O GLOBO - 17/11
COM Alvaro Gabriel e Valéria Maniero (interinos)
A conta é simples: os EUA arrecadam US$ 2,4 trilhões; gastam US$ 3,5 trilhões. Rombo de US$ 1,1 trilhão. Esse é o orçamento do governo americano este ano, com déficit estimado em 7% do PIB. O montante no vermelho é quase duas vezes maior que o PIB de Grécia, Irlanda e Portugal juntos. Não é pequeno o tamanho do impasse entre democratas e republicanos.
As contas estão fora do lugar, mesmo para um Tesouro que emite dólares e faz captações no mercado com juros reais negativos, como o americano. A projeção do FMI é que a dívida pública chegará a 107% do PIB este ano, passará de US$ 15 trilhões. O déficit será maior que US$ 1 trilhão pelo quarto ano seguido. Continuar nessa escalada é insustentável.
Há consenso entre governo e oposição de que é preciso ajustar as contas. As divergências estão na forma de fazer isso. Obama quer cortes em defesa e aumento de impostos para os mais ricos. Os republicanos querem cortar gastos com programas sociais e não aceitam reduzir orçamentos militares.
O que está sendo chamado de abismo fiscal nada mais é do que promover um forte ajuste automático nas contas públicas no ano que vem. Pela projeção do Escritório de Orçamento do Congresso americano (CBO, na sigla em inglês), a arrecadação subiria cerca de US$ 500 bilhões em 2013, indo de US$ 2,4 trilhões para US$ 2,9 trilhões.
A despesa ficaria estável, em US$ 3,5 trilhões. Com isso, o déficit de US$ 1,1 trilhão deste ano seria reduzido para a casa dos US$ 600 bilhões. Cairia de 7% para 4% do PIB. Os ajustes continuariam em 2014 e nos anos seguintes.
Parece bom. O problema é que esse aumento de arrecadação viria, em mais de US$ 400 bilhões, do bolso da classe média, que sustenta o consumo.
Os pacotes de redução de impostos oferecidos pelos governos Bush e Obama, depois da crise de 2008, acabam em dezembro. Se não forem renovados, as famílias terão menos renda para gastar. As empresas vão vender menos e farão menos encomendas à indústria. Os bancos também podem ter problemas com calotes.
Este é o risco, que o tranco seja muito forte e a recuperação fique pelo caminho.
Desconta aqui, paga ali
A necessidade de investimento do setor elétrico é de R$ 25 bi por ano, segundo o consultor João Carlos Mello. Grande parte disso depende da Eletrobras. Com a fuga de investidores privados da empresa - as ações ontem caíram 12% -, cresce a chance de que o governo tenha que fazer aportes no grupo. "O consumidor pagará menos pela luz, mas terá que pagar altos impostos para financiar o governo", disse Mello.
Mais do fóssil, menos do limpo
A Petrobras pode ter de vender ativos para fazer caixa. Está tendo prejuízo com o preço congelado da gasolina. O gráfico mostra como o consumo subiu: em agosto, estava 20% maior do que no mesmo mês de 2011. Já a venda de etanol caiu 20%. A diferença de consumo estre os dois, que já foi de 15 mil barris/dia, agora é de 397 mil. Os subsídios à gasolina estão atrapalhando a Petrobras e estrangulando a indústria do etanol.