Meus queridos e minhas queridas, como dizia um pensador brasileiro no início do século passado. O Brasil não tem problemas, tem potencialidades adiadas. Isso é uma verdade que dói na minha alma. Perdemos séculos com políticos incompetentes e subservientes aos interesses de fora. Estamos agora construindo o sentimento de pertender a uma nação.
Pensando o Brasil é um tema para ser estudado em todas as áreas do conhecimento e em todos os níveis de ensino, inclusive aqui neste fórum. É por sinal um assunto muito instigante porque nos faz refletir sobre o nosso país, do ponto de vista da história da educação, buscando as respostas para dois questionamentos básicos, mas muitos significativos e abrangentes: que país é este e que país nós queremos construir.
Segundo as estudos realizados o papel da ciência é justamente desvendar (tirar o véu) do real, ajudar a distinguir o que é verdadeiramente ouro daquilo que reluz. Nesse sentido, a ciência exerce igualmente um papel ético e moral, porque também é capaz de ajudar a distinguir o joio do trigo, aula um (leituras das apresentações do professor )Nesta linha de pensamento e para desvelar a realidade (tirar o véu), nada melhor do que iniciar por estes questionamentos.
Como diz um antigo pensador, o Brasil não tem problemas, tem oportunidades e potencialidades adiadas. Cristóvão Buarque, nessa linha de pensamento, disse, em certo discurso, que o Brasil tem problemas que todo país tem, mas nenhum outro país tem o potencial de resolvê-los como o nosso tem.
Neste sentido, há anos sofremos de todo tipo de infortúnio, do desemprego, do baixo crescimento da economia, crescente exclusão do nosso povo com a significativa marginalização de nossa população consubstanciada com o paradigma do individualismo competitivo predatório, fundamentado principalmente na concentração de renda que violenta o mais elementar direito humano que é o direito à vida. Como diz um antigo pensador, o Brasil não tem problemas, tem oportunidades e potencialidades adiadas.
Refletindo sobre que país é este, o Brasil, por razões diversas - péssimas administrações, falta de mobilização, pressões externas e outras questões - persistem em não ir ao encontro de seu destino, ou seja, tornar realidade às imensas oportunidades e potencialidades.
Há quase trinta anos estamos praticamente estagnados, com taxas de crescimento incompatíveis com a riqueza adormecida, minimamente explorada. Isso decorre não só da sucessão de governos incompetentes, não alinhados com os anseios e as perspectivas de um povo que por sua vez ainda também persiste adormecido numa languidez inaceitável.
É hora de arregaçar as mangas e enfrentar, num esforço e mobilização infinitos, individual ou coletiva, para que rompamos com esse eterno estágio de subdesenvolvimento, de submissão, com sérias conseqüências econômicas, culturais e sociais. Só assim, seremos reconhecidos como nação que se preza.
Será uma intervenção profunda e indispensável, urgente até. Tem-se como base de tudo a conscientização do cidadão via Educação. Mas essa também precisa ser revista em profundidade, ao se enxugar os conteúdos programáticos obsoletos de todo o processo evolutivo enquanto nação. Esse seria a primeira providência enquanto deveremos cobrar dos nossos representantes nos diversos poderes que cumpram os seus deveres
A despeito de todas as mudanças na sociedade na escola há perdura a aula expositiva com basilar do processo de ensino. Por isso, é preciso refletir sobre o contexto atual de mudança nas escolas que é muito lento. O ensino é ainda calcado em estimulo e resposta. O professor é ainda aquele que dá aula e aluno passivamente tem ouvi-lo e provocar em uma prova as informações tal qual engolidas.
As práticas atrasadas das cópias de livros foram transportadas para uma tecnologia mais nova que são as mídias digitais. Na maioria das vezes o trabalho na escola é fragmentado, posto que a existência do pensar dissociado do fazer, de professores e coordenação/direção não compartilhando os mesmos objetivos.
As relações entre professores e alunos linearizadas mostram que a estrutura organizacional da escola não mudou, tornando claro o seu fracasso de romper com a reprodução a crítica das relações sócio-econômicas existentes.
A escola neste sentido é apenas mais um aparelho do estado brasileiro e reflete as dimensões maiores de nossa sociedade fundamentada na concentração de renda e na relação verticalizada do poder político e econômico com as classes menos favorecidas de nosso país.
Vale ainda ressaltar que fatores importantes e que são invisíveis e inconscientes são as resistências aos novos paradigmas do processo de ensino calcado principalmente em situações problemas, produções textuais, trabalho em equipe e projetos de aprendizagem interdisciplinares, onde se questionam o divórcio do ensino com as questões sociais, políticas, econômicas e agora ambientais que envolvem as nossas escolas, mesmo porque elas sofrem influências do ambiente tanto global como local
Portanto, a neutralidade da escola e do professor é questionável porque este também sofre as influências do meio e deve se perguntar as causas do empobrecimento das condições de trabalho e a pouca ou quase inexistência da valorização do magistério. FERNANDES (1989) questionava como o professor pode ser neutro e como um investigador pode ser neutro diante das questões sociais.
Ao contrário, o professor e/ou pesquisador ao sair da universidade precisa ter uma relação de responsabilidade com a sociedade. No entanto, a concepção de educação vigente era separar o cidadão do professor (o cidadão está em um lado, o professor do outro).
