Política
O governo vai às compras - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 28/06O governo decidiu, afinal, dar um passo além das medidas de estímulo ao consumo para desemperrar a economia, mas as novas ações são de alcance muito limitado, como as anteriores. Com dotação prevista de R$ 8,4 bilhões, o PAC Equipamentos - Programa de Compras Governamentais deve beneficiar diretamente indústrias de máquinas agrícolas, veículos, equipamentos médicos, roupas, calçados e material para escolas. Os fabricantes brasileiros terão margem de preferência de até 25% nas concorrências promovidas pela União. O objetivo mais importante continua sendo a aceleração imediata do crescimento. A ação do governo é uma resposta aos sinais de estagnação, evidenciados nos pobres resultados da indústria, no indicador de atividade produzido pelo Banco Central (BC), e também às previsões cada vez mais pessimistas do mercado financeiro. Na pesquisa Focus do dia 15, a mediana das projeções, em queda durante sete semanas consecutivas, ficou em 2,3%. Esse levantamento é conduzido semanalmente pelo BC com cerca de 100 instituições financeiras e escritórios de consultoria. Embora o foco, desta vez, seja o investimento público, o alvo do governo continua sendo o resultado de curto prazo, como se os problemas da indústria fossem essencialmente conjunturais.Os problemas, no entanto, são bem mais graves e será preciso criar muito mais que estímulos de ocasião para fortalecer o setor manufatureiro.Para a indústria, a política de compras governamentais poderá, na melhor hipótese, produzir resultados temporários, sem contribuir, no entanto, para eliminar as desvantagens comparativas da produção nacional. Mas até para propiciar esses ganhos limitados o governo precisará atender a algumas condições práticas. Será necessário, por exemplo, elaborar projetos de investimento. É bem conhecida a incompetência da administração federal nessa área - um detalhe acentuado no último relatório do Tribunal de Contas da União sobre as contas do governo.Se o governo conseguir atuar com eficiência maior que a costumeira, poderá produzir alguns benefícios duradouros em termos de infraestrutura - por exemplo, na construção de estradas, no reforço e na modernização do equipamento de hospitais e na melhora das condições de funcionamento de escolas. Todos esses resultados são bem mais importantes, a médio e a longo prazos, que os efeitos obtidos, até agora, com o estímulo ao consumo e com medidas de curto alcance para alguns setores.Mas é preciso lembrar, mais uma vez, a ineficiência na execução de projetos da maior parte dos Ministérios. No ano passado, como foi acentuado no relatório do TCU, só houve execução satisfatória de 54% das ações classificadas como prioritárias no Orçamento-Geral da União. Para melhorar seu desempenho na realização de investimentos o governo tem defendido a adoção de um regime especial de licitações para as obras do PAC, o mesmo adotado para os projetos da Copa do Mundo. Mas essa é uma solução ilusória. Não contorna a Lei das Licitações, porque os maiores problemas são políticos e gerenciais.Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a maior parte das ações deve ser realizada no segundo semestre deste ano. A pretensão é garantir um crescimento médio superior ao do ano passado - 2,7% - e criar impulso para um avanço bem maior em 2013. Representantes da indústria disseram ter condições de atender à demanda do PAC Equipamentos. Mas os maiores problemas estão do lado do governo.Além dos limites impostos pela baixa capacidade gerencial do setor público, as autoridades terão de levar em conta - e contornar, se isso for possível - as restrições eleitorais. Suas iniciativas poderão ser contestadas, se forem vistas como interferências nas disputas municipais.O ministro anunciou também a redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), usada nos financiamentos do BNDES, de 6% para 5,5%. Resta conferir se isso bastará para incentivar os investimentos privados. Também esse estímulo poderá ter efeito limitado, se as demais desvantagens comparativas, como os impostos e vários outros custos, forem mantidas.
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