Mãe, vamos orar?
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Mãe, vamos orar?



Duas imagens guardadas da infância são recorrentes na minha idade adulta. Dizem respeito a quadros que eu costumava ver nas paredes das escolas, ou mesmo em lares simples que visitava, na companhia de minha mãe, objetivando atender às necessidades de famílias muitos pobres. Um desses quadros reproduzia a figura linda de um anjo da guarda protegendo duas crianças que atravessavam uma ponte rústica e perigosa em dia de tempestade e rio transbordante. Em sua suavidade, ele nos dava a dimensão da Proteção Divina aos seus filhos pequeninos da Terra. A estampa falava silenciosamente da Misericórdia de Deus.
O outro reproduzia cena suave de uma mãe rezando junto com sua filhinha, ao lado da cama, antes de dormir. Oravam ambas de joelhos e mãos postas. Era lindo esse quadro! Foram imagens que me impressionaram as retinas infantis.
Também de minha infância e adolescência, trago registros sonoros que se fixaram em minha mente: era o som da Ave-Maria ouvido, as seis da tarde, em todas as casas. Ouvíamos todos no caminho de volta a casa, após as aulas. E eu apressava o passo porque em meu lar espírita também orávamos as seis da tarde para unir as nossas preces às preces dos católicos. E aprendíamos lições do Evangelho de Nosso Senhor, enquanto orávamos em torno da mesa simples de nosso lar, onde compartilhávamos o pão de cada dia. Era o pão espiritual, hoje infelizmente escasso nos lares ruidosos e confusos, onde pouco se pratica a arte dos encontros.
Dessas suaves lembranças há também registros do perfume das flores que cresciam no quintal de nossa casa. Eu recebia a incumbência de colhê-las e repassá-las aos nossos vizinhos de fé católica, que invariavelmente as buscavam para adornar seus oratórios domésticos. Fomos orientados a incentivar a busca da espiritualidade sem nos preocuparmos com o modelo escolhido por vizinhos,parentes ou amigos. Toda busca sincera da transcendência deveria merecer nosso incentivo, e éramos induzidos a agir assim precisamente por sermos espíritas. Aprendi, assim, desde pequena, a conviver com as diferenças e aprender com elas.
Pergunto-me hoje: que imagens, que sons, que cheiros nossas crianças registram para suas lembranças no futuro? O que os homens têm feito de seu lado divino? Para onde direcionam sua religiosidade?
Infelizmente sou instigada a associar o crescimento da insegurança e da violência no mundo ao distanciamento do hábito de orar nos lares e à pequena motivação de freqüentar os templos e estar neles.
A Proteção Divina é a mesma. Não muda, mas encontra barreiras para nos alcançar, porque perdemos o fio que deveria manter-nos ligados a ela. Não conseguimos perceber seus avisos, não identificamos os perigos antes que eles nos alcancem. Na fé cultivada em nós pelas mães, quando esse modelo prevalecia, garantia-se a presença e proteção dos anjos. Hoje, a sociedade estarrecida toma conhecimento de que o assassinato de crianças e adolescentes cresceu 306% de 1980 até 2002. Como estamos em 2008, é possível que esse percentual tenha crescido. O que oferecemos hoje às nossas crianças, já que sequer os pais são pessoas confiáveis?
Onde o homem se perdeu, meu Deus? Em que espaço emocional e mental abandonaram Jesus e suas lições?
Jesus nos pediu: “Vigiai e Orai” e garantiu que onde duas ou mais pessoas estivessem reunidas em seu nome ele aí estaria. A oração no lar, pelo menos, uma vez por semana, criaria um novo hábito ou recriaria os saudáveis hábitos antigos. E isso é urgente. Lembro-me com saudade de meus quatro filhos pequeninos que tombados pelo sono insistiam comigo tirando-me das tarefas profissionais que eu trazia para casa, e, insistentemente, clamavam sonolentos: Mãe,vamos orar? Vamos logo, mãe, senão eu durmo.
Estatísticas atuais nos informam que é muito pequeno o número de presidiários provindos de lares que incentivaram a reflexão religiosa e que encaminharam seus filhos aos templos desde a mais tenra infância, estimulando-os à oração.
O momento atual não é mais de um convite à oração. Ele indica a Oração por recurso único e compulsório nesta hora em que os seres humanos se degradam, se matam e intoxicam suas mentes com cenas horripilantes, trágicas, a invadir nossos lares pelos meios de comunicação. A oração se torna, então, recurso único de limpeza espiritual. É o grande energético que falta em nossos lares, uma questão de saúde coletiva.
