O GLOBO
Não há como escapar, agora que o Rio ganhou as Olimpíadas de 2016 e o Brasil sediará a Copa de 2014. Todas as nossas mazelas, mesmo as comuns a outros países, serão analisadas criticamente com lupa pela mídia internacional, a mesma mídia que transformou o presidente Lula em líder de peso internacional e que é usada pelo governo para fazer um contraponto com uma suposta má vontade da mídia brasileira contra ele e sua administração
O apagão de quatro horas de terça-feira se tornou grande assunto em todo o mundo, e sempre com a advertência de que o país terá que melhorar sua infraestrutura para receber as competições internacionais.
Um apagão nos Estados Unidos em 2003 durou quatro dias para ser superado, e ninguém ficou achando que aquele país está se acabando.
Mas não é às letras do Tesouro americano que acorrem os investidores em busca de segurança na crise financeira que foi originada justamente no sistema financeiro dos Estados Unidos? Aos problemas com transportes, hotéis, segurança, soma-se agora a ameaça da falta de energia, mesmo que o apagão de hoje não tenha acontecido por falta de oferta de energia, mas por um problema técnico, que tudo indica ser pontual.
Pode ser um exagero, mas é assim que a banda toca.
Da mesma maneira, não adianta a candidata oficial, Dilma Rousseff, não querer se envolver no caso, deixando as explicações para o ministro Edison Lobão, que está nas Minas e Energia pela simples razão de que o setor elétrico é um feudo do senador José Sarney.
Ela é reconhecida como a grande responsável pela política de energia do governo, e foi nessa condição, e sobretudo na de candidata, que tomou conta da apresentação oficial do programa do governo para o petróleo do pré-sal.
E é graças a essa posição que ela poderá chefiar a delegação brasileira na reunião do clima em Copenhague, mês que vem, fazendo um contraponto interessante para sua candidatura com a outra candidata, concorrente do Partido Verde, a senadora Marina Silva, que deixou o governo justamente pelo “desenvolvimentismo” da dupla Lula/Dilma, que não levava em conta a questão ambiental até que a candidatura de Marina se mostrasse um fato político relevante.
Agora, na hora do ônus do setor, não é Lobão que a sociedade quer ouvir, mas Dilma, que dias atrás, durante entrevista para o programa oficial “Bom dia, ministro”, havia afirmado que investimento em hidrelétricas e construção de novas sete usinas garantiriam que o Brasil não sofrerá um apagão elétrico, como a ameaça ocorrida em 2001, que gerou a necessidade de um racionamento de energia.
Naquela ocasião, a falta de investimento no setor, agravada pela escassez de chuvas, reduziu a capacidade de oferta de energia no país.
Hoje, o problema é outro, mas o ministro Lobão, tentando jogar a culpa pelo apagão atual para o governo anterior, disse que o sistema não era interligado até 2001, e que a ameaça de apagão fez com que o governo FH o interligasse totalmente.
A verdade é que o sistema sempre foi interligado, o que é considerado um ponto positivo pelos especialistas. O governo anterior apenas reforçou sua interligação, já que em 2001 eram apenas duas linhas, faltava uma terceira, que fizesse a ligação entre o Sul e o Sudeste.
A ministra Dilma, quando garantiu que o país não tinha ameaça de um apagão, estava falando de investimentos em oferta de energia, mas se esqueceu de que não houvera investimentos na gestão do sistema, o que acabou causando o problema de ontem.
Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe, departamento de pós-graduação em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explicou com clareza qual foi o problema: “gestão inteligente do sistema”: “O mundo todo dedica atenção a esse problema, de termos redes mais inteligentes de energia elétrica. Para que o efeito não se propague tanto. É possível fazer isso tecnicamente. É um problema de estudo de engenharia elétrica, de fazer gestão do sistema”, explicou ele ao “Bom Dia Brasil”.
Quando se discute gestão administrativa, aí a disputa entra no terreno que é favorável aos candidatos tucanos, seja o governador de São Paulo José Serra, seja o governador de Minas Aécio Neves, dois reconhecidos gestores públicos, com resultados concretos para mostrar.
A imagem de Dilma Rousseff como administradora, que era o mote inicial de sua candidatura, está abalada pela ineficiência do PAC, e agora pode sofrer mais ainda com o apagão.
Ela passou a ser novamente mais exposta, em inaugurações e solenidades públicas, e assumiu o ataque à oposição, mais como a continuadora da obra de Lula do que como gestora eficiente.
Em consequência,voltou a subir nas pesquisas de opinião. A mais recente, do Instituto Vox Populi divulgada pelo “Jornal da Band” na terça-feira, mostra o que já havia sido antecipado aqui na coluna, Dilma voltando ao patamar de 20%, com o tucano José Serra mantendo a liderança com 36%.
O preocupante para o governo é que, sem Serra na disputa, a ministra fica no mesmo nível, e crescem as presenças do deputado Ciro Gomes, com 19%, e o governador de Minas, Aécio Neves, surge como um candidato viável, com 18% das intenções, os três empatados tecnicamente.
Com Serra como candidato tucano, Ciro cai para 13%. Heloísa Helena e Marina Silva, juntas, têm entre 9% e 12%, com a candidata do PSOL aparecendo sempre na frente.
É previsível que a pressão para que Ciro desista de vez da candidatura à Presidência aumente. E, na seara tucana, os números de Aécio com a definição do presidente do partido, senador Sérgio Guerra, de que a candidatura do governador de Minas é “mais ampla” do que a de Serra, podem indicar uma mudança de ventos.