O Banco Central poderá fazer leilões de reservas para exportadoras com outras garantias. A palavra chave é “pragmatismo” para desfazer o nó que pesa sobre o mercado cambial, mas no médio prazo o real continuará mais fraco. A MP 443 permite ao país integrar redes de proteção cambial de bancos centrais. Entre exportadores e consultores, há previsões de queda de até US$ 40 bilhões nas exportações em 2009.
A medida provisória permitiu que o Banco Central brasileiro faça swap de moeda com outros países. Isso foi incluído porque, no Brasil, tudo que não é explicitamente permitido, é entendido como proibido. O Brasil quer ter a porta aberta para o caso de vir a integrar alguma rede de segurança formada por bancos centrais do mundo. Mas uma coisa, uma fonte do governo me garantiu:
— Não temos intenção de usar esse mecanismo para rede de integração regional.
Esta semana, o Banco Central fez um leilão de reservas físicas para que os bancos destinem recursos às empresas exportadoras. E deu 30 dias para que o dólar chegue na ponta. Tem gente achando que é tempo demais. O BC aceitou como garantia apenas os global bonds neste primeiro leilão, mas pode fazer outros, com outro tipo de garantia, porque, no governo, se diz que é preciso ter instrumentos pragmáticos para desfazer o problema criado pela escassez de linha de financiamento de exportação, além das turbulências causadas pelos prejuízos com a alta do dólar.
— O problema é que o volume das perdas depende da cotação do câmbio. Mesmo assim, as perdas não são de dimensão a gerar problemas sistêmicos. O impacto é no mercado de divisas, porque as empresas compram dólares para zerar posição, e isso eleva o valor do dólar, que aumenta a necessidade de zeragem — disse uma fonte do governo.
Uma coisa se ouve tanto no governo quanto no setor privado: o dólar será mais alto daqui para diante. A queda do preço das commodities, a tendência de alta do dólar no mundo inteiro e o aumento da aversão ao risco manterão elevada a cotação do dólar.
No setor de exportação e entre especialistas, as previsões sobre quanto o Brasil deixará de exportar no ano que vem oscilam entre US$ 20 bilhões e US$ 40 bilhões, com tudo o que está acontecendo agora e o que virá adiante. O olho do nosso furacão acontece nas empresas exportadoras.
— Se as empresas exportadoras não conseguirem sair da situação em que estão, não pagarão suas dívidas e os bancos sentirão o impacto — disse um economista que acompanha com lupa o nó que se forma na economia brasileira, e que tem uma visão pessimista sobre a evolução do problema dos derivativos das empresas. No governo, a convicção é de que as empresas que estavam mais expostas já saíram da situação de perdas sucessivas.
Tudo isso deu um nó na exportação. Mas mesmo quando tudo isso passar, a realidade do comércio exterior será outra. Na Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a previsão é a de que, com a atual crise e a recessão nos países para os quais o Brasil exporta, o melhor cenário é de uma queda de US$ 20 bilhões nas vendas externas. O primeiro reflexo já foi sentido pelos exportadores, a queda no preço da matéria prima. Segundo o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro, de setembro para agosto já houve queda no preço em diversas matérias primas: alumínio -8,9%; couro -16,6%; laminados planos -4,4%; gasolina -6,8%; milho -5%; petróleo -14,7%.
— Há outros produtos, como celulose e carnes, por exemplo, mas eles são negociados no mercado físico. Esta queda pode ser maior, porque vai ter retração no volume das exportações também — disse Castro.
Outra análise, feita para a coluna pelo sócio-diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, prevê uma queda de US$ 40 bilhões nas exportações em 2009 e um saldo na balança comercial de apenas US$ 8 bilhões no ano que vem, além de um déficit em transações correntes de 3% do PIB. Para este ano, a projeção dele é de exportações em US$ 200 bilhões e saldo entre US$ 20 bilhões e US$ 26 bilhões. Em setembro, no acumulado dos 12 últimos meses, o saldo da balança comercial está em US$ 28,7 bilhões, uma queda de 33,4% para o período entre outubro de 2006 e setembro de 2007.
— Isso para um país que teve um saldo na balança comercial de US$ 46 bilhões em 2006. Se a recessão americana for um pouquinho maior, é provável que a balança comercial zere ou fique negativa já em 2009. O Brasil deveria ter diversificado suas exportações, em vez de depender tanto de commodities – contou Silveira.
O vice-presidente da AEB acha que o primeiro momento da crise acontece agora, com esta falta de liquidez. O segundo virá em 2009, com a recessão. A terceira fase será a cambial.
— Esta fase vai atingir os países emergentes e tudo isso vai reduzir o preço das commodities. Antes, se buscava investimento externo para equilibrar essa conta aqui dentro. Agora, com a crise mundial, não tem crédito e fica mais difícil conseguir investidor estrangeiro. O governo deve deixar de ser otimista. O cenário para 2009 é muito escuro. O governo demorou a usar as reservas e reflexo virá no ano que vem – afirmou Castro.
Para ele, o próximo ano não vai existir para o setor exportador.
— Quando encontro as pessoas eu não sei se desejo um feliz 2010 ou feliz 2011. Porque 2009 você já pode riscar do calendário.