Política
Merval Pereira - A volta por cima
NOVA YORK. Enquanto o candidato republicano à Presidência, John McCain, retoma sua característica de fazer brincadeiras autodepreciativas, dizendo que tem dormido como um bebê desde a derrota e acorda chorando a cada duas horas, no interior do Partido Republicano começa a disputa para uma reestruturação partidária, e a figura chave para esse futuro é a polêmica candidata a vice, a governadora do Alasca Sarah Palin.
Recente pesquisa do Rasmussen Reports mostra que, ao contrário do que assessores da campanha derrotada andaram espalhando, a base do partido não considera Palin a responsável pela derrota.
Nada menos do que 69% dos eleitores republicanos acham que ela ajudou a chapa, e, quando citam qual seria o candidato ideal para o partido em 2012, 64% apontam o nome da governadora do Alasca.
Ridicularizada em programas humorísticos como o “Saturday Night Live”, em que a comediante Tina Fey celebrizouse com sua caricatura, e considerada como “um tiro no pé” do Partido Republicano, pela incapacidade explícita de assumir o governo dos Estados Unidos em caso de necessidade, seus aliados mostram estudos que indicam que, na verdade, a “pitbull de batom” Sarah Palin, como ela se definiu na convenção republicana, fez uma grande diferença a favor de McCain entre o eleitorado feminino.
Enquanto o candidato republicano perdeu 11 pontos entre o eleitorado masculino branco, entre as mulheres brancas sua perda foi de apenas quatro pontos, sempre comparando com a votação de 2004 de George W. Bush.
Para esses analistas conservadores, a presença de Palin na chapa fez com que milhões de mulheres brancas se sentissem representadas como mães e mulheres trabalhadoras.
Ela se transformou na estrela do partido, e líder inconteste da ala tradicionalista, que prega, como defendeu ontem no discurso da reunião dos governadores republicanos, a volta aos valores tradicionais.
Para esses, os republicanos perderam a eleição porque se desviaram do seu credo original, a começar pelo governo de Bush, um governo que ocupou um espaço exagerado na vida nacional, e encerrando com a escolha de um republicano liberal como John McCain.
Em seu discurso de ontem, que foi o ponto alto da reunião dos governadores, Sarah Palin voltou a tocar nos pontos básicos da pregação mais conservadora do partido: corte de impostos, governo pequeno e controle da imigração, juntamente com temas do dia-a-dia das comunidades, como reformas da educação e do sistema de saúde.
Há um outro grupo no partido, chamado de “reformista”, que entende que a mudança tem que ser profunda, para adaptar os valores tradicionais à realidade de um novo mundo, assim como fez o Partido Conservador inglês, que passou a dar mais atenção à questão do meio ambiente, por exemplo, em vez de negar os problemas que existem, como faz Palin.
O Partido Republicano não poderia mais ignorar os jovens eleitores e os hispânicos, que se mostraram uma força na eleição de Obama. E também não poderia continuar a se colocar contra regiões inteiras do país, como também fez Sarah Palin, que acusou a elite americana de se posicionar contra os interesses reais do americano médio.
Voltar para o governo do Alasca, que é a opção mais à mão, seria “sair da primeira classe e ir para a classe econômica” na definição dos dirigentes do partido, que já se movimentam para encontrar um atalho que mantenha a exposição nacional que Sarah Palin conseguiu.
Uma das saídas seria ir para o Senado, numa complicada manobra que está sendo abortada pela recontagem de votos.
No estado da governadora, o senador Ted Stevens, condenado por sete crimes um dia antes da eleição, está sendo ultrapassado na recontagem de votos pelo candidato democrata Mark Begich, governador de Anchorage.
Se o republicano vencer ao final, ele tentará reverter as condenações, mas a direção do Senado já avisou que ele será expulso. Nesse caso, deverá ser convocada uma nova eleição dentro de 60 a 90 dias, e a governadora Palin poderia se candidatar a uma exposição nacional em Washington.
Um dos papéis mais importantes para consolidar o futuro político de Sarah Palin será comandar uma mobilização das bases eleitorais, especialmente no recrutamento de militantes partidários e o alistamento eleitoral, a exemplo do trabalho de longo prazo que fez a campanha de Obama, dois anos antes da eleição presidencial, surpreendendo até mesmo a direção do Partido Democrata, que perdeu o controle da legenda diante da participação maciça de novos eleitores recrutados por Obama.
Pesquisas indicam que a presença maior de eleitores democratas novos fez a diferença na eleição do dia 4 de novembro. O comparecimento dos democratas às urnas aumentou na mesma proporção que decaiu a presença dos republicanos.
Os eleitores registrados aumentaram em 6 milhões, e o comparecimento maciço dos eleitores negros, que geralmente são ausentes em grande número, fez a diferença a favor de Obama.
Os “tradicionalistas” consideram que Sarah Palin tem um papel semelhante ao que teve, nos anos 80 do século passado, o ex-presidente Ronald Reagan: o de trazer para o partido os eleitores jovens e os independentes.
Foi nessa época também que grupos conservadores, como a Associação Nacional do Rifle e a Maioria Moral, aprofundaram suas ações políticas e recrutaram pelo país novos afiliados ao Partido Republicano, como nos últimos dois anos a campanha de Barack Obama fez a favor dos democratas, criando inclusive uma rede independente de apoiadores através da internet que se mostrou de extrema utilidade, não apenas no recolhimento de fundos de campanha como na propagação de mensagens políticas.
Mas muita gente acha que Sarah Palin não tem fôlego para chegar incólume a 2012, assim como não agüentou os meses de exposição na campanha.
O ex-governador Mitt Romney é a melhor aposta para a classe política no momento.
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