Política
O emprego segue aquecido - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 26/10
Um mês após o outro, a foto de fundo não muda: enquanto a atividade econômica continua em marcha lenta, o emprego segue forte, bem acima dos níveis históricos.
É o que se mede pelo seu oposto, o índice de desemprego. Os últimos levantamentos do IBGE dão conta de que a desocupação aumentou no Brasil apenas um décimo de ponto: em agosto, estava em 5,3% da força de trabalho e, em setembro, passou a 5,4%. Ainda assim, não subiu em consequência da queda de demanda de mão de obra, mas porque, em São Paulo, a parcela da população que antes não procurava trabalho (doentes, estudantes, aposentados, donas de casa) cresceu 12,8%. É uma situação que sugere busca de ocupação temporária, o que deve se acentuar no fim do ano, com a intensificação da atividade agrícola e das festas natalinas.
Se não é uma situação de pleno emprego, está muito próxima disso. Neste momento, é uma força da economia brasileira. Garante boa expansão do consumo, enquanto a economia dos países avançados fica prostrada na crise. Na Espanha, por exemplo, o desemprego atinge quase um quarto da população ativa. Pior, mais da metade dos jovens de até 25 anos está desempregada ou não encontra vagas em atividades para as quais se preparou.
Trata-se de um quadro desolador porque derruba o consumo e tende a produzir deflação. Essa, por sua vez, sangra a arrecadação dos governos, eleva as despesas públicas (sobretudo com seguro-desemprego e tratamento de saúde) e aprofunda o rombo orçamentário e a dívida. Tudo isso impõe novos ajustes que endurecem mais a vida, sem perspectiva de virada rápida deste jogo de placar adverso.
Para outros bens e outros males, os problemas do Brasil são decididamente outros. Na área do emprego, o Banco Central, por exemplo, vem advertindo que os salários estão subindo mais rapidamente do que a produtividade da mão de obra, o que indica a existência de um foco inflacionário.
E há, também, as pressões sobre a balança comercial. Mais consumo com atividade econômica contida exige importações mais altas, que ajudem a compor a oferta de matérias-primas, componentes e de bens de consumo.
Alguns estudos de economistas já explicaram que a situação de desemprego baixo num quadro de atividade econômica relativamente restrita (crescimento de apenas 1,5% ao ano) está, em parte, relacionada a fatores demográficos novos: queda do índice de natalidade e adiamento da entrada no mercado de trabalho, porque é preciso estudar mais e se preparar melhor.
Mas é necessário levar em conta, ainda, que há atividades econômicas também novas no setor de serviços, que passou a empregar mão de obra intensiva, como assistência técnica, call centers e serviços de segurança.
A atual situação de pleno emprego deixa boa pergunta à procura de resposta: o que acontecerá com o nível de emprego no Brasil se a atividade econômica (PIB), em vez do atual 1,5% ao ano, crescer os 3,0% a 4,0%, como conta o governo Dilma?
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