EUA 'primarizam' importação - ALBERTO TAMER
Política

EUA 'primarizam' importação - ALBERTO TAMER




O Estado de S.Paulo - 27/09


Os Estados Unidos ainda são o mais importante parceiro comercial do Brasil, representam quase 11,2% das exportações, um fato que ultrapassa esse contencioso verbal entre os dois governos sobre quem protege mais o seu mercado. É evidente que Obama encena para um eleitorado que se angustia com o aumento do desemprego de 8,1%, que só pode recuar com mais produção. Não reage aos estímulos, não se aventura a comprar mais - apesar de juros praticamente negativos - e quer eleger um presidente que lhes garanta menos incerteza e mais emprego e salário.

E a economia mundial precisa desesperadamente da recuperação dos Estados Unidos, que representam quase 25% do PIB global. Tem a China, sim, mas seu PIB de US$ 6 trilhões é apenas 10% do mundial.

Pesamos pouco. Afinal, o Brasil, não representa ameaça maior aos produtores americanos. Os Estados Unidos importam anualmente cerca de US$ 2 trilhões e o Brasil exportou para eles US$ 25,7 bilhões em 2011. A questão não é saber quem é mais protecionista, mas avaliar a qualidade, o perfil, das nossas exportações para o mercado americano. E é o que o governo faz agora, abrindo uma grande frente de redução da carga tributária e estímulo ao investimento e produção. É o caminho certo que a presidente Dilma Rousseff decidiu seguir. Aqui, a grande novidade e o desafio. Antes, eles importavam mais produtos industrializados; agora, commodities, principalmente petróleo. A pauta bilateral está sendo "primarizada".

Há algo mais. É este o desafio que o governo decidiu enfrentar, com protestos, sim, contra medidas protecionistas, mas ações especificas para aumentar a competitividade do produto nacional.

O confronto verbal entre os dois países deixou de lado um aspecto essencial: os Estados Unidos eram - e ainda são - um parceiro extremamente importante para o Brasil não só pelos valores, mas porque, ao contrário da China, foram sempre grande importador de manufaturados, que geram emprego.

As exportações de manufaturados para o mercado americano ainda estão crescendo, mas se retraem enquanto as de commodities e básicos aumentam ano após ano. O processo de "primarização"da pauta brasileira, que domina o comércio com a China, está contaminando as exportações para os Estados Unidos. Será? Sim, informam os números do comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento. Entre janeiro e agosto, as exportações para os EUA cresceram 13,4%, compensando a queda de 16,2% nas vendas para o Mercosul, mas por causa essencialmente de um expressivo aumento das commodities.

O déficit americano. Apesar da forte desaceleração econômica mundial, eles ainda continuam importando muito. Nos últimos 12 meses, registram um déficit comercial com o mundo de US$ 744 bilhões, enquanto o Brasil não participa desse déficit; tem não um "superávit", mas um "déficit" comercial de US$ 2,8 bilhões. Ou seja, eles importam mais, nós exportamos menos. E o nosso déficit só não foi maior por causa das exportações de petróleo. Em 2011, elas representaram nada menos que 22,5% das vendas para os Estados Unidos. E tendem a crescer com o pré-sal. Segundo a Agência Nacional de Petróleo, em 2008, a Petrobrás exportou para o mercado americano 49,6 milhões de barris por dia e, no ano passado, 59,3 milhões b/d. Não é um fato novo, mas vem se acentuando, diz o economista da Funcex, Rodrigo Branco.

Ele acrescenta que, entre 2005 e 2011, as vendas brasileiras representavam 1,51% das compras externas americanas; hoje, apenas 1,27%. Ou seja, há uma dupla deterioração de presença e qualidade porque a queda é mais acentuada entre os produtos manufaturados (queda de 1,31% para 0,73% em 2011) e semimanufaturados (queda de 8,11% para 5,13%) exportados para o mercado americano. Os números do comércio bilateral entre os dois países confirmam que a "primarização"da pauta, que existia com a China e a União Europeia, começa agora a contaminar as exportações para os Estados Unidos. Antes, um fato restrito, agora mais amplo alcançando o nosso mercado mais importante.

Branco admite que "no Brasil de hoje há a consolidação do perfil exportador, focado principalmente em produtos básicos, porque possuímos vantagens comparativas para a produção destes e porque nos aproveitamos das altas de preços internacionais desses produtos, as commodities". É esse o novo cenário do comércio com os Estados Unidos. É hora de se defender sim - estamos nos defendendo -, mas contra-atacar também.



loading...

- Poucos Produtos E Mercados - MÍriam LeitÃo
O GLOBO - 21/09Está tudo menor este ano na balança comercial. As exportações caem, as importações, o saldo e a corrente decomércio, também. Além da crise na Europa, a China está comprando menos do mundo e pesam as medidas protecionistas da...

- Não é A Europa, é A China! - Alberto Tamer
O Estado de S.Paulo - 12/07 O Brasil está preparado para enfrentar a crise na zona do euro, tem reservas, tem liquidez, pode reduzir os juros porque a inflação recua, tem um mercado financeiro saudável, conta ainda com o potencial do mercado interno,...

- Eua Esperam Pelo Brasil - Alberto Tamer
O Estado de S.Paulo - 15/04/12 A economia chinesa desacelerou para 8,1% no primeiro trimestre, o comércio mundial vai crescer apenas 3,7%, abaixo dos 5,0% do ano passado, um dos piores resultados desde a crise de 2008, e só os Estados Unidos dão sinais...

- Estão Bravos Com O Brasil Alberto Tamer
O Estado de S. Paulo - 06/10/2011 Os europeus estão reclamando. O Brasil começa a adotar um política comercial protecionista! Foi uma espécie de resposta às criticas da presidente às políticas fiscais restritivas que estão levando a União...

- Brasil Esnobou Os Eua. Errou - Alberto Tamer
O Estado de S. Paulo - 21/07/2011 Um estudo que levou três anos do respeitadíssimo Council of Foreign Relations, divulgado na semana passada, afirma que os Estados Unidos deveriam dar mais atenção ao Brasil, um país que desponta no cenário mundial....



Política








.