Política
MERVAL PEREIRA Folia eleitoral
O GLOBO - 17/02/10
Depois do périplo carnavalesco pelo Nordeste, não há mais dúvidas de que o governador paulista José Serra será o candidato tucano à sucessão de Lula. Sua decisão pessoal já foi tomada; ele não colocaria aquele chapéu no Galo da Madrugada em Recife se não fosse por uma causa extrema. Resta agora superar obstáculos internos ainda resistentes. Nos últimos dias surgiram boatos de que haveria uma pesquisa feita pelo instituto do cientista político Antonio Lavareda, ligado historicamente aos tucanos e ao DEM, que mostraria um cenário futuro desanimador para a candidatura Serra.
Embora não seja totalmente verdade, o fato é que ainda alguns setores do partido consideram que somente uma candidatura nova, como a do governador mineiro Aécio Neves, seria capaz de conter o ímpeto da candidatura oficial.
Esse retorno de uma disputa que parecia estar decidida começou a surgir depois da pesquisa CNT/Sensus, que mostrou uma redução da diferença entre Serra e Dilma.
O interessante é que, para esse grupo minoritário dentro do PSDB, não é suficiente o governador paulista continuar à frente de todas as pesquisas eleitorais.
O que eles compram é a mesma interpretação que anima os petistas, a de que Serra estaria em trajetória decadente, ou estagnada na melhor das hipóteses, e que Dilma teria uma trajetória ascendente que a levará à vitória inexorável.
Na pesquisa de Lavareda, Serra está dez pontos percentuais à frente de Dilma (38% a 28%) com o cenário de quatro candidatos. A saída de Ciro Gomes de campo, hipótese cada vez mais provável, leva essa diferença a aumentar para doze pontos (43% Serra e 31% Dilma).
O fato, porém, é que Dilma tem apoios organizados, já definidos, em todos os estados, e dificilmente essa aliança política que está sendo armada, com base no PMDB, será quebrada no início da corrida sucessória. E ela se saiu muito bem do teste do carnaval.
O mais provável é que a aliança com o PMDB se mantenha, e os demais partidos da base aliada continuem apostando na popularidade de Lula. Com isso, a candidata petista terá quase o dobro de tempo de televisão de Serra - 11 minutos e pouco contra 6 minutos.
Por isso, o PSDB tenta fechar acordo nacional com o PSC, para aumentar alguns segundos de televisão. Mas nesse pacote virá o provável candidato ao governo do Distrito Federal Joaquim Roriz, a matriz de todos os escândalos que está surgindo na capital.
O pior cenário para o PSDB é que, no período entre maio e junho, quando serão apresentados os programas de televisão da maioria dos partidos, as pesquisas mostrem uma subida forte de Dilma, abalando a autoconfiança nas possibilidades de vencer a eleição.
Os programas do PSDB e de seus aliados DEM e PPS serão os últimos a serem transmitidos, próximo das convenções partidárias no fim de junho. Esse timing permitirá que o PT e seus aliados façam propaganda maciça, chegando às convenções animados com os resultados das pesquisas.
Em contrapartida, o candidato do PSDB chegará à convenção logo depois do programa, o que provavelmente lhe dará uma turbinada na candidatura.
Será preciso ter "nervos de aço" para superar as crises e pressões que separarão esses dois momentos na campanha sucessória.
Além disso, o PSDB tem situações instáveis em dois estados importantíssimos, em que não sabe o que vai acontecer. No Ceará, dada a peculiaridade da aliança entre o senador Tasso Jereissatti, uma das principais lideranças do partido, e o deputado Ciro Gomes, há uma dificuldade política que deverá ser simplificada com a desistência de Ciro à disputa presidencial.
Mas Tasso será candidato ao Senado na chapa do governador Cid Gomes, que apoiará Dilma. Para resolver seu caso específico, o melhor para Tasso seria que Aécio fosse o candidato tucano, pois ele teria o apoio de Ciro Gomes.
Além disso, o senador Tasso Jereissatti teme que Serra tenha chegado ao seu teto, e disse isso recentemente, em um encontro em Minas, para o presidente do partido, Sérgio Guerra, na presença do governador de Alagoas Teotonio Vilela.
Tasso acha que Dilma cresceu muito e que é perigoso fazer uma campanha que favorece o plebiscito que Lula tanto quer.
A conversa de Sérgio Guerra e Teotonio Vilela em Minas, que seria para tentar convencer o governador mineiro a ser vice na chapa de Serra, virou uma conversa sobre a possibilidade de a candidatura Aécio ser retomada.
Aí entra a outra grande incógnita dos tucanos: como se comportará o eleitor mineiro diante do fato de Aécio não ser candidato e não querer ser vice de Serra?
É fato que o governador de Minas, Aécio Neves, prefere ser candidato a presidente, mesmo tendo menos chance que Serra, a ser seu vice.
Mas não há nenhum indício de que preferirá perder a eleição nacional a ver Serra eleito. Mesmo porque sua liderança em Minas está sob fogo cerrado do governo, que já mostrou todo o apetite para derrotá-lo quando aventou a possibilidade de lançar a candidatura do vice-presidente José Alencar a governador, com o apoio do PT e do PMDB.
Assim também o senador Tasso Jereissatti, mesmo sendo favorável à candidatura de Aécio, deve fazer campanha para Serra, que passou no teste carnavalesco no Nordeste, na região onde Lula é mais forte eleitoralmente.
Dilma, por sua vez, tem problemas com o PMDB no Rio, em Minas Gerais e na Bahia. E, se vingar mesmo a tentativa de Lula de se livrar de Michel Temer como vice, pode haver uma dissidência no partido que impediria a formalização da aliança, tirando do PT os preciosos minutos de propaganda política na televisão.
Os dias que faltam até o prazo final de desincompatibilização, no início de abril, e os que levam até as convenções partidárias em final de junho, reservam grandes surpresas, numa eleição que ameaça ser das mais disputadas dos últimos tempos.
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