Os fundos de pensão dos trabalhadores de países desenvolvidos sofreram prejuízos de US$ 4 trilhões, entre janeiro e outubro deste ano, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). É o resultado da crise que abala a economia mundial, afetando em especial os investimentos de risco, como as ações. Os mais atingidos, nos países ricos, foram os fundos que mais aplicavam em ações, em proporções que chegavam a 50% dos ativos. Nos Estados Unidos, onde a maioria das famílias tem ações, os trabalhadores ativos, com idade superior a 60 anos, ou os já aposentados, na casa dos 70 ou 80 anos, preferiam aplicações em fundos que detinham relevantes carteiras de ações, que vinham se valorizando expressivamente nos últimos anos.
A reversão dos mercados pegou-os de surpresa. O auge das quedas ocorreu em outubro: o Índice Dow Jones, de Nova York, caiu 14%; o de Tóquio, 23,8%; o de Frankfurt, 14,4%; o de Xangai, 24,6%; o do Brasil, 25,5%; e o da Rússia, 36,1%. No acumulado dos últimos 11 meses as quedas nos mercados citados oscilaram entre o mínimo de 33,4%, em Nova York, e o máximo de 71,2%, na Rússia, com recuo de 42,7%, no Brasil.
Os efeitos sobre os fundos de pensão foram dramáticos. Em carteiras “arriscadas”, conforme a OCDE, o retorno real dos fundos de pensão foi negativo entre 30% e 48% em países como a Estônia, Hungria, Chile, Peru e Lituânia.
Nos Estados Unidos, segundo uma pesquisa da Universidade de Michigan, mais da metade dos 40% mais ricos da população com idade igual ou superior a 75 anos tinha pelo menos um terço de suas poupanças aplicadas no mercado acionário. “As pessoas mais velhas da classe média fizeram planos baseadas num conjunto de suposições sobre como o mundo funciona, e o mundo enlouqueceu”, declarou ao New York Times a diretora do Centro de Pesquisa sobre Aposentadoria da Universidade de Boston, Alicia Munnell.
Como os juros dos títulos públicos ou de renda fixa são baixos, muitos participantes aceitaram o risco de aplicar em ações e nos mercados futuros e de commodities. Assim, obtinham uma rentabilidade anual da ordem de 7%. Apenas 3% dos recursos dos fundos foram aplicados no mercado subprime. Todos os fundos, no entanto, estão sofrendo fortemente os efeitos da crise financeira global.
Há, no mundo, muitas modalidades de previdência privada, englobando tanto os fundos fechados, organizados por empresas para seus funcionários, como fundos abertos, em que os participantes escolhem o gestor conforme sua disposição de correr maior ou menor risco. No Brasil, os fundos que podem aplicar mais em ações são os do tipo PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livre), cuja remuneração terá acusado, em maior ou menor grau, os efeitos das aplicações de risco.
Os últimos dados consolidados dos fundos fechados do País são de agosto. Naquele mês, eles tinham aplicações de R$ 440,5 bilhões, mostrando uma queda em relação aos R$ 444,2 bilhões de julho. Houve, sobretudo, uma diminuição da participação das ações, de 20,8% do patrimônio total desses fundos, em dezembro de 2007, para 17,7%, em julho, e 16,9%, em agosto. É provável que esta participação já tenha caído bem mais. Numa crise de tais proporções, os fundos de pensão não poderiam evitar a perda de rentabilidade.
No início de 2008, os fundos brasileiros estavam em boa situação. No conjunto, apresentavam superávit atuarial de R$ 76 bilhões, que caiu para R$ 58 bilhões, em setembro, um valor ainda elevado. No fundo Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, que aplica em ações mais do que o permitido, o superávit atuarial caiu de R$ 52 bilhões, em setembro, para R$ 35 bilhões, em outubro.
Nos Estados Unidos alguns fundos que sofreram prejuízos no mercado acionário aumentaram o valor da contribuição dos participantes, como fez o CalPers, dos funcionários públicos da Califórnia, que perdeu US$ 48 bilhões entre o fim de junho e 10 de outubro. Com isso, a empresa patrocinadora não foi onerada e permaneceram inalterados os valores das aposentadorias.
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