Política
Na Vitrine
Arte de Rufino Tamayo
Esta semana:Fabrício Carpinejar
Antes das fotografias
Sofri com a separação dos pais. Carregava a sensação de que tinha sido difícil, percebo agora que foi um desastre. Ao mexer no baú da família para catar flagrantes da infância, encontrei o álbum de casamento dos dois. Capa dura, nomes dos noivos em relevo dourado, livro grosso para eternidade mesmo, resistente às traças e porões.
Fiquei intrigado no momento de folheá-lo. Tive que sentar e interromper a pressa.
Voltei no tempo. No papel vegetal entre as páginas, havia desenhado o contorno das fotografias. Copiei à mão cada imagem, colorindo depois. São mais de 50 folhas transparentes preenchidas, duplicando pai e mãe no altar, reproduzindo convidados e bastidores da festa.
Na época (mentalidade de criança ferida), fiz uma cópia reserva das cenas. Raciocinei que os dois não seriam mais amigos, jogariam duas décadas de casados no lixo e providenciei um backup primitivo com o lápis Faber Castell HB2. Ansiei preservar a história usando as armas do estojo de 1ª série. Aproveitei meu conhecimento de copista do Pernalonga.
Lembro que não dei mole na separação: briguei com os irmãos, esperneei no sofá, chantageei no carro, planejei greve de fome, renunciei futebol, peguei recuperação, chorei no mercado, passei recreio no SOE, ia de um lado para outro da sala ao quarto para diminuir a distância das palavras. Olha, coitados de Carlos Nejar e Maria Carpi, criei um inferno para reconciliá-los, demorei a constatar que o paraíso deles também não era o meu.
Diante do flashback, eu me pus a comparar o que fui com o que sou. Todos, quando pequenos, sofrem com o divórcio dos pais, indicativo de trauma, término da idealização e receio de parar num orfanato. E todos, quando maduros, consideram a separação necessária e natural.
É impressionante o quanto nos esforçamos para manter os pais juntos, e não realizamos quase nada pelo nosso casamento na vida adulta.
E se lutássemos para entender nossa esposa como defendemos nossa mãe? Se realizássemos metade da birra feita com o pai durante a despedida de nossa mulher? Se trocássemos o orgulho da cobrança pela cumplicidade emocionada do erro? Se desejássemos falar menos e ouvir a voz dela mais um pouco?
Se fôssemos meninos para sempre, nenhuma separação seria fácil. O amor não morreria fácil. O papel vegetal protegeria as fotos.
Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 2, 26/07/2011
Porto Alegre (RS), Edição N° 16773
e postado pelo autor no seu blog:http://carpinejar.blogspot.com/
loading...
-
Nova Lei Do Divórcio Faz Disparar Número De Separações No País
Arte:Pelicano A lei do divórcio, que entrou em vigor há um ano, facilitou a vida dos casais que não querem mais viver juntos e o número de separações disparou. No Brasil, segundo o IBGE, são quase 140 mil divórcios todo ano. A mudança na Constituição,...
-
Na Vitrine
Esta semana(a minha semana começa às segundas!rs):Fabrício Carpinejar Fabrício Carpi Nejar, ou Fabricio Carpinejar, como passou a assinar em 1998 (Caxias do Sul, 23 de outubro de 1972) é um poeta e jornalista brasileiro. Filho dos poetas Carlos...
-
Como O Atari Salvou Minha Infância- Cássio Peixoto
"Eu nunca tive problemas em dizer que na minha infância as coisas não foram muito fáceis. Problemas na escola - franzino, o menor da turma, apaixonado por quadrinhos e ainda usava óculos - e em minha casa meus pais não nadavam em dinheiro. Então...
-
Colhida No Meio Da Tarde
Despedida Rubem Braga "E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa...
-
Mulher Mais Jovem E Inteligente é Chave Para Casamento Longo
Uma pesquisa britânica afirma que o segredo para os homens terem um casamento feliz e duradouro é escolher uma mulher mais inteligente e, no mínimo, cinco anos mais jovem. Essa combinação, segundo os pesquisadores da universidade britânica de Bath,...
Política