Honduras A crise bananeira
Política

Honduras A crise bananeira


VEJA

Ao vencedor, as bananas

Pobre Honduras, espremida entre golpistas e um presidente 
que quer usar a democracia para acabar com a democracia


Thomaz Favaro

Orlando Sierra/AFP

L BIGODÓN Manuel Zelaya: o fazendeiro quis ser um novo Chávez

 

A melhor síntese de Honduras foi formulada pelo humorista americano William Sydney Porter, que viveu no país centro-americano no início do século XX. Ele o definiu como "República bananeira". A expressão passou a ser aplicada a outras nações latino-americanas com governo corrupto e economia baseada em um único produto. Mas Honduras é a bananeira original. No domingo 28, o país surpreendeu o mundo com um golpe de estado. Às 5 horas da manhã, duas centenas de soldados invadiram a casa do presidente, Manuel Zelaya, e o levaram ainda de pijama até uma base aérea, de onde foi expatriado para a Costa Rica. Dada a irrelevância de Honduras, o mundo precisou optar por simplesmente ignorar o acontecimento e, ao contrário, partir para uma punição exemplar que desestimulasse outras aventuras na América Latina. Prevaleceu a segunda opção.

Durante a semana passada, a Organização dos Estados Americanos, a Assembleia-Geral das Nações Unidas, a União Europeia e os Estados Unidos, destino de 70% das exportações hondurenhas, ameaçaram com sanções. O resultado é um paradoxo: o presidente odiado em casa tornou-se uma cause célèbre no exterior. Ninguém é mais inadequado para o papel que o presidente deposto. Dono de fazendas e madeireiras, ele foi eleito por um partido de centro-direita. Mas lá pela metade do mandato aproximou-se de Hugo Chávez. Seu governo aceitou do venezuelano a recompensa de 130 milhões de dólares, 4 milhões de lâmpadas e 100 tratores pela entrada de Honduras no Alba, o clube dos amigos de Chávez. Os hondurenhos inicialmente aprovaram a barganha. Mas se assustaram ao perceber que Zelaya levava a sério sua conversão à esquerda. Seguindo o roteiro chavista, ele convocou um plebiscito para mudar a Constituição e autorizar a própria reeleição. Nem seu partido o apoiou. A Carta que o presidente pretendia reescrever garantiu inéditos 27 anos de estabilidade política e democracia. Seu mérito reside precisamente nas medidas preventivas contra caudilhos que desejem se perpetuar no poder.

Apesar de a proposta de consulta popular ter sido rejeitada pelo Parlamento e vetada pela Suprema Corte, Zelaya a convocou assim mesmo. Como a Constituição não permite o impeachment, a oposição optou pelo caminho, digamos, tradicional. No dia previsto para o referendo, os militares o tiraram do poder com o apoio do Legislativo, da Suprema Corte e da maioria dos hondurenhos. Produtor de banana e café, Honduras é ainda mais pobre que El Salvador. O momento mais marcante da história desses vizinhos foi a bizarra Guerra do Futebol, desencadeada pela disputa de uma vaga na Copa do Mundo, em 1969. Demorou quatro dias, deixou 5 000 mortos e El Salvador ficou com a vaga. É possível que, diante da repulsa internacional, o novo governo chegue rapidamente a uma solução negociada com Zelaya. Nesse caso, a lição da crise será a de que dois erros não fazem um acerto.

Bettmann/Corbis/Latinstock

GUERRA DO FUTEBOL Soldados hondurenhos
em 1969: vaga na Copa levou ao conflito bizarro




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