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Política

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O GLOBO - 03/07

O presidente eleito do México, Enrique Peña Nieto, tem desafios respeitáveis a enfrentar nos próximos seis anos. Terá que mudar a imagem do PRI e, para isso, precisará neutralizar completamente os dinossauros do partido; terá que pacificar um país atingido pela guerra contra o narcotráfico, que deixou 60 mil mortos e, se possível, manter o ritmo do crescimento econômico. Para este último desafio, terá que torcer pelos Estados Unidos.

Nos últimos anos, o México cresceu menos do que o Brasil, em média, apesar de em alguns anos bons, como 2011 e 2006, ter avançado mais que o Brasil. Quando a economia mundial entrou em crise, no entanto, em 2009, o Brasil escorregou para -0,3% e eles tomaram um tombo de -6,3%. Quando os Estados Unidos entram em crise, o México se afunda. Tem sido sempre assim pela enorme dependência do mercado americano.

Mas essa oscilação não é o mais grave problema a ser enfrentado. Até porque a economia americana tem crescido mais. O ex-ministro das Relações Exteriores do México, Jorge Castañeda, disse numa conversa com Valéria Maniero na semana passada, na Colômbia, que o Brasil está neste momento até mais exposto à crise externa, porque é grande exportador de commodities, com grande relação com a Europa e muita dependência do mercado chinês para exportar seus produtos. Se a China entra em desaceleração - como tem dado sinais - e a Europa continua na atual crise, o Brasil terá mais dificuldades de retomar o crescimento. Castañeda acha que estar dependente da economia americana num momento em que o país começa a retomar o crescimento pode ser bom para o México.

O grande nó mexicano é a explosão da violência que resultou em um número de mortos calculado em 60 mil apenas nos últimos seis anos, do governo Felipe Calderón. Judith Torrea, jornalista que cobre narcotráfico e violência, contou no seu blog neste fim de semana histórias como a de Olga Salazar: 33 pessoas da família dela pediram asilo depois que seis familiares foram assassinados. Olga não votou ontem.

Judith escreveu que "são eleições presidenciais sem eles: sem os que tiveram que fugir para não morrer, sem os desaparecidos, sem os 60 mil assassinados em todo o país que vive sob o império da impunidade". Nenhum dos quatro candidatos dedicou um segundo da campanha eleitoral "para oferecer um futuro às vítimas da chamada guerra contra o tráfico".

Por e-mail, a jornalista conta que a eleição produzirá o seguinte efeito: "em alguns meses, um candidato controvertido de um partido com tanta história de repressão passará a governar um país ferido". Entre os problemas do México está o aumento da pobreza. Enquanto no Brasil se comemora a entrada de famílias na classe C, no México, é o oposto.

Em Ciudad Juárez, que ficou conhecida pela dimensão dos assassinatos, a violência caiu porque o Exército e as forças policiais reduziram suas tropas, mas o narcotráfico continua como estava. Fazer a cobertura jornalística dessa tragédia tem custado a vida de muitos. Até agora, 40 jornalistas foram assassinados, oito desapareceram. Não está na lista dos mortos um repórter da AP que foi encontrado assassinado no sábado, porque ainda não se tem prova de que sua morte esteja relacionada ao problema vivido lá. Os dados são do Comitê para a Proteção dos Jornalistas.

Como o PRI vai lidar com a guerra entre os cartéis do tráfico que, até agora, tem um claro ganhador, o cartel de Sinaloa? Essa é uma das várias dúvidas que pesam sobre Peña Nieto. O PRI governa Ciudad Juárez, a mais atingida pela "guerra", que fica no estado de Chihuahua, também administrado pelo partido.

O velho PRI manteve um governo autoritário que permaneceu 70 anos no poder graças à manipulação de eleições e repressão. Os chamados "dinossauros" do partido não desapareceram. Nesse período de 12 anos, a democracia se fortaleceu - apesar da tragédia da violência. Mesmo afastado da presidência, o PRI continuou tendo muito poder nos estados e algumas corporações. Eles governaram o país por 71 anos e não desapareceram nos últimos 12 anos que estiveram fora da presidência.

Outro jornalista com quem Valéria Maniero conversou, David Santa Cruz, disse que muitos mexicanos esperavam muito da transição PRI-PAN, quando em 2000, foi eleito Vicente Fox, mas não houve a mudança que se esperava. Ele admitiu que a corrupção nunca desapareceu da vida mexicana no governo Fox e que no governo Felipe Calderón tudo piorou com a explosão da violência. Ele tentou se legitimar ao enfrentar o tráfico, depois de ter vencido López Obrador com apenas 0,56% dos votos, mas colocou o país num beco sem saída.

Durante muitos anos havia um debate sobre que país seria o maior da América Latina. Brasil e México disputavam o primeiro lugar. Agora, o Brasil saiu na frente. O México continua patinando por causa da elevação dos seus números de violência. Isso afastou investidores e levantou dúvidas sobre o país. No mesmo momento, o Brasil passou a ser olhado com bons olhos, apesar do baixo crescimento dos últimos dois anos.

Com tudo isso, o PRI reencontrará um governo com instituições mais fortes e a esperança que sempre dá uma nova pessoa na presidência. Peña Nieto terá que provar que não é apenas um rosto novo e que o PRI também se renovou.



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