Anna Paula Buchalla
"Do total produzido nas casas, apenas 2% é destinado à coleta seletiva", afirma a bióloga Elen Aquino, pesquisadora do Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (Cepema), da Universidade de São Paulo. O restante vai parar em lixões a céu aberto ou, na melhor das hipóteses, em aterros sanitários cuja capacidade máxima já está próxima do limite. Para piorar o quadro, muitas vezes o cidadão toma o cuidado de separar metais, vidros, plásticos e papéis acreditando que esses materiais serão reciclados, mas as empresas de limpeza contratadas pela prefeitura acabam por misturá-los num mesmo caminhão. O desempenho das administrações municipais costuma ser um lixo em matéria de lixo, mas não por falta de boas leis. No estado de São Paulo, por exemplo, a legislação obriga todos os condomínios com mais de cinquenta unidades residenciais a ter coleta seletiva de lixo. Uma nova lei publicada na semana passada determina que shoppings, prédios comerciais e indústrias da cidade de São Paulo separem o lixo reciclável. Só poderão ser levados a aterros o lixo orgânico e materiais que não são reaproveitáveis, como isopor, espelhos e papel higiênico. Em que pesem as consuetudinárias dificuldades brasileiras de fazer valer a legislação, e não só quando o assunto é sujeira, é preciso perseverar na divisão do lixo doméstico e, além disso, tentar diminuir a quantidade diária de dejetos. No mínimo, você manterá a consciência mais limpa. A seguir, as quatro soluções domésticas que mais ajudam a reduzir o lixo dentro e, consequentemente, fora de casa.
Fotos Alexandre Schneider, Bira Prado, Dougal Waters/Getty Images, Levi Mendes Jr e Istockphotos |
Separação e reciclagem de papéis,
vidros, plásticos e metais
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil descarta a cada dia 230 000 toneladas de detritos – e mais da metade disso corresponde a lixo doméstico.
Como fazer: evidentemente, usando recipientes diferentes para cada material. Papéis, em geral, são recicláveis, com exceção daqueles sujos. Não podem ser reciclados: fraldas descartáveis, absorventes, papel higiênico, guardanapos de papel, papel-toalha e embalagens metalizadas de salgadinhos. O ideal é que você encontre tempo para verificar se o que separou em casa continuará separado no caminhão de lixo e depois encaminhado, de fato, a uma usina de reciclagem. No mínimo, para não fazer papel de trouxa – que, como todos sabemos, não é reciclável
Vale a pena para a cidade? E como! Os materiais recicláveis representam 70% do volume de lixo produzido numa cidade. Por isso, separá-los dos outros detritos resulta em muito mais espaço nos aterros sanitários
Em quanto reduz a poluição ambiental? A reciclagem retira do lixo uma série de materiais que levariam um tempo assombroso para se decompor – como plástico (450 anos), latas de alumínio (200 anos) ou vidro (1 milhão de anos). Além disso, ao ser reaproveitado, o lixo reciclável economiza recursos naturais. "Uma tonelada de papel reciclado poupa 22 árvores, 75% de energia elétrica e polui o ar 74% menos do que a produção da mesma quantidade de papel com matéria-prima virgem", diz a bióloga Elen Aquino
Compostagem doméstica
Adubo feito em casa Com a compostagem doméstica, a bióloga Patrícia Blauch diminui seu lixo orgânico e o aproveita nos vasos de plantas |
Como fazer: pode ser montada em um tambor de plástico. O tamanho da composteira de cascas de frutas, folhas e talos depende muito do espaço disponível para abrigá-la. Para uma família formada por um casal e dois filhos, um tambor de 50 litros é suficiente para comportar o lixo produzido em um mês
1. Para começar, é preciso fazer furos na lateral do recipiente, a fim de escoar o líquido que se forma com a decomposição dos restos. Ele pode ser recolhido em vasilhas. Não se preocupe: esse líquido não é tóxico, ao contrário do chorume dos aterros, que resulta da mistura de outros tipos de detrito
2. Com o recipiente da composteira pronto, forre o fundo com pedrinhas e coloque a primeira camada de lixo orgânico. Em seguida, cubra-a com terra de jardim, folhas secas ou serragem. Vá intercalando as camadas de detritos com esse tipo de cobertura
3. A cada dois ou três dias, revolva camadas e coberturas, para garantir a oxigenação do material e acelerar, assim, a decomposição
4. Uma vez que o recipiente esteja cheio, é preciso esperar em torno de dois meses para que o processo de compostagem se complete. Depois disso, o conteúdo pode ser usado como adubo
Vale a pena? Sim, desde que se tenha clara a destinação do composto. Quem não tem no apartamento ou em casa muitos vasos ou áreas ajardinadas que consumam todo esse adubo deve organizar-se para doá-lo a amigos ou aplicá-lo em áreas verdes da vizinhança
Em quanto (ou como) reduz a poluição ambiental?
