Galinha ou albatroz? - CELSO MING
Política

Galinha ou albatroz? - CELSO MING




O Estado de S.Paulo - 18/08


Depois de três meses ruins, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apontou em junho um significativo avanço de 0,75% em relação a maio (veja no Confira). Não dá ainda para concluir que a recuperação seja certa e sustentável, no entanto os novos números da economia são indício disso.

O IBC-Br começou a ser divulgado pelo Banco Central em março de 2010 (calculado retroativamente até 2003) para antecipar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), que chega com atraso de quatro meses.

Há um bom tempo, o Banco Central vem reafirmando que a atividade produtiva terá desempenho bem melhor no segundo semestre deste ano do que o apresentado no anterior. E, ainda ontem, seu presidente, Alexandre Tombini, reafirmou essa expectativa.

Ele conta principalmente com o avanço do crédito, com a capacidade mobilizadora da política monetária e com a desvalorização cambial (alta do dólar). Ou seja, mais cedo ou mais tarde, argumenta Tombini, o aumento do crédito, de cerca de 15% ao ano, puxará pelo consumo; a queda dos juros se encarregará, por si só, de criar condições para reacelerar o setor produtivo; e o dólar mais caro empurrará as exportações.

No entanto, é necessário esperar mais tempo para avaliar se há força nesta recuperação ou se não passa de voo de galinha. Essa cautela é recomendável a partir da própria natureza da desaceleração anterior. Em grande medida, deve-se à crise global, que derrubou a renda, o consumo e as encomendas externas. Se essa paradeira nos dois principais centros de consumo - Estados Unidos e área do euro - deverá persistir ainda por muito mais tempo, como os analistas são unânimes em apontar, também não se pode assegurar que a economia brasileira se descolará em relação a ela.

O mau desempenho da economia global e todo o clima de incertezas que o cercam são também responsáveis pelo adiamento dos investimentos por parte dos empresários brasileiros. O Brasil segue apresentando baixos níveis de investimentos, inferiores a 20% do PIB. Enquanto não forem de pelo menos 22% ou 23%, será pouco provável que possa crescer os tais 4,0% ou 4,5% ao ano. Afora isso, investimentos privados engavetados, como apontado, contribuem para a falta de dinamismo na atividade produtiva.

Como dito nesta Coluna em sua edição de ontem, os bons resultados do consumo interno são outro fator que pode sinalizar a recuperação da economia depois de um primeiro semestre notoriamente fraco. Mas, antes de chegar a essa conclusão, é preciso ver o que é somente consequência de estímulos fiscais (isenção ou redução de IPI), que não se repetirão, e o que é embalo sustentável.

Em princípio, esses benefícios tributários devem terminar no final deste mês. O governo não decidiu se serão prolongados. E, mesmo que sejam, é provável que tenham provocado alguma antecipação de compras de bens de consumo durável sem terem criado mercado novo. Nesse caso, o bom desempenho do setor produtivo pode não se manter.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, saiu comemorando o que vê como recuperação. Desempenha seu papel de levantar o moral da tropa - e tomara que tenha razão. Mas é preciso mais tempo para que se possa ter certeza de que a economia brasileira é um albatroz que demora a levantar voo, mas que voa longe



loading...

- Continuam Chegando - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 25/07Enquanto os investimentos do governo federal patinam e os do empresário brasileiro seguem semiparalisados, os do estrangeiro continuam chegando aos borbotões.As Contas Externas divulgadas ontem pelo Banco Central apontam,...

- Consumo Aquecido Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 14/09/2011 Os dados são de julho (e já estamos em meados de setembro), mas esse "registro de retrovisor" não elimina o fato nem reverte a tendência: o consumo interno, embora mais atenuado do que há alguns meses, continua...

- O Consumo Puxa O Pib Celso Ming
- O Estado de S.Paulo O avanço do PIB brasileiro, de 0,8% no segundo trimestre (em relação ao anterior), especialmente quando se compara com o 1,2% obtido no trimestre anterior, pode parecer insatisfatório e, mais ainda, ser interpretado como sinal...

- Celso Ming O Pib Da Marolinha
O ESTADO DE S. PAULO Este é o PIB da marolinha, obtido no ano de maior crise financeira global desde os anos 30. Nas circunstâncias, uma queda da renda de apenas 0,2% em 2009 não foi mau resultado. Apesar de ter ficado abaixo do nadinha, foi o sexto...

- Celso Ming - Maior Que A Crise
O forte avanço do PIB no segundo trimestre do ano surpreendeu até os mais otimistas. Há várias formas de medir esse crescimento. Vamos ficar com duas: foi de 6,0%, se o acumulado do ano for comparado com igual período do ano anterior; e foi...



Política








.