"O ministro Antonio Palocci pode ficar no governo até amanhã. Ou depois de amanhã. (...) Ou até 31 de dezembro, quando termina o mandato do presidente (...). Mas (ele) começou a perder aceleradamente as condições – políticas, éticas, administrativas – de manter-se no cargo." Assim VEJA descreveu na reportagem "O "Paloccigate" e a morte da ética", capa de 29 de março de 2006, os momentos finais da agonia pública do então mais poderoso auxiliar de Lula. A história se repete agora em meio a dramáticas e irônicas coincidências. Palocci caiu em 2006 depois de perder apoio político de seu partido, tendo como lance derradeiro a quebra do sigilo bancário de Francenildo Costa, caseiro que testemunhou ter visto o ministro "dezenas de vezes" em um célebre casarão do Lago Sul, em Brasília, cujos frequentadores se esbaldavam em festas com prostitutas e onde, os indícios apontavam, tratavam da intermediação de negócios de empresas privadas com órgãos do governo. Cinco anos depois, Palocci se encontra acossado pela suspeita de enriquecimento ilícito e, novamente, sem apoio de seu partido, o PT.
Some-se agora aos constrangimentos de Palocci o fato de ele, tendo um apartamento de mais de 6 milhões de reais em São Paulo, pagar aluguel a um morador da periferia de São Paulo chamado Dayvini Costa Nunes. O personagem em pauta é dono da empresa proprietária do apartamento de luxo onde Palocci mora em São Paulo. Primeiro, Dayvini disse a VEJA que nunca soube ser sócio controlador de tal empresa. Depois ele se contradisse e admitiu ter concordado em fazer o papel de "laranja", pessoa cujo nome é usado como fachada para negócios ou para assumir como suas as propriedades de terceiros. Palocci não tem a obrigação legal de checar os antecedentes do seu locador, mas, sendo alguém que dá expediente no Palácio do Planalto, em contato direto com a presidente Dilma Rousseff, deveria ter sido mais cuidadoso.
Melancólica situação de um político que, nos dois governos em que se viu em apuros éticos pessoais, teve atuação pública ao lado das luzes, seja como garantidor da racionalidade econômica, seja no papel de algodão entre cristais na política. Palocci encarna o elo perdido, unindo o país real a uma Brasília imersa em ideologias paralisantes, e nessa condição, em última análise, serve ao Brasil. Não foi o primeiro nem será o último político escanado a incendiar as vestes nas chamas de suas próprias contradições. Mas foi o único na história recente a ser pego duas vezes com a boca na botija – e, pelo menos em parte, pagar por isso.