Se aliada a um triturador (para os restos de comida), a composteira reduz o lixo doméstico em cerca de 60%
Triturador de lixo na pia
Onde comprar e como instalar: o equipamento é encontrado em lojas de material de construção e custa cerca de 800 reais. Pode ser instalado facilmente por um encanador. Para receber o aparelho, a cuba deve ter um ralo um pouco maior do que o convencional. Além disso, é necessário um ponto de eletricidade embaixo da pia para ligá-lo. O triturador substitui o sifão normal e é ligado à tubulação doméstica
O que faz: tritura restos de frutas, legumes, ossos e cascas de ovos, entre outros resíduos orgânicos, com um consumo médio de energia mensal equivalente ao de uma lâmpada de 100 watts ligada durante uma hora. Os detritos são descartados pelo cano em vez de ir para a lata do lixo
Por que vale a pena: porque facilita o tratamento de parte do lixo orgânico produzido numa casa – desde que, é lógico, ele vá parar numa estação de tratamento de esgoto
Em quanto reduz a poluição ambiental?
Com o triturador, uma família pode reduzir em 40% o volume de lixo orgânico. Isso significa menos detritos nos aterros sanitários – e, consequentemente, menor quantidade de matéria orgânica decomposta na forma de chorume (aquele líquido nojento que polui córregos e rios) e gases do efeito estufa
Coleta de óleo de cozinha usado
Como fazer: guarde o óleo usado em garrafas ou recipientes fechados com tampa e envie-os para reciclagem. Várias ONGs e empresas se dedicam a essa coleta. Em São Paulo, uma das pioneiras é a ONG Trevo (www.trevo.org.br). Por 30 reais, o condomínio pode adquirir um recipiente para recolher o óleo de cozinha usado pelos moradores. A Trevo se encarrega de retirar o material. Quem mora em casa tem de levar o resíduo aos postos de coleta com endereços no site. Na Grande São Paulo e no litoral paulista, outra ONG, a Triângulo, dispõe de 170 postos para a coleta de óleo (veja a lista no site www.triangulo.org.br).
No Rio, a SOS Óleo Vegetal oferece o mesmo serviço. A empresa Ambiental serve cidades do Paraná e Santa Catarina (os endereços dos postos de coleta podem ser solicitados pelo [email protected])
Funciona? Sim, desde que as empresas de coleta sejam confiáveis e de fato deem uma destinação adequada ao óleo. A Trevo, por exemplo, faz o tratamento e encaminha o material para fábricas de biocombustível. A Triângulo, por sua vez, usa o material na fabricação de sabão
Em quanto reduz a poluição ambiental?
De uma forma impressionante. De acordo com cálculos da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, cada litro de óleo de cozinha usado pode contaminar até 20 000 litros de água potável.
Embalagens de alumínio
O Brasil é o campeão, com 94% de reciclagem, à frente de Japão e Argentina (ambos com 90%)
Garrafas PET
O país recicla 51%. Os japoneses, que estão em primeiro lugar, exibem um índice de 62%
Embalagens de Vidro
Os brasileiros superam os americanos, por 46% a 40%
Anote (no bloco de papel reciclado, é claro)
Istock |
Algumas atitudes que você pode tomar para reduzir ainda mais seu lixo e não prejudicar o ambiente:
Ao substituir um celular, entregue o antigo na mesma loja em que o novo foi comprado. O equipamento será encaminhado ao fabricante, que poderá reaproveitar algumas das peças e dará um destino apropriado às não
reutilizáveis
Use cartuchos de impressora reciclados. A fabricação de um único cartucho requer o uso de 5 litros de petróleo e ele demora cerca de cinquenta anos para se degradar naturalmente
Na hora de comprar, dê preferência a embalagens maiores ou retornáveis e produtos com refil. No supermercado, em vez de alimentos pré-embalados em bandejinhas de isopor (que não é reciclável), prefira comprar a granel
Opte por lâmpadas de baixo consumo. Além de gastarem menos energia, elas duram mais. Mas cuidado ao descartá-las: não podem ir para o lixo comum porque, quando se quebram, emitem vapor de mercúrio. A recomendação é que sejam devolvidas aos estabelecimentos que as vendem
Ao comprar calçados ou roupas, dispense as caixas e folhas de papel
que costumam embalá-los
Com reportagem de Iracy Paulina e Jacqueline Manfrin
A máquina que lava (quase) sem água
O projeto: desenvolvida pelo inglês Stephen Burkinshaw, da Universidade de Leeds, a máquina consome apenas 10% da água usada em lavagens comuns e economiza 30% de eletricidade Como funciona: a lavagem é feita basicamente por milhares de minúsculas esferas de polímeros de náilon que, umidificadas, atraem e absorvem a sujeira das roupas. Essas esferas podem ser reutilizadas até 100 vezes, o que equivale a aproximadamente seis meses de uso. Elas requerem também pouco detergente O impacto ambiental: em relação às lavadoras comuns, diminui em 40% a emissão de carbono, componente do principal gás do efeito estufa, causador do aquecimento global Previsão de lançamento: até o fim de 2010. Seu inventor acredita que, nos primeiros anos de fabricação, por causa do alto preço, a máquina será adquirida apenas por grandes hotéis e lavanderias |