"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa:
_ Eu sou de lá de Cachoeiro..."
Rubem Braga morreu à noite, num quarto do Hospital Samaritano, no Rio, onde estava sozinho como desejara e pedira aos amigos.
A causa mortis foi uma parada respiratória em conseqüência de um tumor na laringe, que ele preferiu não operar.
_ Eu sou de lá de Cachoeiro..."
Rubem Braga morreu à noite, num quarto do Hospital Samaritano, no Rio, onde estava sozinho como desejara e pedira aos amigos.
A causa mortis foi uma parada respiratória em conseqüência de um tumor na laringe, que ele preferiu não operar.
Homem decidido e corajoso, sabia da gravidade de sua doença, mas segundo seu médico e amigo, o neurologista Sérgio Carneiro, preteriu todo e qualquer tipo de tratamento para combatê-la.
O último plano de Rubem, simples e perfeito como os que organizaram sua obra, seria colocado em prática dias após sua morte: a cremação em São Paulo. Certamente seus amigos lembraram-se de uma pequena crônica sua, chamada "Berço de mata-borrão", onde Rubem conta sua curiosa pesquisa atrás da melhor maneira de se fazer cremar. A bem-humorada crônica expõe o lado metódico e precavido do autor, que, dois dias antes de sua morte, reuniu os amigos na sua cobertura em Ipanema, no que todos entenderam como uma despedida.
A crônica das coisas simples da vida
Rubem Braga escondia, por trás da aparente determinação, a alma de menino, curtidor de coisas simples. Escreveu um pouco de tudo isso: infância, mar, mulheres, amigos, saudade, esperança, solidão, morte. E também sobre "coisas humildes e vagabundas que entretanto não fiz, nem com certeza farei".
Extraia tudo do nada e transformava trivialidades em grandes temas. E mesmo fingindo não levar a sério o gênero meio amaldiçoado, orgulhava-se de cultivá-lo, porque era pelas crônica que transitava naquele terreno meio vago entre a literatura e o jornalismo, duas de suas paixões.