Política
Acordo em Honduras
O ESTADO DE S PAULO EDITORIAL,
Zelaya, por sua vez, deverá ser reinvestido no cargo, mas apenas para concluir o seu mandato. Manterá suas funções cerimoniais, mas o poder de fato será exercido por um gabinete de união e conciliação nacional. Além disso, Zelaya foi obrigado a se comprometer a não tentar, de novo, mudar as cláusulas pétreas da constituição que proíbem a reeleição.
O caso de Honduras mostra um dos melhores lados da política externa do presidente Barack Obama. Quando houve o golpe preventivo em Tegucigalpa, aplicado para evitar que o país se tornasse mais um satélite do bolivarianismo do caudilho Hugo Chávez, não faltou quem garantisse que os Estados Unidos apoiariam o governo de facto. Mas o que a Casa Branca fez foi juntar-se a todos os países do Hemisfério na condenação da quebra da norma democrática. Depois, deu tempo e espaço para que a OEA e os países da região tentassem mediar o conflito. Só quando falharam todas as tentativas de mediação da OEA e se chegou a um impasse, o governo americano interveio. Com isso, Washington demonstrou que apoia a ação das instituições multilaterais e que ficou no passado a época em que apoiava ditaduras de direita. Mas também deixou claro que usa os poderes de persuasão da superpotência, quando isso é necessário. Em linguagem diplomática, o embaixador Thomas Shannon explicou que o argumento decisivo para a obtenção do acordo foi "o reconhecimento que Honduras tem de ir para as eleições com o apoio da comunidade internacional e que a falta desse apoio jogaria o país ainda mais fundo na crise política". Na verdade, a diplomacia americana jogou, com habilidade, porém com energia, com os dois lados em disputa. E obteve um bom acordo.
A diplomacia brasileira fez o contrário disso. Desde o início da crise, por inspiração do caudilho Hugo Chávez, o governo brasileiro assumiu posições intransigentes contra o governo de facto e a favor do presidente deposto. Ao permitir que Manuel Zelaya ocupasse a embaixada em Tegucigalpa e dela fizesse o centro da agitação política contra o governo Micheletti, o governo brasileiro passou a interferir nos assuntos internos de Honduras, violando um dos princípios básicos da nossa política externa, que é a não-intervenção. Essa inabilidade inviabilizou a possibilidade de qualquer tentativa brasileira de liderar um processo de negociação.
Na sexta-feira, ao tomar conhecimento do fim do impasse em Honduras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que "o que aconteceu, na verdade, foi que Micheletti descobriu que não é possível governar contra a vontade da maioria". Na verdade, as últimas pesquisas de opinião mostram que os hondurenhos querem que Zelaya complete seu mandato, mas não votariam nele de novo. Quando fez essas declarações, o presidente Lula estava na Venezuela, em companhia de Hugo Chávez, de quem ouvira, pouco antes, que não entendia como um político com mais de 80% de aprovação não podia continuar governando o seu país. O autoritarismo de Chávez o impede de ver que o que marca uma democracia é menos a repetição periódica das eleições do que a possibilidade da alternância no poder. Manuel Zelaya se deixou convencer pela pregação chavista e deu no que deu.
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