Há a perda inicial da devastação da infraestrutura de produção de
energia, de empresas e instalações industriais, de portos e estradas.
Há uma perda da paralisia da produção de inúmeras empresas que estão
na cadeia produtiva mundial, com a globalização. O Japão, por ter se
especializado em equipamentos de alta tecnologia, é a peça-chave em
inúmeros novos produtos, como o iPad 2, e a interrupção da produção e
do escoamento atingiu mesmo áreas não afetadas pelos sinistros. Há a
perda do racionamento de energia. Há o custo direto e indireto. Por
ser país desenvolvido com um alto índice de bens assegurados, qualquer
evento no Japão afeta diretamente a indústria de seguros, que terá,
pelo que se calcula até agora, um dos maiores custos da História.
A economia japonesa está há décadas com baixo crescimento, mas isso
não a faz menos importante. Só com a China, seu comércio é de US$300
bilhões. Isso é 10% do comércio chinês, mas é mais importante para o
Japão do que para a China. Porém o problema novamente é a cadeia de
suprimentos: do Japão, a China compra inúmeros produtos que compõem
sua produção para a exportação, principalmente de eletroeletrônicos.
Na área siderúrgica, estima-se que 20% da capacidade produtiva
japonesa esteja comprometida. O país é importador de petróleo, mas é
exportador de derivados. Sua capacidade de refino foi afetada, e os
preços da gasolina no mercado asiático já estão com tendência de alta.
O professor Alexandre Uehara, das Faculdades Integradas Rio Branco,
explica que a diferença da tragédia atual de outros eventos envolvendo
terremotos é o impacto energético. Cerca de 30% da produção de energia
elétrica do Japão tem como origem a fonte nuclear, e até mesmo usinas
termelétricas foram afetadas. O impacto econômico é grande e o Banco
Central japonês já indica que o país passará por dois trimestres
consecutivos de retração econômica.
- O Japão está sofrendo uma crise energética. Temos um efeito cascata,
com outras usinas nucleares paralisadas. Montadoras foram obrigadas a
interromper a produção e não há perspectiva de se normalizar o
fornecimento de energia. O BC japonês fala de recuperação a partir do
quarto trimestre. Isso, levando em conta o cenário de o país voltar à
normalidade e de não haver problemas grandes de radiação - afirmou.
Uehara explica que somado ao problema energético acontece o gargalo
logístico. Com uma economia totalmente integrada, a cadeia produtiva
japonesa se especializou em fornecimentos imediatos, sem a prática de
formação de estoques. Com o terremoto, toda essa logística foi afetada
e isso quer dizer que as empresas do Sul do país podem sofrer de falta
de produtos, mesmo que não tenham sido atingidas diretamente. Outro
problema é o alto endividamento do governo, que passa de 220% do PIB.
Isso pode dificultar a reconstrução.
- Com o terremoto, mesmo quem quer trabalhar pode não conseguir. O Sul
do país, mais industrializado, tem dependência do Norte por
matérias-primas. A dívida pública também é entrave à reconstrução. O
ponto positivo é que ela é doméstica, feita pelo governo com os
próprios bancos japoneses - explicou.
Rodrigo Maciel, da Strategus Consultoria, estima que haverá efeitos
sobre a economia chinesa porque o Japão é um dos principais parceiros
comerciais da China. O risco é de um aumento de custos na produção,
por falta de insumos e componentes para as indústrias chinesas.
- O Japão, ao lado de outros vizinhos asiáticos como Coreia do Sul e
Taiwan, é um importante fornecedor de componentes e insumos
eletrônicos para a linha de montagem chinesa, que, depois, exporta o
produto final para o resto do mundo. O custo de produção na China, que
vem sofrendo com os aumentos da energia e dos preços das commodities,
poderá subir ainda mais para esses setores - afirmou.
O Itaú Unibanco acha que a economia mundial pode ser afetada pela
crise japonesa por diversos canais: menor crescimento japonês;
diminuição do comércio global; queda nas bolsas; aumento de custos com
energia, principalmente por causa do petróleo, promovendo inflação. O
resultado pode ser um PIB mundial mais fraco este ano.
O mercado "precifica" esses riscos, como se diz na linguagem das
instituições financeiras, e por isso as bolsas estão em queda. Ontem,
a Bolsa de Tóquio subiu, mas o índice americano S&P500 caiu e zerou os
ganhos que tinha no ano. O efeito de um evento dessa envergadura, e
ainda em curso, é difícil de quantificar. Após as três tragédias
japonesas, a economia continuará nos próximos dias fazendo as contas
do estrago em perda de investimento, paralisação da produção e do
comércio, aumento do grau de incerteza. Só uma certeza se tem nestes
primeiros dias de angústia: o mundo pode contar com a extraordinária
capacidade de superação do povo japonês.
Como sempre, o sol se levantará no extremo oriente.