Irã Uma eleição que agitou o país
Política

Irã Uma eleição que agitou o país



da VEJA

Irã, mostre a sua cara

Deu gosto de ver o entusiasmo e o desejo de 
mudança que afloraram na campanha presidencial

Ben Curtis/AP
ONDA VERDE Mãe e filhinha em comício de Mousavi: pondo os topetes de fora


Foi uma campanha presidencial em que cada fio de cabelo contou. Literalmente. No Irã, o grau de liberalidade é medido, entre as mulheres, pela quantidade de mechas que escapam sob o lenço na cabeça, obrigatório em público. E como apareceram topetes. Morenas, ruivas e até loiras – de farmácia, como na maioria dos outros países – foram tomadas por uma animada e comovente febre eleitoral. Todas torcendo por Mir Hossein Mousavi, um ex-primeiro-ministro que não é nenhum liberal, longe disso, mas virou símbolo do profundo desejo de abertura de uma parte da sociedade iraniana – e da raiva nada disfarçada que esta parcela nutre em relação ao atual presidente, o mal-ajambrado, entre outros inúmeros e conhecidos defeitos, Mahmoud Ahmadinejad. Que se tomou de brios e saiu fazendo campanha. Até debate na televisão teve. E até a mulher alheia Ahmadinejad pôs na briga. Ele insinuou que Zahra Rahnavard, a mulher de Mousavi, fez carreira universitária à custa da influência do marido. Levou uma chamada e aumentou mais o entusiasmo dos "verdes", a cor do Islã e da campanha de Mousavi: Zahra (que usa o cabelo totalmente coberto, não exageremos) também canalizou o impulso de mudança, fez campanha ao lado do marido e apareceu num cartaz de mãos dadas com ele, gesto até recentemente impensável para a maioria de um país onde a polícia religiosa vigia os mínimos desvios do que é considerado o comportamento islamicamente correto.

Como em toda eleição, se o candidato por quem simpatizamos mais ganha, consideramos que o povo deu uma prova de sabedoria. Se perde, eta povinho... No Irã, também é preciso levar em consideração que eleição presidencial, embora com grande participação popular, não é prova de democracia. O Irã é uma teocracia que pretende reproduzir as condições existentes nos primórdios do islamismo. São os aiatolás mais graduados que fiscalizam a pureza do regime e exercem a instância máxima do poder. Eles formam o Conselho de Guardiães e, para competir com Ahmadinejad, escolheram três candidatos presidenciais, de um total de 470 aspirantes. O fato de que o chancelado Mousavi, quase um sósia do paraguaio Fernando Lugo, tenha despertado tanto fervor foi, por si, um sinal de esperança para todos. Mas a apuração parcial indicava vitória de Ahmadinejad.




loading...

- Entenda Quem é Quem Na Política Iraniana
O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei O líder supremo do Irã é a figura mais poderosa do país. Ele nomeia o chefe do Judiciário, seis dos 12 membros do Conselho dos Guardiões, os comandantes de todas as Forças Armadas, líderes das orações...

- Façam Barulho!
Como já muitos sublinharam, o que está em causa no Irão não é a pessoa de Mousavi, mas sim a possibilidade de alguma abertura no regime iraniano. E tudo o que for feito com seriedade neste sentido deve ser incentivado, apoiado e aplaudido. . Como...

- De Olhos Postos No Irão
Contrariamente ao que poderia ser esperado à partida, não é certo que Ahmadinejad vença as eleições iranianas. A primeira volta realiza-se hoje e grandes expectativas estão depositadas no moderado Mousavi. Como é evidente, qualquer solução...

- Irã: As Muitas Faces Míriam Leitão
 O GLOBO Os levantes populares sempre parecem surpreendentes para quem está de fora. Mas eles são construídos devagar. Embaixo da capa de uniformidade que os regimes autoritários conseguem construir, as mudanças acontecem sem que externamente...

- Irã A Revolta Contra Ahmadinejad
A revolta assusta os turbantes Protestos contra fraude na reeleição de Ahmadinejad expõem o desejo de mudança de uma sociedade mais jovem, moderna e bem-educada que aquela que levou os aiatolás ao poder Thomaz Favaro Fotos Behrouz Mehri/AFP e Konstantin...



Política








.