A estátua do Cristo Redentor é uma das sete maravilhas do mundo moderno. Ganhou esse título numa votação popular, em que cada eleitor podia votar quantas vezes quisesse. Nem por isso vamos dizer que é mais fácil ser maravilha do que, digamos, vereador carioca: são coisas inteiramente diferentes, a começar pelo fato de que nenhuma maravilha do mundo moderno nomeia a senhora mãe dela para chefe de gabinete. Mas a maravilhosa condição não deixa de ter seus problemas. No caso do Redentor, o maior deles é a extraordinária incompetência do poder público na administração da popularidade inevitável. Há duas formas de acesso ao Cristo: a tradicional é o velho trenzinho que sobe do Cosme Velho. Funciona o dia inteiro, levando 38 passageiros em cada viagem. É pitoresco, agradável e totalmente inadequado para atender à demanda. Antigamente, antes do reconhecimento da condição maravilhosa, o trenzinho dava para o gasto. Hoje em dia, nem pensar. O visitante pode ir de carro apenas até o início da Estrada das Paineiras e lá comprar passagem numa van que o levará ao monumento. O sistema foi criado devido à falta de vagas para estacionamento na base da estátua. Parece razoável. Na verdade, é o caos programado. Domingo passado - como em qualquer outro fim de semana ensolarado - bem cedo já não havia espaço na área reservada aos carros dos candidatos a lugares nas vans e do pessoal que passeia nas Paineiras. Mas ou menos desde as dez da manhã, quem chegava tinha de estacionar cada vez mais longe do ponto de partida da etapa final. Ou seja, na própria estrada de subida, uma via estreita e de mão e contramão. Tudo era organizado por flanelinhas. Deponho: uma turma competente, que não cobrava mais que os dois reais da tarifa normal. De qualquer maneira a sensação era de que a qualquer momento o nó no trânsito ficaria definitivamente cego. Ou de que a fila de carros estacionados chegaria ao Cosme Velho. Lá pelas 11 horas, o poder público finalmente entrou em ação: autorizou o estacionamento na própria estrada das Paineiras. Foi uma arbitrariedade, já que ela é, por lei, reservada a pedestres e ciclistas aos domingos. Não é uma restrição gratuita: ela garante a segurança das famílias que passeiam na estrada. Fui embora sem saber como tudo acabou naquela manhã caótica. Mas posso apostar que a bagunça lá estará, esperando por mim, domingo que vem. O problema é federal, já que a União administra toda a floresta. Além disso, desde o ano passado está em suas mãos o destino do Hotel das Paineiras, imóvel abandonado e semiarruinado, que fica, por assim dizer, no olho do furacão. Se o governo até agora não sabe o que fazer com ele, sempre pode esquecer o seu passado histórico e acabar de botá-lo abaixo. Aumentaria um bocado a área de estacionamento. Seria, claro, uma solução muito pouco inteligente. Só se justifica lembrá-la pela visível ausência das do outro tipo. |