acredito que essa medida pioneira traça uma referência alternativa para o caminho futuro do financiamento de longo prazo - cada vez mais restrito em virtude das amarras presentes nos Acordos de Basileia III, que arrefeceram substancialmente o poder financiador do setor privado. É inegável que os fundos de pensão brasileiros têm sido instrumentais no fortalecimento de nossas empresas, em atuação complementar a instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Considero, nesse contexto, ser o momento apropriado para os fundos usarem a autorização legal de investirem no exterior até o limite de 10% de seus US$ 350 bilhões em ativos. Assim, cerca de US$ 35 bilhões poderiam se transformar em investimentos, participações acionárias e debêntures a agilizar a absorção pelas empresas brasileiras de novas tecnologias, novos mercados e conceitos de gestão. É extraordinário pensar na possibilidade de gigantes como Petrobrás, Vale, Gerdau, Odebrecht, Andrade Gutierrez e centenas de outras terem como sócios os fundos de pensão - e destarte serem apoiadas por tal volume de recursos. Mais do que nunca, empresas e governo têm de caminhar num mesmo sentido, evitando armadilhas desestimulantes e contraproducentes, como a bitributação que agora se impõe a empresas brasileiras que operam ou se preparam para expandir no exterior. A força do Brasil no cenário global também será expressão do número e da escala de suas empresas multinacionais. E essas oportunidades estão ao alcance da mão de um país vocacionado, até 2020, a ser a quarta maior economia do planeta. |