Política
O PS é igual ao PSD?
Num momento em que é consensual o aproximar do fim de ciclo político, o rotativismo do poder do PS para o PSD parece ser o passo que se segue. Apenas não sabemos quando. As sondagens já o antevêem, a tradição o assegura e os comentadores o garantem. Não sendo um fenómeno novo, importa ter em conta que o rotativismo é uma tendência típica das democracias consolidadas. Dois partidos hegemónicos, ideologicamente moderados, vão-se revezando no exercício do poder. Tais partidos podem exercer o poder isoladamente ou em coligação e os ciclos políticos podem ser mais ou menos longos, mas regra geral este é o panorama a que se assiste na generalidade das democracias ocidentais. Portugal não tem sido excepção nestes domínios. Desde 1987, com as primeiras maiorias absolutas de Cavaco Silva, o rotativismo tem acontecido sem grande sobressaltos.
Normalmente é associado a este fenómeno a questão da ausência de alternativas na governação, da indiferenciação de políticas que permita ao cidadão escolher racionalmente entre a alternativa A e a alternativa B. Importa sublinhar que, em bom rigor, tal relação de causalidade não é linear, devendo até ter-se uma abordagem distinta quanto aos dois fenómenos. No fundo, uma coisa é o rotativismo e outra coisa diferente é a ausência de diferenciação ideológica. O rotativismo não tem de estar necessariamente associado a uma falta de diferenciação ideológica entre os dois principais partidos que se revezam no poder.
E é precisamente nesta última questão que o caso português se distingue. A falta de diferenciação ideológica entre PS e PSD não é algo apenas de senso comum. Também não se resume a uma peça do argumentário dos restantes partidos quando criticam o “centrão”. Tal falta de diferenciação já foi estudada e comprovada academicamente (André Freire,
Esquerda e Direita na Política Europeia, 2006), encontrando-se assim uma especificidade portuguesa tendo como referência o panorama das mais antigas democracias europeias. As razões para tal especificidade nacional podem ser encontradas, entre outras dimensões, no período de transição para a democracia e nas correntes políticas que integraram desde logo cada uma das forças políticas.
Posto isto, chegamos a uma das questões que mais são colocadas no momento actual: podemos assumir que é indiferente para o país uma maioria PS ou uma maioria PSD. Bem, o rotativismo é uma coisa, a falta de diferenciação ideológica é outra e a não distinção ideológica é ainda outra. Apesar de não serem tantas quanto seria desejável, diria que existem diferenças nas governações PS e PSD (a identificação das mesmas posso guardar para um próximo artigo). Como é evidente, as diversas forças políticas encontram as formas que consideram mais convenientes para se posicionar sobre esta questão. Fazem o seu papel, portanto. O eleitorado também faz o seu ao comprar ou não tais posicionamentos. É o mercado da oferta e procura política e eleitoral no seu melhor.
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Artigo hoje publicado no Esquerda.net
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