No texto - Raízes do Brasil do grande brasileiro Sérgio Buarque de Holanda - diz que: a democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-entendido. Uma aristocracia rural e semifeudal importou-se e tratou de acomodá-la, onde fosse possível, aos seus direitos ou privilégios, os mesmos privilégios que tinham sido, no Velho Mundo, o alvo da luta da burguesia contra os aristocratas.
Os nossos movimentos, "aparentemente reformadores" teriam sido, de fato, impostos de cima para baixo pelos grupos dominantes. FERNANDES (1989) coloca que o elemento principal na condição humana do professor é o cidadão. Se o professor não tiver a figura forte do cidadão, acaba se tornando instrumental para qualquer manipulação, seja ela democrática ou totalitária. No entanto, o professor precisa se transformar em um verdadeiro educador, um educador com uma visão globalizante dos fenômenos educativos, um educador comprometido social e politicamente.
É forçoso reconhecer que as classes trabalhadoras e mais humildes tiveram relegadas a uma educação que tinha como princípio o conformismo e a divisão de classes, em que o ensino brasileiro sempre esteve desvinculado da realidade sócio-econômico-político-cultural da nação.
FERNANDES (1989,) escreve que o professor precisa se colocar na situação de um cidadão de uma sociedade capitalista subdesenvolvida e com problemas especiais e neste quadro, reconhecer que tem um amplo conjunto de potencialidades, que só poderão ser dinamizadas se ele agir politicamente, se conjugar uma prática pedagógica eficiente a uma ação política da mesma qualidade.
Concordando com PAULO FREIRE: A tarefa mais importante de uma pessoa que vem ao mundo é criar algo. E por isso, que as nossas expectativas são ainda as melhores possíveis sobre a possibilidade de o professor ter reconhecido o seu valor. A sociedade que não reconhece e nem dignifica os seus mestres é uma sociedade doente.
FERNANDES (1989) faz uma reflexão neste sentido, quando diz: " o professor que perde prestígio como profissional, perde renda e também perde tempo para adquirir cultura e melhorá-la, a fim de ser um cidadão ativo e exigente.
Para tanto, é importante refletir a escola que temos ( que país é este)e o país que queremos (que pais queremos), formada por uma geração "educada" em um momento histórico autoritário que se reverberou para todos os segmentos da sociedade e na escola isso não foi diferente.
Era preciso domesticar e coisas simples como dialogar e pensar eram irrelevantes. Todas as estruturas da escola eram autoritárias e tinham um cunho ideológico - servir ao que os militares chamaram de "revolução". Nessa perspectiva, acreditamos que o professor deve ter consciência que educação pode ser um caminho para contestar as estruturas vigentes.
Que o momento do processo de ensino não é apenas o momento da tecnicidade, mas o momento da transformação do indivíduo em ser político, pois leva esse indivíduo a penetrar no mundo civilizado, das ciências, da literatura e das artes.
Essas questões são ressaltadas por Lima que afirma:
O que queremos alertar os educadores para que reflitam sobre sua prática pedagógica. Em qualquer trabalho de educação, junto a qualquer classe social e, particularmente, junto às camadas populares, o princípio fundamental é priorizar a manifestação, a expressão, ou seja, deixar que o educando fale, que coloque suas idéias, que seja capaz de descrever e analisar sua realidade.
Assim, será capaz de transformá-la. A democracia só pode ser exercida através da participação popular, o que implica este longo processo educacional do exercício democrático (LIMA,1994 p. 24).
Para Nidelcoff, o sentido do educador é ajudar o povo a se descobrir, a se expressar, a se liberar. Para a autora, o professor-povo quer construir a escola do povo, a partir do povo e acrescenta:...professor-povo é aquele que quer contribuir através do seu trabalho para a criação de homens novos e para a edificação de uma sociedade também nova, onde se dê primazia aos despossuídos e onde o povo se torne protagonista.
Ele será um professor para modificar, não para conservar(NIDELCOFF, 1986, p. 20).
Assim procedendo, estaremos resgatando a nossa função dignificante de educadores, pois como diz Rubem Alves: É necessário acordá-lo. E aí aprenderemos que educadores não se extinguiram como tropeiros e caxeiros.
Porque, talvez, nem tropeiros e caxeiros tenham desaparecido, mas permaneçam como memórias de um passado que está mais próximo do nosso futuro que o ontem. Basta que os chamemos do seu sono, por um ato de amor e coragem. E talvez, acordados, repetirão o milagre da instauração de novos mundos (ALVES, 1984, p.26).
Por fim temos ainda a expectativa em ver construída uma escola aberta às mudanças e seja adequada às novas demandas sociais, proporcionando uma educação de qualidade, oportunizando aos estudantes uma visão de mundo na expectativa de obter maior ressonância com a sociedade.
REFERÊNCIAS FERNANDES, Florestan. O desafio educacional. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1989. HOLANDA, Sérgio Buarque, Raízes do Brasil, 1936
LIMA, Adriana Flávia Santos de Oliveira. Pré-Escola e Alfabetização: uma proposta baseada em P. Freire e J. Piaget. 8ª ed. Petrópolis: Vozes, 1986.