Obama e McCain lembram as vítimas do atentado a Nova York.
Eles ainda acreditam que todo político tem de parecer durão
contra o terrorismo. O eleitor americano, nem tanto
André Petry, de Nova York
Timothy A. Clary/AFP |
NO GROUND ZERO Obama e McCain, nos seus quinze minutos de união: só 4% acham o terrorismo o maior problema do país |
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Há duas semanas, o candidato democrata Barack Obama telefonou para o adversário, o republicano John McCain, para saudá-lo pelo anúncio oficial de sua candidatura presidencial. Na conversa, propôs que aparecessem juntos na cerimônia do sétimo aniversário do atentado terrorista ao World Trade Center, em Nova York. Na quinta-feira passada, os dois estavam no Ground Zero, onde ficavam as duas torres. Estiveram juntos por quinze minutos, cumprimentaram parentes de algumas das 2 751 vítimas do ataque e puseram rosas no lugar de homenagem aos mortos. A trégua na campanha, que desde o aparecimento da vulcânica Sarah Palin está cada vez mais ácida, joga luz sobre o significado político dos atentados de 11 de setembro de 2001. O primeiro parece imutável: passar ao eleitorado a impressão de que ser moderado no combate ao terrorismo é algo que ainda aterroriza os políticos americanos. Eles são, ou acham que precisam parecer, a encarnação de Rambos de gravata – ou de saia, como prova Palin, até agora a língua mais belicosa da campanha. (Na sua primeira entrevista à TV, disse que atacaria a Rússia para defender a Geórgia.)
O mundo político, na verdade, está reagindo na base do reflexo condicionado. Como o presidente George W. Bush ganhou a reeleição agitando a bandeira da ameaça terrorista e mostrando suas ganas de caubói texano, os políticos temem abandonar a bandeira e as ganas. Mas, sete anos depois do 11 de Setembro, o eleitor americano não é o mesmo. Levantamentos do instituto Gallup mostram que é decrescente a preocupação com o terrorismo. Em 2004, quando Bush foi reeleito, cerca de 25% diziam que a ameaça terrorista era o principal problema do país. Em 2006, eram 16%. Agora, só 4%. Um dado ainda mais significativo é que, conforme pesquisa da CNN, apenas 37% acreditam que a ausência de novos atentados em solo americano seja resultado das políticas de Bush.
Steve Ludlum/The New York Times |
O AUTOR E SUA OBRA Bin Laden e as torres em chamas: sete anos depois, os EUA não fazem idéia de onde ele está |
Nem poderia ser diferente. A caça ao terrorista Osama bin Laden, o mentor do 11 de Setembro, tem sido uma sucessão de equívocos, quase sempre provocados pela obsessão iraquiana da Casa Branca. Em 2002, o governo americano começou a tirar dinheiro do Afeganistão para investir na guerra no Iraque. Ou seja: sacou dinheiro de onde se supõe que se concentrava, e ainda se concentra, a maioria dos terroristas para aplicar os recursos onde eles sempre foram minoritários. Em 2005, em outro movimento que se mostrou um erro tremendo e novamente guiado pela fixação iraquiana, a CIA entendeu que Bin Laden estava enfraquecido e voltou suas atenções para outros grupos terroristas, que lhe pareciam mais estruturados, sobretudo os sócios da Al Qaeda no Iraque. Em agosto de 2006, quando vieram a público os planos para explodir Londres, ficou claro que a Al Qaeda de Bin Laden estava na ativa e com seu comando recomposto. O resultado é que, sete anos depois, Bin Laden está livre e especula-se que esteja vivendo no Paquistão, aliado dos EUA, na fronteira com o Afeganistão. Mas nem isso é certo. Bruce Riedel, ex-analista da CIA, admite: "O fato é que não temos uma mísera evidência de onde ele está".
Osama bin Laden tem 51 anos, é saudita, acredita-se que ande sempre disfarçado, não usa nenhum tipo de comunicação eletrônica mas, desde o 11 de Setembro, em plena faina terrorista, já divulgou uns vinte vídeos. Enquanto isso, o governo Bush tateia. Só na semana passada vieram duas novidades a público. A primeira é que, diante de resultados tão parcos, as autoridades americanas estão repensando sua estratégia para capturar Bin Laden. A segunda é que os americanos decidiram desfechar ataques a alvos terroristas dentro do território do Paquistão mesmo sem autorização do governo local.
Para Bush, que fez do combate ao terrorismo sua marca registrada, é um saldo tão lamentável que, até pouco tempo atrás, se tinha certeza de que o futuro presidente, fosse quem fosse, mudaria de rumo. Já não se tem mais essa certeza. A presença de Sarah Palin na chapa de McCain é uma guinada à direita com uma reafirmação da doutrina Bush. Na política americana, Palin talvez seja a última a associar o Iraque aos ataques de 11 de setembro e ao terrorismo em geral – algo que a maioria dos republicanos deixou de defender há tempos. Na entrevista à rede ABC, disse que os novos soldados que estão indo para o Iraque – entre eles, seu filho de 19 anos – vão lutar contra "os inimigos que planejaram e festejaram a morte de milhares de americanos". Nem Bush acredita mais nisso.