O PIB do terceiro trimestre surpreendeu pela força e deu uma sensação da felicidade perdida. Como disse a MB Associados no seu relatório: “Se não fosse a queda do quarto trimestre, o Brasil poderia crescer acima de 6% este ano.” O crescimento que poderia ter sido não será, porque, a partir do fim de setembro, a economia brasileira foi atingida pelas fortes ondas de fora.
Pelo fato de o PIB ter crescido mais do que se imaginava no terceiro trimestre — 1,8% em relação ao segundo e 6,8% em relação ao mesmo trimestre do ano passado —, o país terá um número ainda mais feio no quarto trimestre.
Será efeito estatístico. Já se sabe que o quarto trimestre será de queda. Só que agora cai de um ponto mais alto. A MB Associados acha que o será uma queda de 1% em relação ao terceiro trimestre. Tudo se encaminha na direção de um número negativo, porque caíram a produção industrial, a produção e a venda de automóveis, a produção e a venda de todo o complexo de mineração, da siderurgia e da metalurgia. Outros setores estão sentindo de forma diferenciada o efeito da pisada no freio.
O país, que vinha crescendo ao ritmo de 6% na comparação com o mesmo período do ano anterior, vai cair para 3,2% na comparação entre o quarto trimestre de 2008 e o mesmo período de 2007 (veja gráfico). “Mantemos a percepção de que os próximos trimestres serão fracos. Até o terceiro trimestre do ano que vem, é provável vermos um PIB crescendo em torno de 2%, com provável recuperação no quarto trimestre apenas”, diz o relatório da MB.
Uma dúvida razoável que qualquer leitor pode ter é: por que acreditar que será isso mesmo, se as previsões erraram tanto neste terceiro trimestre? Em geral, a previsão era de que o país cresceria em torno de 5,5% em relação ao mesmo período do ano passado. E deu 6,8%. O erro, explicam os economistas, é que no terceiro trimestre o IBGE sempre faz uma revisão dos seus próprios resultados anteriores, e isso muda todas as bases de comparação.
Mesmo assim, houve números subestimados pelos economistas, como, por exemplo, a taxa de investimento — os 19,7% de formação bruta de capital fixo —, em boa parte impulsionada pelo setor da construção civil, que estava a todo o vapor antes da crise. As estimativas eram de crescimento de 18%, no máximo, e essa alta representaria um aumento de até 0,5 ponto porcentual no PIB.
Além disso, o IBGE mudou, recentemente, o método de cálculo do PIB, e isto ainda torna mais imprecisas as previsões. Segundo analistas do Departamento Econômico do Bradesco, por causa das revisões do IBGE, há chances maiores de erro no terceiro trimestre. Para mudar isso, os próprios analistas acham que precisam entender melhor o processo e incorporar as mudanças, para não serem surpreendidos.
O Bradesco previa um crescimento do PIB, no terceiro trimestre, de 1,1% para o segundo, e veio 1,8%. Eles estão fechando a previsão para o quarto trimestre, mas trabalham com um cenário de PIB negativo, por causa dos dados da produção industrial de outubro e os antecedentes de novembro, como a queda na produção de veículos, da base de comparação maior do PIB no terceiro trimestre e da confiança do empresário em queda. Para o primeiro trimestre de 2009 eles não têm projeção, mas mantêm o crescimento do ano que vem em 2,5%. A MB Associados manteve a previsão de 2,8% como a visão mais otimista. A LCA tem uma visão diferente, acha que a alta do PIB do terceiro trimestre e a revisão dos trimestres anteriores ampliarão o efeito estatístico sobre o PIB de 2009. A consultoria planejava reduzir a previsão do PIB de 2009 para abaixo de 3%, mas acha que ficará, na verdade, entre 3% e 3,5%.
A MB Associados explica o oposto. Dado que o quarto trimestre será um número ainda pior, já que vai ser comparado a um dado mais alto do que o imaginado no terceiro, o carregamento estatístico será menor. “Se considerarmos o carregamento estatístico para 2009, o número muito baixo do quarto trimestre dificultará ainda mais alcançar um número razoável no ano que vem. Se nossa projeção de -1% se realizar, o carregamento estatístico será apenas de 0,6%, significando um esforço extra da economia no segundo semestre para conseguir um número abaixo de 3%.”
O fato é que este trimestre que estamos vivendo é o do tombo. E ele será de um patamar ainda mais alto. O ano que vem será fraco, podendo melhorar no fim.
Com Leonardo Zanelli