Miremo-nos nos exemplos de Maria Santíssima, Mãe do Salvador, que deu ao seu menino santo à bênção do templo e formou nele o hábito de orar. Jesus freqüentava o templo apesar dos desvios dos sacerdotes. Ensinou-nos a orar a Oração Dominical. Exalta o valor da prece até o último momento de convivência com os seus discípulos, como registra Lucas (22: 39 a 46). Eis alguns versículos do relato sobre Jesus no Getsemani: “Jesus saiu e, como de costume, foi para o Monte das Oliveiras. Seus discípulos o seguiram. Quando chegou ao lugar, disse-lhes: ORAI para que não entreis em tentação. E, pondo-se de joelhos, orava. Então, um anjo apareceu do céu e o confortava”. Em agonia, orava mais intensamente. Levantando-se da oração, foi ter com os discípulos e os achou dormindo, exaustos de tristeza e disse-lhes: “POR QUE ESTAIS DORMINDO? LEVANTAI-VOS, E ORAI, PARA QUE NÃO ENTREIS EM TENTAÇÃO”.
Cristo busca a elevação (monte). Elevarmo-nos mentalmente é o que a hora difícil requer. Ele é seguido por seus discípulos. Nossos filhos são discípulos nossos. São testemunhas silenciosas de nossos atos, e nos reproduzirão, por certo, em futuro próximo. Quando chegou ao lugar, Jesus lhes disse: “Orai para que não entreis em tentação”. E não se limitou a fazer essa recomendação. Pôs-se ele mesmo de joelhos e orou. É o valor do exemplo por parte dos que sabem. A presença do anjo é a garantia do amor de Deus. Se a agonia aumenta deve-se orar mais como Jesus o fez.
Sobre o sono dos discípulos reflitamos: Em que sono nos temos distraído tanto que abandonamos o recurso da oração e despertamos assustados num mundo feroz?
Jesus adverte-nos outra vez: “Por que estás dormindo?” E dá-nos a solução para os transtornos e medos desta hora: LEVANTAR e ORAR. Não nos deixemos acomodar ao que nos faz adoecer o espírito.
Eis o de que mais necessita a humanidade nestes dias de tanta perturbação. Só com muita oração poderemos enfrentar as dores que nos angustiam no mundo atual. Jesus orava muito como nos relatam os evangelistas:
Orava ao amanhecer como lemos em Mt.1:35 “Levantando-se muito cedo, ainda escuro, saiu e foi para um lugar deserto, e ali orava.”
Orava após a tarefa, ao anoitecer:”Tendo despedido as multidões subiu ao monte para orar sozinho.Em caindo a tarde, lá estava ele, só”.
( João, 6:16)
Orava antes das grandes decisões de sua vida: “Naqueles dias subiu ao monte a fim de orar, e passou a noite em oração a Deus. Ao amanhecer chamou a si os discípulos e escolheu doze dentre eles.” E todos os dias Jesus ia ao templo ensinar aos homens a necessária convivência com o seu lado divino, como registra Mateus ( 26:55)
Dirijo-me às mães porque “As mães guardam as chaves de controle do mundo”. “Mães de sábios... Mães de idiotas... Mães felizes... Mães desditosas... Mães jovens... Mães experientes... Mães sadias... Mães enfermas... Ao filtro do amor que lhes verte do seio, deve o Plano Terrestre o despovoamento dos círculos inferiores da Vida Espiritual, para que o Reino de Deus se erga entre as criaturas.” (Emmanuel in “O Espírito de Verdade” cap 50 ).
O mundo nunca exigiu tanto o hábito da oração nos lares como nesse momento da renovação do planeta. No livro “Há dois mil anos” Emmanuel narra o instante em que Jesus recolhe os cristãos que se deram em sacrifício pela causa de seu amor ao mundo. Nesse grupo estava Lívia Lentulus. Jesus fala dos pesados tributos que a Terra pagará, pela evolução dos instintos e anestesia dos sentimentos mais suaves: “Exaustos de receber os fluidos venenosos da ignomínia e da iniqüidade de seus habitantes, o próprio planeta protestará contra a impenitência dos homens, rasgando as entranhas em dolorosos cataclismos... As impiedades terrestres formarão pesadas nuvens de dor que rebentarão, no instante oportuno, em tempestades de lágrimas na face escura da Terra e, então, das claridades da minha misericórdia, contemplarei meu rebanho desditoso e direi como os meus emissários: Ó Jerusalém, Jerusalém!...” Essa hora já chegou. É tempo de intensificarmos a oração nos lares e tempo de mudança de hábitos. É hora de unir mentes e corações para intensificarmos o projeto socorrista de Jesus ao mundo doente.
A maternidade responsável abre as portas a um futuro de maior tranqüilidade e paz. Assim, enquanto se ouvir uma suave canção de ninar junto a um berço, haverá esperança para o mundo. Ensinemos aos nossos pequenos o caminho dos templos e o valor da oração. E estaremos renovando o mundo. Fica ainda e sempre o nosso convite: MÃE,VAMOS ORAR?


Alcione Peixoto.

Em 10 de maio de 2008.



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