O sistema brasileiro de energia é todo interligado. Isso traz um problema: qualquer problema que aconteça a falta de energia se espalha rapidamente num efeito dominó.
A interligação do sistema começou a ser feita pelos militares e depois do apagão de 2001, o Brasil reforçou essa ligação. A ideia é que se faltar energia num lugar se possa trazer de outro imediatamente. Mas na crise, como nesta noite, apagam-se estados inteiros. No mínimo dez estados ficaram às escuras e mais o Paraguai.
O governo ainda bate cabeça. Não sabe dizer o que houve. Itaipu diz que não foi a hidrelétrica. O Ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, diz que foi um fenômeno atmosférico em Itaipu, mas o Inpe mostra que não chovia sobre a região de Itaipu no momento. Enfim, o governo está perdidinho, horas depois, e não sabe dizer o que houve.
Pior, Lobão disse uma besteira enorme na entrevista: disse que o sistema brasileiro não era interligado no último apagão e depois disso passou a ser interligado. Errado. Ele é assim há décadas. É espantosa a falta de intimidade do ministro de energia com os assuntos da energia no Brasil. Isso é que dá ficar nomeando ministros de energia pelo grau de interligação que ele tenha com o sistema Sarney. Produz este blecaute de informação e de inteligência no sistema como um todo.
A ministra Dilma Roussef que é a verdadeira manda-chuva da energia brasileira vivia batendo no peito e dizendo que agora nenhum problema aconteceria como em 2001 porque o sistema está todo planejado. Não está. O que há de diferente entre 2001 e agora é que São Pedro nos ajudou e os reservatórios estão cheios. Aí a culpa não é do raio, mas sim da falta de inteligência na administração do sistema interligado.
Ele precisa estar ligado para suprir a falta em algum ponto do sistema, mas precisa também saber se proteger do efeito dominó sendo capaz de isolar o problema. O professor Luiz Pinguelli Rosa falou na necessidade de planejar um ilhamento dos problemas para que eles não produzam essa queda de luz no Brasil todo.
O apagão está nos grandes jornais do mundo. Isso assusta o investidor. O governo precisa hoje de dar uma boa explicação, porque é da boa explicação que pode sair um planejamento que evite a repetição do problema. O que ficou claro é que o sistema é vulnerável.