O Brasil decide a compra de caças
Política

O Brasil decide a compra de caças


O fim de uma batalha aérea

Depois de onze anos de adiamentos, o governo está prestes a anunciar
qual será o novo caça a ser comprado pela Aeronáutica brasileira


Fábio Portela e Leandro Narloch


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O Brasil está prestes a tomar uma das decisões mais dispendiosas de sua história militar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciará no mês que vem qual será o novo caça a equipar a Força Aérea. A compra de 36 aviões pode custar 4 bilhões de dólares. Hoje, a Aeronáutica dispõe de 110 caças, mas 90% deles, fabricados nos anos 70 e 80, estão totalmente ultrapassados. Os mais novos, doze Mirage 2.000, foram comprados de segunda mão e também já estão perto da aposentadoria. Comparada com a de outros países, a Força Aérea brasileira equivale a uma esquadrilha de teco-tecos. O Chile tem 28 caças F-16, o preferido pela operosa Força Aérea de Is-rael. A Venezuela, de Hugo Chávez, opera 24 Sukhoi 30, avião de combate russo que é um dos mais avançados do planeta. "Há quem diga que é desperdício gastar em caças, pois nenhum país atacará o Brasil. Quem pode prever uma coisa dessas? Em 1982, ninguém imaginava que a Argentina atacaria a Inglaterra nas Ilhas Malvinas. O mundo não é cor-de-rosa. Temos de nos precaver", diz Gunther Rudzit, ex-assessor do Ministério da Defesa.

A concorrência para a escolha dos aviões se arrasta desde 1998. Agora, a Aeronáutica está a um passo de concluir a análise técnica dos três finalistas: o Rafale, da francesa Dassault; o Gripen, da sueca Saab; e o F-18 Super Hornet, da americana Boeing. Aos olhos do observador leigo, eles se equivalem. São dotados do melhor avionics, o conjunto de instrumentos digitais de pilotagem, navegação e combate ar-ar ou ar-terra. "Hoje, os aviões são equipados com radares, sensores e transmissores de dados que lhes permitem combater adversários a muitos quilômetros de distância", diz Salvador Raza, professor da Universidade de Defesa Nacional, de Washington. Os novos caças detectam alvos a 170 quilômetros. Na década de 70, a distância de engajamento do inimigo em combate era de 20 quilômetros. Com turbinas mais potentes e econômicas, os caças atuais carregam o triplo de armamentos – até 10 toneladas de bombas e mísseis. Um joystick comanda a pilotagem e o acionamento das armas. Os alvos são visualizados e selecionados em um painel vir-tual, projetado em laser no vidro da cabine ou na própria viseira do capacete do piloto. Certas manobras e disparos podem ser comandados por um sensor que registra os movimentos da cabeça do piloto.

As diferenças decisivas entre os três caças são o preço e o modelo de transferência de tecnologia. O Gripen, o mais barato, custa 50 milhões de dólares. Ele ainda não é produzido em série e, para compensar esse fato, seu fabricante propõe terminar o desenvolvimento do avião junto com o Brasil. A proposta tem apelo para os militares, pois tornaria o país o 11º do mundo capaz de fabricar caças. A vantagem mais aparente do Super Hornet, que equipa os porta-aviões americanos, é ser um dos aviões de combate mais testados do planeta. Pesa contra ele até agora a negativa dos americanos de repassar ao Brasil o código-fonte do avião, o coração digital dos programas de computador que controlam a aeronave e suas armas. A decisão de entregá-lo depende do Congresso americano. O Rafale, da Dassault, é o mais caro. Cada unidade custa 80 milhões de dólares. Seu trunfo é justamente o fato de Paris entregar ao Brasil todos os segredos digitais do avião.

Em qualquer país, em qualquer tempo, as concorrências militares são zonas de sombras, difíceis de ser esquadrinhadas pelos radares das instâncias encarregadas de zelar pela transparência. Elas são definidas com base em critérios nem sempre objetivos, como é da natureza das questões de segurança nacional. Nos anos 70, a americana Lockheed Martin, que faz aquele que é considerado o melhor caça do mundo, o F-22 Raptor, quase faliu ao ser pega pagando propinas de milhões de dólares para fechar vendas na Itália, Holanda, Japão e Alemanha. No caso brasileiro, a Dassault, a Saab e a Boeing foram acusadas de pagar viagens de parlamentares às suas sedes, em busca de apoio. A escolha, no entanto, depende apenas do presidente Lula e do ministro Nelson Jobim, da Defesa. Os dois se inclinam pelo Rafale.

Em julho, Jobim foi a Paris e se desmanchou em elogios ao avião da Dassault. Na semana passada, Lula deu nova pista. "A França está mais flexível na transferência de tecnologia. É uma vantagem comparativa excepcional", disse ele. Na segunda-feira, 7 de setembro, o presidente francês Nicolas Sar-kozy participará com Lula dos festejos da independência e oficializará a aquisição de quatro submarinos convencionais e do casco de um nuclear pela Marinha brasileira, por 4,3 bilhões de euros. Os franceses venderão ainda cinquenta helicópteros militares, por 1,8 bilhão de euros. Se a compra do Rafale for fechada, 2009 será mesmo o ano da França no Brasil.




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