Heróis da Classe Operária: Ernesto "Che" Guevara
Política

Heróis da Classe Operária: Ernesto "Che" Guevara


A 9 de Outubro de 1967 Ernesto "Che" Guevara foi executado por tropas bolivianas perto da cidade de La Higuera, na sequência de uma emboscada. A operação foi planeada pela CIA e organizada por Forças Especiais dos Estados Unidos. No 46 º aniversário da sua morte, é conveniente fazer-se um balanço da acção deste revolucionário que tem alimentado a ilusão das classes médias com a imagem que lhes é fornecida de “um excelente mártir”.

Lenine escreveu em 1918 na obra “O Estado e a Revolução”: "o que vai agora acontecendo e aconteceu no decurso da história com a teoria de Marx, aconteceu repetidamente com as ideias de pensadores revolucionários e líderes de classes oprimidas que lutaram e lutam pela sua emancipação. Durante a vida de grandes revolucionários, as classes opressoras, perseguiram-nos constantemente, receberam as suas teorias com a malícia mais selvagem, o ódio mais furioso e as campanhas mais inescrupulosos de mentiras e calúnias. Porém, após a sua morte, são feitas tentativas para convertê-los em ícones inofensivos, para os canonizar, por assim dizer, e para santificar os seus nomes até um certo ponto, para "consolo" das classes oprimidas e com o objectivo de enganar estas últimas, enquanto ao mesmo tempo roubam à teoria revolucionária a sua substância, vulgarizando-a, colocando-a à margem da prática politica, fazendo-a desaparecer”
Após a sua morte, Guevara tornou-se um ícone de movimentos socialistas revolucionários e uma figura-chave da moderna cultura pop mundial. Alberto Korda fotografou a famosa imagem do Che que aparece em t`shirts e cartazes de protesto por todo o mundo, convertendo-O num ícone global dos nossos tempos sem que muitos saibam lá muito bem porquê.
Após a morte de Lenine, os líderes da facção de Zinoviev e Kamenev apoiados em Estaline criaram um culto em volta da sua figura. Contra a vontade da sua mulher Nadežda Krupskaia, o seu corpo foi embalsamado e colocado em exposição pública no mausoléu da Praça Vermelha. Mais tarde Krupskaya declarou: "Toda a sua vida Vladimir Ilyich foi contra figuras icónicas, e agora eles transformaram-nO num ícone".

Em Novembro de 2005 , a revista alemã Der Spiegel publicou um artigo sobre os "revolucionários pacíficos" da Europa os quais descreveu como sendo os herdeiros de Gandhi e Guevara [!] . Isto é uma completa farsa. Deveriamos fundar uma "Sociedade de Protecção de Che Guevara" contra as pessoas que não têm nada a ver com o marxismo, a luta de classes ou a revolução socialista, e que desejam pintar um quadro totalmente falso de Ernesto Guevara como uma espécie de santinho revolucionário, um romântico pequeno-burguês , um anarquista , um pacifista de Gandhi ou qualquer outro disparate deste tipo. É desta trama que faz parte a recente boutade do politico português que faz a ponte com os banqueiros: Não nos podemos esquecer que nós temos no Parlamento (burguês) forças revolucionárias de extrema esquerda

Che Guevara era um revolucionário instintivo. Foi pessoalmente incorruptível e detestava a burocracia, o carreirismo e privilégios. Tinha a aura da puritana moralidade do lutador revolucionário. Por isso foi repelido pelos agentes da burocracia e servilismo que observou após a vitória da Revolução em Cuba.
Che expressou muitas vezes opiniões em oposição às posições oficiais do Partido Comunista da União Soviética liderado por Nikita Khrushchev . Opôs-se à "teoria" de coexistência pacífica”. Não gostou da atitude servil de alguns cubanos direccionados para Moscovo e a sua ideologia já abertamente social-fascista. Acima de tudo Che repeliu a burocracia, o carreirismo e os privilégios. As suas visitas à Rússia e Europa Oriental chocaram-no e aprofundaram o seu sentimento de desilusão com aquilo que depois seria apelidado pelos revisionistas de todos os matizes, de “estalinismo”. Os privilégios da nomenklatura e sobretudo o sufocante conformismo dos burocratas atingiram as profundezas da sua alma. Che tornou-se cada vez mais crítico da União Soviética sob os desígnios daqueles líderes. Foi por esta razão que inicialmente se sentiu inclinado para a China durante a disputa sino-soviética . Mas, retratar Che como um maoísta seria uma injustiça. Não há nenhuma razão para acreditar que ele ter-se-ia sentido mais em casa na China de Mao, que na Rússia de Kruschev… apenas pretendia, na senda do internacionalismo proletário, aprender com as experiências de outros camaradas. A principal razão porque pareceu inclinar-se para a China, foi o facto dos chineses terem criticado a decisão de Moscovo de retirar os mísseis soviéticos de Cuba durante a crise de 1962, um acto que Che viu como uma traição.

É impossível chegar a uma classificação politica pura de Che Guevara. Era uma personagem complexa, com uma imaginação fértil, sempre em busca da verdade. Os dogmas do “socialismo de Estado” eram a antítese absoluta da sua maneira de pensar. A ausência de respeito pelo servilismo burocrático conformista fazia dele um objeto de suspeita e ódio de estimação dos dignitários "comunistas" da Europa e do bloco soviético. Os líderes revisionistas do Partido Comunista Francês eram-lhe particularmente hostis e foram eles próprios que lançaram uma campanha de calúnias contra Che , descrevendo-o como um "aventureiro pequeno-burguês".

Após a détente de 1962 de repartição de interesses globais entre os “soviéticos” e imperialistas norte americanos, a Revolução Cubana entrou num impasse e estava em perigo. Como poderia ser salva? Che Guevara teve a ideia certa, e movia-se na direcção certa quando a sua vida, no auge do vigor da juventude, foi brutalmente ceifada. Ele sentiu que a burocracia tendente à corrupção era a maior ameaça à Cuba socialista e prepararia o caminho para uma restauração do capitalismo. Acima de tudo Che, um comunista revolucionário dedicado, foi também um internacionalista que entendia que a única maneira de preservar a Revolução Cubana era estender a revolução socialista para o resto do mundo, começando pela América Latina, depois de o ter tentado sem sucesso no Congo de Lumumba - este foi o seu lado forte. O seu ponto fraco é que ele viu fundamentalmente a revolução como uma luta de guerrilha camponesa e não compreendeu plenamente o papel central da classe operária na revolução socialista.

fontes principais:
* Alan Woods, artigo publicado no site "In Defense of Marxism", Outubro de 2007
* a História daquilo que o Che Combateu



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