PERGUNTAS QUE NÃO CALAM
Política

PERGUNTAS QUE NÃO CALAM



Com grande espanto verificamos que o ano se foi. Em nossa dimensão, costumamos passar pelo tempo despreocupadamente, daí a relatividade com que o encaremos, correndo o risco de não lhe reconhecermos o valor devido. Outra é a visão dos Espíritos responsáveis. Para eles, o tempo constitui abençoado tesouro, patrimônio divino que nos é cedido por empréstimo, para reestruturação de nossos espíritos. A rigor, o aspecto do tempo que nos pertence é o uso que dele fazemos. Por isso seremos, um dia, chamados a prestar contas da forma como o utilizamos. Pertence a Cecília Meireles a melhor conceituação desse bem: é o “prazo do Criador na Criatura”.
Como não sabemos quando vence nosso prazo na Terra, devemos aproveitá-lo em aquisições que possamos levar conosco, quando se operar a grande mudança em relação a cada um de nós. Equipemo-nos de coragem para uma adequada incursão no território de nós mesmos; avaliemos os benefícios que as horas nos têm propiciado durante a vida; relacionemos as dores e alegrias que nos têm sido proporcionadas.

Pensando na avaliação que nos devemos a cada marco de nossa caminhada, que se define na Terra pela seqüência dos anos, é que intentamos refletir sobre algumas perguntas feitas por Jesus, atualíssimas todas, sobretudo nestes momentos em que o calendário nos informa que o ano se foi.Selecionamos algumas.

“A quem procuras?”, eis a primeira indagação (em João, 20:15). Se procurarmos ídolos na Terra, com certeza encontraremos a desilusão. Se buscarmos quem nos resolva os problemas que criamos na esteira dos séculos e ora nos atormentam, nossa busca será vã, porque teremos de trilhar o caminho da volta com todos os detritos que espalhamos na ida. Todavia, se harmonizarmos os nossos passos com as diretrizes da Lei Maior ensinada por Jesus de Nazaré, percorreremos a mesma estrada, com o diferencial de sermos amparados por seus braços.

Outra pergunta que importa considerar: “Que está escrito na Lei? Como a lês?” (em Lucas, 10:26). Conhecemos de fato a Lei que nos rege? Durante quantas vidas memorizamos os Dez Mandamentos, em lares aparentemente abençoados pelas luzes do Cristianismo. Mas continuamos a fazer opção pelas armas, pela traição, pelo abandono dos pais idosos, pelo falso testemunho, pela cobiça e pelo total desamor a Deus, e, por extensão, a seus filhos. Que familiaridade temos com o Sermão do Monte, onde Jesus sintetiza as leis divinas? Sua observância tornaria mais agradável a permanência na Terra.

“Se amais aos que vos amam, qual é a vossa recompensa?” (em Mt., 5:46)” Até os ímpios amam aos que os amam”, comenta o Mestre. E Humberto Rohden, notável exegeta dos ensinos do Nazareno, sentencia: “Enquanto o amor aos inimigos se nos apresentar como um dificultoso dever compulsório, uma virtude ou virtuosidade, é claro que não temos a menor garantia de que vamos amar nossos inimigos”. Mas, transformando dever em ato espontâneo e virtude em sabedoria e compreensão da realidade, esse amor deixará de ser um fenômeno sazonal e passará a ser uma realidade permanente, conclui o famoso autor.

Voltemos aos códigos divinos se quisermos mesmo reestruturar o mundo desordenado de hoje e cuidar da Terra a partir de nossa reestruturação psíquica.

“Não provém vosso erro de não conhecerdes as escrituras nem o poder de Deus?” (em Marcos., 12:24). É Jesus novamente insistindo no ponto básico. Conhecer. Entrar em contato com a Verdade que liberta. O poder de Deus abrange tudo o que nos cerca. O tempo vai desvendando para nós as pequenas verdades possíveis ao nosso pobre entendimento. Que falta nos tem feito o real conhecimento das Verdades de Jesus!

“Crês no Filho do Homem?” (em João, 9:35). É mais uma pergunta a ser respondida no tempo novo que o calendário anuncia. Cremos? De que forma temos crido? Tiago, referindo-se à inoperância da fé sem obras afirma que “até os demônios crêem, e tremem.”. E nós, como cremos? Em quantos sistemas inconsistentes temos baseado nossa crença, meu Deus! Quantas crenças ruíram! Quantas ideologias desabaram! Quantas certezas se mostraram vãs e inúteis no difícil aprendizado do caminho! E Jesus continua aguardando nossa maturidade para entender seus preceitos tão claros e tão simples: “Quem crer em mim, do seu interior fluirão rios de água viva”. Quantos se teriam servido dessas águas claras para irrigar o solo inóspito dos corações? Estes na verdade se tornaram fontes inesgotáveis de sabedoria e amor. Quando chegará a nossa vez?

