A Semana Internacional
Hugo Chávez toma centro comercial em
Caracas e anuncia novo referendo para impor
seu poder perpétuo na Venezuela
Andre Penner/AP |
Para sempre Chávez |
O coronel Hugo Chávez tem uma obsessão: ser presidente perpétuo da Venezuela. Em dezembro de 2007, ele foi derrotado em um referendo sobre a nova Constituição exatamente pela alta rejeição popular à reeleição sem limites. Na semana passada, Chávez convocou um novo referendo, marcado para o dia 15 de fevereiro, para acabar com a restrição à reeleição presidencial. Sua intenção, esclareceu o coronel, não é ficar para sempre no poder. "Daqui a vinte anos eu vou embora", prometeu. De acordo com pesquisas, se o referendo fosse hoje, 65% do eleitorado votaria contra a proposta. Mas Chávez tem pressa. Com o barril de petróleo, seu principal combustível político, a menos de 40 dólares, o valor mais baixo em anos, ele quer ir às urnas antes que a economia venezuelana entre em recessão.
No mesmo domingo em que anunciou o plebiscito, como sempre pela televisão, Chávez mandou desapropriar o Shopping Center Sambil, no centro de Caracas. Há três anos em construção, o centro comercial de 125.000 metros quadrados deveria criar pelo menos 4.000 empregos numa região abandonada da cidade. Alegou que o lugar estimularia um "comércio desmesurado e consumista" e explicou que daria ao prédio um destino "socialista". A arbitrariedade de ambas as medidas é flagrante. A consulta é ilegal, visto que a Constituição venezuelana (escrita pelo próprio Chávez) impede que uma reforma política rechaçada pela população seja submetida a novo voto no mesmo governo. Não é a primeira mostra de seu desprezo pela vontade do povo. Em julho, Chávez colocou em vigor, por decreto, um pacote com 26 leis também rejeitadas pela população. "É mais uma prova da desinstitucionalização do país provocada por Hugo Chávez, que não tem nenhum apreço pela Constituição ou por qualquer outra instituição democrática", disse a VEJA o cientista político venezuelano José Vicente Carrasquero, da Universidade Simón Bolívar, em Caracas.
A expropriação do shopping center tem um nítido viés eleitoreiro. No mês passado, o chavismo foi abalado pelo avanço da oposição nas eleições regionais. Seus opositores levaram duas grandes cidades e cinco estados de peso. Juntas, essas regiões concentram 45% da população e 70% da economia do país. Uma das justificativas para expropriar o centro comercial era que o edifício pioraria ainda mais o trânsito da cidade. Os congestionamentos são, ao lado da criminalidade crescente, o principal problema da população da capital. Com o preço congelado desde que Chávez assumiu a Presidência, o litro de gasolina custa 100 bolívares, ou 11 centavos de real, e a venda de carros disparou. Entre 2002 e 2007, 250.000 novos veículos foram adicionados às vias de Caracas, provocando um déficit de 100 quilômetros de ruas na cidade. Como resultado, há engarrafamentos a qualquer hora do dia. Curioso é saber que o shopping center demonizado por Chávez fica a menos de 1 quilômetro do Palácio de Miraflores, a sede do governo. Como pode o presidente ter demorado três anos para descobri-lo?
Jose Caruci/AP |
Comércio chavista O shopping Sambil, expropriado sob pretexto de combate aos congestionamentos |