Política
Mudar a rota Miriam Leitão
O Globo
Uma pesquisa com mais de 100 empresas brasileiras trouxe resultado animador na área de sustentabilidade.
Elas estão adotando medidas concretas para mudar a operação, reduzir o consumo de água, mudar rotas, formas de armazenamento, ter executivos especializados no tema e até dar bônus por desempenho ambiental. Não fazem por modismo, mas por exigência do mercado ou redução de custo.
O Ilos, Instituto de Logística e Supply Chain, ouviu 109 grandes empresas de áreas diferentes e descobriu que 60% acham que as mudanças climáticas já têm impacto hoje em seus negócios, 6% dizem que terão impacto a curto prazo, 20% afirmam que apenas no longo prazo e apenas 14% acham que não serão afetadas.
Clientes, fornecedores e governo são as fontes de pressão para essa mudança de atitude, mas apesar de as empresas relatarem que 69% dos clientes já exigem soluções ecologicamente corretas e 19% exigirão no curto prazo, apenas um em cada quatro clientes aceita pagar mais por isso. No setor onde há mais disposição de pagar esse preço é o de material de construção: chega a 50%.
O professor Paulo Fernando Fleury, coordenador da pesquisa, acha que as empresas estão mudando: — Há novas atitudes nas empresas, mesmo que o consumidor não queira pagar por essa mudança.
Mais de 70% das companhias acham que serão cada vez mais elevadas as exigências legais. Dois exemplos recentes: Lei dos Resíduos Sólidos e a lei das sacolas plásticas.
Elas estão criando áreas na organização da empresa para tratar especificamente da adaptação aos novos tempos. Apenas uma em cada cinco empresas ouvidas pela pesquisa não pensa em ter áreas dedicadas à sustentabilidade.
O tema até recentemente estava restrito ao marketing, mas hoje está entrando no cotidiano das empresas: 82% das que têm ações de sustentabilidade afirmaram que elas estão na área de compras, 77%, na de produção, 76%, no setor de logística.
No Brasil, as empresas são mais rápidas em afirmar que adotam boas práticas do que em adotá-las de verdade, mas a pesquisa, que será apresentada no Fórum Global de Sustentabilidade no Supply Chain, que começa amanhã no Rio, fez também alguns estudos de casos com as empresas. O conceito sustentabilidade começou a ter mais substância. Quase metade delas reporta que essas ações produzem também uma bem-vinda redução de custos, como a racionalização de transporte e armazenagem, diminuição do consumo de energia e combustíveis, corte em desperdício no consumo de água.
A Ambev fez uma gestão da sua frota, monitorando as emissões de gases de 35 veículos a diesel e fez uma manutenção dos caminhões que estavam fora das especificações. Aumentou o percentual de veículos que usam biodiesel. Reduziu o consumo de água, substituindo a lavagem tradicional da frota por lavagem a seco. Livrou-se dos veículos velhos. Hoje, a idade média da frota é três anos e meio. A empresa trocou também o GLP pelo Gás Natural como combustível das empilhadeiras. Ela está adotando também o transporte colaborativo.
— As empresas buscam outras que tenham necessidade de transporte complementar.
O caminhão, que antes voltava vazio, agora volta carregado com produtos de uma outra empresa que queira fazer o caminho inverso — diz Fleury.
Na Natura, no transporte para países da região ou áreas mais distantes do país, está sendo utilizada, sempre que possível, a via marítima, em vez da rodoviária, para reduzir as emissões.
A Arcelor Mittal substituiu 110 caminhões por quatro barcaças no trajeto entre Vitória, no Espírito Santo, e Itajaí, em Santa Catarina.
O cálculo é que em dez anos a empresa vai reduzir em 640 mil toneladas de CO2 equivalente suas emissões de gases de efeito estufa. A Copersucar fez acordos de longo prazo para aumentar a participação das ferrovias em seu transporte e construir uma malha de dutos.
A rede Walmart criou o primeiro centro de distribuição ecoeficiente. O telhado deixa passar a luz solar, economizando energia; a água da chuva é coletada e reutilizada; as caixas são de plástico reciclado e recicláveis. O Pão de Açúcar fez um centro de distribuição com as mesmas características: telhas translúcidas, energia solar, uso de água da chuva, reutilização da madeira e painéis termoisolantes nas câmaras frias. Magazine Luiza está montando em Louveira, São Paulo, um centro de distribuição com a mesma lógica.
A Coca-Cola já inaugurou no Paraná a primeira “fábrica verde” do grupo na América Latina com esses mesmos cuidados de redução do uso de água. Em entrevista que fiz com o presidente mundial da empresa, Muhtar Kent, quando veio inaugurar a unidade, ele me disse que a companhia, em 2020, será neutra em água no mundo, ou seja, vai devolver o mesmo volume de água que tira da natureza através de captação da chuva, reutilização, mudança de métodos.
A Unilever se prepara para lançar o Comfort concentrado, que vai reduzir em 79% o consumo de água no produto, o que equivale a 30 piscinas olímpicas ao ano e economia de 58% de plástico nas embalagens. Só com a adoção do sistema multimodal, a Unilever vai reduzir em 20% suas emissões.
A Martin Brower está transformando óleo usado para fritar batata em biodiesel.
A Itaipu vai reduzir o uso do diesel e substituir por veículos elétricos.
Em vários casos relatados na pesquisa, as empresas brasileiras estão mostrando que não se contentam mais com o rótulo de sustentável apenas. Começam a se adaptar aos tempos da mudança climática.
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