“Quem dizes que eu sou? Ou: “Que pensais vós do Cristo?” (em Marcos, 8:27 e Mateus,23:42). Se conhecemos a Jesus respondamos logo: Quem é ele? O que representa de concreto em nossa vida? Como o vemos hoje? O que temos pensado dele ao longo de nosso difícil amadurecimento? Em que temos mudado diante de seus ensinos? Quem é Jesus para mim? Respondamos a essas indagações do Mestre para melhor nos situarmos diante de nós mesmos.

“Por que me procuráveis?” (em Lucas, 2:49). Essa pergunta foi endereçada aos seus pais, que o buscavam por amor, com o sentido de protegê-lo. E nós o buscamos por amor? Declaramos esse amor em nossas orações? Quando o procuramos com mais insistência? Por que e para que o procuramos? É mais uma pergunta a fazer-nos no raiar do novo ano: Que diferença faz sua presença em minha vida? Se o reconhecemos como ponto de luz em torno do qual deve gravitar nossa vontade mais profunda, prostremo-nos diante da sua luz e ouçamos suas lições e seus questionamentos. Tendo-nos diante de seus olhos translúcidos e radiantes de alegria, há de perguntar-nos ainda:

“Que quereis que eu vos faça?” (em Mateus, 21:32 ). Com essa pergunta, reafirma ele seu respeito por nós e o apreço que demonstra pelas súplicas que lhe endereçamos em cada fase de nosso crescimento espiritual. Demonstra, ainda, o quanto nos conhece. Sabe exatamente que só o procuramos quando dele precisamos para a concessão de alguma graça, de algum favor.

Confessemo-nos: que queremos que Jesus nos faça? O que esperamos dele hoje? Qual o nosso pedido que reservaríamos ao Mestre? Felizes dos que responderem como os dois cegos: “Senhor, que se nos abram os olhos”.

Como nos vê Jesus e como nos vemos a nós mesmos, diante dessa nova pergunta do Pastor Divino? “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” Por que relutamos em segui-lo se já o reconhecemos? Narra o Evangelho que alguns soldados que o foram prender, não conseguindo fazê-lo, se justificavam perante os s fariseus que os chefiavam respondendo: “Jamais alguém falou como este homem”. Somos como esses guerreiros. Já admiramos Jesus e achamos lindos os seus ensinamentos, mas não o amamos o bastante para fazer o que ele nos manda.

“Por que dormes?” Acorda-nos o Mestre. E, quase sempre, o questionamento surge no momento que antecede uma nova grande dor, como aconteceu aos discípulos na ocasião em que essa pergunta lhes foi formulada.. Se a dor é grande, mais ampla deve ser a tarefa a desempenhar. Não vale o desânimo porque “se o sal se tornar insípido, com que se há de salgar?” É mais uma indagação para esta hora. Sofrer sem perder o sabor agradável que a todos contenta. ”Sal é o tempero, o conservante. Como manter acesa a chama da luz que o Cristo nos entregou, se caímos no desânimo?

E para termos a certeza de que a luz que há em nós não são trevas, encaremos essa nova indagação: “Que arrazoais em vossos corações?”. Vigiemos durante todo o próximo ano. Atentemos para a seleção que deve nortear a escolha das palavras, das imagens e dos sentimentos que arquivaremos em nossa alma. Quais os sentimentos a que damos prioridade? Guardamos no coração mais fatos agradáveis, ou somos colecionadores de detritos, de mágoas, medos, tristezas, culpas?

Quais são nossos mais íntimos questionamentos? Pensemos nisso porque o que retemos no coração aflora, nos lábios: “a boca fala do que o coração anda cheio”.

Por fim, apuremos ouvidos e mentes para as últimas perguntas que selecionamos para reflexão ao início do novo ano, o qual certamente não estará livre de transtornos, no curso inevitável do atual processo de transformação:

“Por que choras? Onde está a vossa fé?”. Socorramo-nos dessas duas perguntas sempre que, no transcurso dos dias que virão, formos confrontados por novos sofrimentos.

Reconhecendo em Deus a suprema Justiça, mantenhamos intacta nossa fidelidade a Ele, buscando fortalecer dia a dia a nossa fé. Nesse estado espiritual, fixemos em nossos espíritos esta última pergunta de Jesus: “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los?”

“Digo-vos que depressa lhes fará justiça” responde o Mestre. No silêncio de nós mesmos, respondamos com sinceridade às perguntas do Senhor. Oremos e confiemos em suas palavras, buscando maior familiaridade com ele através da oração e da dedicação ao estudo e prática de seu Evangelho. Eis as reflexões para 2010.

Feliz Ano Novo!!


Alcione Peixoto



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