Política
Mais esparadrapo na Europa VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 16/09/11
BC Europeu põe uma colher de água fria no balde da fervura da crise, que ainda piora, sem solução à vistaA PIORA contínua da crise europeia fica apenas mais evidente a cada atitude desesperada para remediá-la, dessas que causam "alívio nos mercados", uma bobice que a gente lê e ouve quando as Bolsas dão uma subidinha de uns dias.
A coisa está tão feia que até a liberal revista britânica "The Economist" sugeria, em sua edição semanal publicada ontem, que: 1) É preciso reconhecer logo que a Grécia quebrou; 2) Isso feito, é preciso que os governos cubram as perdas de bancos com o calote grego e seus reflexos (perdas) com dívidas de outros países quase quebrados (Portugal) ou "ilíquidos" (como Itália).
O "alívio" de ontem veio apenas de uma aplicação rápida de esparadrapo na sangria. O Banco Central Europeu (BCE) combinou com seus confrades americano, britânico, suíço e japonês de arrumar uma linha de empréstimo em dólares para os bancos europeus.
Os bancos europeus estão curtos de dinheiro em dólar porque fundos e bancos americanos não querem emprestar nada além do curto prazo. Não querem porque temem quebras de bancos na Europa, expostos que estão a empréstimos para governos europeus, alguns dos quais jamais verão de volta.
Esclareça-se, óbvio, que bancos europeus precisam de dólares para fazer negócios "ultramarinos" e porque têm, claro, passivos em dólares.
Acrescente-se ainda que não são apenas os americanos que desconfiam de seus pares europeus. A taxa de empréstimos interbancários na Europa está no nível caro e crítico de abril de 2009, quando ainda se sentia o pavor da quebradeira de bancos nos Estados Unidos, intensa em 2008.
A reaplicação do esparadrapo bancário (houve outra em maio) segue-se ao retorno do BCE às compras de títulos da dívida de Itália e Espanha, em agosto. Isto é, o BCE empresta dinheiro a esses governos, baixando o custo médio da dívida deles.
Sem o BCE, o custo dos empréstimos italianos e espanhóis subiria a ponto de levar tais países da situação dita de "iliquidez" (falta temporária de dinheiro) para a de risco de insolvência (o custo da dívida sobe muito mais que a receita de impostos, em baixa devido à quase recessão de agora): de quebra.
Tudo isso é esparadrapo porque a eurolândia não sabe o que fazer com o fato de a Grécia não ter como pagar a dívida. O "aperto dos cintos" (gastos) gregos produziu apenas mais recessão e incapacidade de gerar receita. Sem receber a parcela deste mês do fundo de empréstimos europeu para países semiquebrados, a Grécia não terá como pagar as contas de outubro.
Enquanto isso não se resolve, enquanto permanece o risco de um calote desordenado grego, permanecem também as tensões no financiamento dos bancos e dos governos mais endividados. O que ajuda a reduzir a confiança e o crescimento na Europa e no resto do mundo. O que piora as contas dos governos.
Há boatos de que, no próximo final de semana, europeus e americanos possam discutir uma solução de verdade para esse tumulto. Pode ser, mas os europeus, Alemanha à frente, terão de deixar de lado pruridos e a desconversa que vêm desde dezembro de 2009 sobre a crise da dívida periférica europeia: assumir o calote e outras heterodoxias.
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